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Como agir e o que esperar do governo Bolsonaro

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Jair Bolsonaro será o 38º presidente da República Federativa do Brasil. O país viveu uma tarde-noite de catarse – naturalmente, a maior parte dos cerca de 55%, de acordo com o TSE, que votaram no próximo líder nacional. As ruas se coloriram de manifestações em verde e amarelo, cornetas soaram e fogos iluminaram as orlas.

É para tanto? A comemoração é justa. Sabemos muito bem o quanto lutamos para destronar o império de mediocridade, tirania e corrupção sistêmica do Partido dos Trabalhadores e sua gangue socialista, populista e cleptocrática. Depois de aturá-los, com redobrada paciência, seduzindo os incautos e degradando a dignidade nacional, obtivemos uma primeira grande vitória com o impeachment. Agora, conseguimos impedir que reassumissem o controle do Poder Executivo, derrotando-os por respeitável margem em uma eleição geral.

Pode ser que os historiadores do futuro digam que uma “revolução conservadora”, isto é, uma grande transformação calcada no rechaço da destruição “revolucionária”, no sentido esquerdista e totalizante do termo – e, diga-se, uma “revolução pelo voto”, como Carlos Lacerda chamava a eleição de Jânio Quadros -, se deu no Brasil a partir da penetração de ideias liberais e conservadoras no imaginário nacional, do trabalho de formiguinha que instituições como o nosso Instituto Liberal fizeram e, principalmente, da absoluta saturação a que chegou o estado de coisas da Nova República deteriorada.

Bolsonaro, um candidato sem dinheiro, sem máquina partidária e absolutamente improvável, conquistou o que, em seus sete mandatos como deputado, não era sequer um sonho distante. O Legislativo e os governos estaduais apresentaram renovação maior que a prevista, em especial com a posse de representantes impulsionados pela ascensão das ideias da chamada “Nova Direita” nas mídias alternativas e pela influência pessoal do capitão da reserva, capazes de facilitar a governabilidade e a relação do presidente com os diversos cantos do país.

Porém, depois da festa, que é legítima para os apoiadores do presidente e dos demais candidatos eleitos, a realidade terá de bater à porta. Assim como a “revolução pelo voto” de Jânio Quadros mostrou-se frustrada devido às suas deficiências e à força das limitações e defeitos do sistema político da época, nada está garantido. Um fracasso do governo Bolsonaro põe todas as expectativas positivas a perder.

Sim, expectativas positivas, porque, não custa repetir, elas têm motivos para existir. Já ponderei os defeitos e qualidades da candidatura de Bolsonaro. Posso dizer hoje que seu discurso da vitória foi excelente. O presidente eleito tocou em diversos pontos fundamentais para o resgate da respeitabilidade, da dignidade e das esperanças de prosperidade do Brasil.

O texto, como não poderia deixar de ser, enfatiza o irrestrito respeito aos limites constitucionais, às leis, à democracia representativa e às liberdades individuais. Disse Bolsonaro que sustentará a “liberdade de ir e vir, andar nas ruas em todos os lugares deste país, liberdade de empreender, liberdade política e religiosa, liberdade de fazer, formar e ter opinião, liberdade de escolhas e ser respeitado por elas”. Em suma, as premissas mais sagradas que este Instituto Liberal, que hoje tenho a honra de presidir, tem o dever de defender incondicionalmente.

Prometeu atenção à responsabilidade fiscal, à desburocratização, à redução da máquina do Estado. Reafirmou todas as boas bandeiras liberais que, sobretudo através da figura da equipe econômica de seu provável futuro ministro Paulo Guedes, havia apresentado durante a campanha eleitoral e em seu programa de governo.

Enfatizou ainda a reorientação das relações internacionais, citando especificamente o Itamaraty e sinalizando para o abandono do viés ideológico, que vinculava o Brasil em especial a ditaduras africanas e socialistas latino-americanas. Líderes internacionais que tendem a construir relações mais íntimas (e alvissareiras) com o governo Bolsonaro, como o presidente americano Donald Trump e o italiano Matteo Salvini, já o parabenizaram – da mesma forma que a Venezuela de Maduro, que, no entanto, fez uma cobrança por uma retomada de boas relações supostamente perdidas, quando a primeira atitude que o tiranete deveria tomar seria respeitar o seu próprio povo.

Um detalhe, porém, chamou a atenção muito particularmente: o apelo à reforma da Federação. Essa era uma pauta cara à UDN de Carlos Lacerda, que defendeu essa bandeira durante toda a sua carreira política. É provável que um presidente nunca tenha feito um aceno tão enfático a ela em seu discurso de vitória desde a ditadura Vargas. Disse Bolsonaro: “o governo respeitará de verdade a Federação. As pessoas vivem nos municípios, portanto os recursos irão para os estados e municípios. Colocaremos de pé a Federação brasileira. Nesse sentido, repetimos que precisamos de mais Brasil e menos Brasília”. Depois de acabar com o imposto sindical, outra excrescência do varguismo, podemos ter no governo Bolsonaro mais essa vitória histórica de fortalecer o localismo. Essa seria uma das mais relevantes entre várias reformas estruturais fundamentais que Bolsonaro sinaliza realizar.

Diante disso, como acredito que devemos agir? Em primeiro lugar, aqueles que porventura manifestam rejeições de ordem estética ao presidente eleito deveriam compreender o ineditismo do conjunto programático apresentado por ele. É indiscutível que a agenda é uma autêntica agenda privatizante, descentralizadora, acompanhada de um compromisso com as liberdades políticas e individuais que a Constituição, com todos os seus defeitos, garante. Não há motivo para não apoiar essas medidas e esses aspectos do programa.

Desde que, naturalmente, as atitudes condigam com as palavras. Nesse sentido, nossa atitude tem de ser a mesma que deve existir para com qualquer político. Político não se cultua, não se idolatra, se cobra e fiscaliza. Bolsonaro certamente vai errar. Quando acertar, apoiemos. Quando errar, questionemos, critiquemos, deixemos clara a nossa posição. Exerçamos as liberdades que não admitiremos sejam aviltadas.

Mesmo assim, sobretudo, saibamos fazer oposição ao que estiver errado com inteligência. Faço esse alerta porque o lulopetismo e a extrema esquerda tentarão transformar o governo Bolsonaro em um Inferno. A governabilidade hoje tem boas perspectivas, mas haverá sempre dificuldades e, mesmo que Bolsonaro colecione mais acertos do que erros, eles tentarão atrapalhar e farão um grande escarcéu a respeito de detalhes, quiçá detalhes meramente retóricos, como sempre fazem, para impedir transformações que ameacem seus projetos de poder.

Não adianta também eleger Bolsonaro e largá-lo sozinho. Se, e somente se, ele seguir demonstrando sincera disposição por levar adiante os aspectos salutares de sua agenda, ele precisará do nosso apoio para defendê-los, para apoiar seus esforços, quando os destrutivos e sistemáticos esquerdistas atuarem para detê-lo, e eles o farão. A luta está apenas começando. Saibamos o lugar que compete a cada um de nós no encalço dos nossos melhores propósitos.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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