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Vladimir Putin: o Czar de todas as Rússias

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Como todo mundo sabe, “czar” não é palavra de origem russa nem eslava. Vem do latim Caesar. Originalmente, nome do imperador Julius Caesar, mas posteriormente sinônimo de imperador, pelo qual foram chamados os 12 césares romanos.

De caesar derivaram as palavras Kaiser em alemão e czar ou tzar em russo. A expressão “czar de todas as Rússias” era um título conferido ao soberano absoluto de todas as Rússias, ou seja: a Rússia (Rossia) propriamente dita, a Bielorrossia (Rússia Branca) e a Ucrânia (também conhecida como Pequena Rússia).

Vladimir_PutinPor sua vez, o nome de Putin é o mesmo daquele que ganhou o nome de guerra ‘Lênin’: Vladimir Ilitch Ulianov. E só para contrariar o perfil belicoso de ambos, Vladmir em russo quer dizer: “príncipe da paz”.

Quanto ao sobrenome Putin, eu nunca tinha ouvido falar. Só conhecia o sobrenome Rasputin pertencente ao curandeiro da corte do último czar de todas as Rússias: Nikolai Aleksandrovich Romanov, Nicolau II.

Este mesmo foi executado com toda a sua família pelos bolchevistas, membros da ala da maioria (bolckevik) do Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS no alfabeto latino e CCCP – ou seja: SSSR, no alfabeto cirílico).

União esta da qual Rússia, Bielorrússia e Ucrânia passaram a fazer parte após a Revolução Russa de 1917.

Como todo mundo sabe, a URSS caiu como um castelo de cartas em 1991, coisa que ninguém esperava, a menos que houvesse uma sangrenta revolução, coisa pouco provável num Estado fortemente armado com uma população civil desarmada desde o desarmamento feito por Lênin.

[Serve de advertência para países em que seus governantes fazem plebiscitos na esperança da população civil ficar desarmada, apesar dos bandidos continuarem armados.]

Marx, o profeta caolho, achava que o sistema capitalista se dissolveria em virtude de suas próprias “contradições internas”. Ele atirou no que viu, mas acertou no que não viu…

Até agora o capitalismo tem superado todas as suas crises, como a Grande Depressão de 1929 e dos anos 30. Quem caiu de podre foi justamente o primeiro país a adotar as ideias de Marx.

Além disso, contradição (contradictio em latim) é algo que só existe no domínio da linguagem, como já advertia o filósofo e economista Eugen Dühring, contemporâneo de Marx e Engels, e como reafirmaria mais tarde o filósofo Ludwig Wittgenstein.

Só pode se contradizer quem pode falar e dizer e, ao que consta, a realidade não fala nem diz coisa nenhuma. O que há na realidade é conflito, atrito, fricção, etc.

Com a morte de Leonid Brejnev, aquele que chamou adequadamente Margaret Thatcher de The Iron Lady, assumiu Andropov, mas não por muito tempo. Já estava muito doente e a morte o levou. Seu sucessor foi Mikhail Gorbachov.

Casado com Raissa Gorbachova, formada em Filosofia, Gorbachov era um homem bem preparado para a arte de governar. Nunca deixou de ser comunista e nunca propôs uma mudança radical de regime.

Era um conservador esclarecido que percebeu a necessidade de reformas na União Soviética e as enfeixou com os nomes de Glasnost (transparência) e Perestroika (reestruturação).

Mesmo assim, quando visitou o Brasil, foi recebido por dois estalinistas portando uma faixa dizendo em português e em russo: “Fora Gorbachov traidor”. Eta país retrógrado!

Apesar de suas ótimas intenções, essas reformas chegaram tarde demais. E Gorbachov acabou sendo deposto. Seguiu-se um curto período de instabilidade e incerteza quanto aos rumos da União Soviética.

Até o momento em que Boris Vodkavich (Filho da Vodka) Yeltsin assumiu o poder. Para o espanto dos melhores analistas políticos – inclusive os do governo dos Estados Unidos que apoiava o reformista Gorbachov – Yeltsin era um destemperado, um libertário radical numa conjuntura exigindo muita cautela e moderação.

A União Soviética se desfez e as repúblicas daquela pseudoconfederação de nações – denominada por Reagan, inspirado em Darth Vader, de “O Império do Mal” – tornaram-se repúblicas independentes, ao menos no papel. E como se sabe, o papel aceita tudo!

Com a KGB (Polícia Secreta Soviética) extinta, seus membros perderam seus empregos e passaram a se dedicar a negócios ilícitos formando poderosas quadrilhas. A Rússia não era mais um país comunista e ainda não era um país capitalista. Estava no limbo.

De qualquer maneira, surgiram grandes monopólios privados. Tanto é assim que a Forbes, numa recente pesquisa, mostra que há mais bilionários em Moscou do que em Nova Iorque. Mas quem seria capaz de prever isso na década de 90 do recente século passado?!

Não obstante isso, a renda per capita dos nova-iorquinos e dos americanos é muito maior do que a dos moscovitas e a dos russos.

De um ponto de vista estritamente histórico, o último czar de todas as Rússias e rei da Polônia foi Nicolau II.

Para quem acha que o sovietismo foi uma continuidade do czarismo, o último czar foi Leonid Brejnev. Mas para quem acha que as coisas têm que mudar para que continuem as mesmas, o mais recente czar é Vladimir Putin.

Um colega meu, professor de História, costumava sempre dizer: “o Iluminismo nunca atravessou a fronteira da Alemanha com a Polônia”. E se não chegou até a Polônia, como poderia chegar até a Rússia?

A esta altura, os leitores já começaram a compreender o significado do sarcástico título deste artigo sugerindo uma comparação entre Nicolau II, Brejnev e Putin.

Este último tem se revezado no poder com Dmitri Medvedev, seu poodle. Nos primeiros tempos, tudo indicava que ele assumiria um isolacionismo, voltado unicamente para os problemas internos da Rússia, que não eram poucos.

Essa ideia, no entanto, começou a se dissolver quando ele reprimiu ferozmente o movimento separacionista da Chechênia e agora se desfez completamente com a ocupação militar da Criméia, uma grande península da Ucrânia onde a Rússia possui bases militares, a maior e mais importante delas em Sebastopol.

Como os czares russos e os líderes do antigo Império Soviético, Putin tem colocado suas garras de fora. Não nos esqueçamos das revoltas na Hungria e na antiga Tchecoslováquia, reprimidas duramente pelos tanques soviéticos, assim como a guerra do Afeganistão, chamada equivocadamente de “Vietnã da Rússia”.

Quanto à Ucrânia, é um país pobre, porém bastante atraente por possuir as terras mais férteis do mundo e ser grande produtor de trigo e cereais em geral, razão pela qual Stalin roubou toda sua comida, deixando milhões de pessoas morrerem de fome, literalmente.

Não bastasse isso, foi invadida por Hitler com propósitos estratégicos e também para abastecer de comida as tropas nazistas, e outros tantos milhões morreram de fome e vítimas das atrocidades do Terceiro Reich.

Porém o imperialismo do czar Putin vai muito além da Chechênia e da Ucrânia. Ficamos simplesmente estarrecidos ao ler o pequeno, porém excelente, artigo de Leonardo Coutinho em Veja, ano 47, n.o 11, p.73.

O referido autor começa dizendo que o expansionismo de Putin não se limita aos países em volta da Rússia, mas também “tem planos para o quintal dos Estados Unidos”.

Discordamos somente da expressão difamatória “quintal”, pois os Estados Unidos tem áreas de influência econômica, não “quintais”. Mas Coutinho afirmou isso tendo em vista que há duas semanas o Kremlin noticiou a existência de uma negociação para a instalação de bases militares em Cuba, na Nicarágua e na Venezuela.

Supondo que isso seja verdade – e que Putin não esteja blefando apenas como uma demonstração de força imperial – a coisa é muito grave! O novo czar estaria revivendo os insaudosos tempos da guerra fria em que Khruschev instalou, de fato, mísseis em Cuba apontados para o território americano.

E o século XX viveu seu maior episódio de tensão sob a ameaça de uma guerra atômica. Felizmente, graças à habilidade diplomática de Kennedy e MacNamara, Khruschev acabou retirando os mísseis de território cubano e o mundo respirou aliviado.

Lembro-me bem que, durante esse episódio alarmante, o irresponsável Fidel Castro faz uma declaração assustadora. Disse ele que não importaria se Cuba fosse varrida do mapa, contanto que levasse com ela El Monstruo, i.e. os Estados Unidos.

Seu ódio dos americanos era muito maior do que o amor ao seu próprio povo, assim como os ódios de Chávez, de Evo Morales, Rafael Correa et caterva. Mas Coutinho fez outra afirmação bastante contundente:

“Para garantir esse plano, Putin tornou-se fiador do regime chavista. Entre 2005 e 2012 o presidente venezuelano (…) contraiu uma dívida de 12 bilhões de dólares com a Rússia, por meio de uma grande compra de armas, helicópteros e aviões de combate. Putin jamais cobrou um centavo”. – um ato de filantropia?!

Na realidade, Putin estava fazendo um investimento, em médio ou longo prazo, de caráter estratégico militar. Além disso, se ele resolvesse cobrar, levaria a Venezuela à bancarrota.

Não importa o fato de a Venezuela dispor da maior reserva petrolífera do mundo, afirma Coutinho, pois Chávez e Maduro acabaram com as reservas internacionais reduzindo-as em 29% em três anos. [Deviam ser julgados por crime de lesa-pátria, como outros governantes sul-americanos que dilapidam o tesouro nacional…].

[Nunca fui adepto de teorias conspiracionistas, mas se é verdade o que diz Leonardo Coutinho, sou levado a vislumbrar um grande arco de alianças do comunismo internacional: Putin, Chávez, irmãos Castro, Ortega, Correa, as FARC colombianas, Evo Morales, Cristina Kirchner, Lula, o PT-CUT (o único partido-sindicato do mundo), o MST, etc.

Reconheço que alguns elos desse grande arco precisam ser mais explicitados, mas careço de espaço para fazer tal coisa. De minha parte, estou convencido e espero ter ao menos levantado a suspeita de meus leitores].

Quando Chávez contraiu um câncer, fez a proposta de se tratar no Brasil. Mas suas exigências eram tão extravagantes que nem mesmo o camarada Lula aceitou. Chávez optou então pela eutanásia positiva: foi se tratar em Cuba sob os cuidados da avançadíssima medicina cubana.

Para mim, isto mostrou claramente que ele era um esquerdopata colocando sua ideologia acima de sua própria vida. O que diz Leonardo Coutinho só reforça a ideia de uma patologia tão grave que afeta até mesmo o mais elementar bom senso.

“Dos 21 bilhões de dólares que o governo diz ter em caixa, 70% estão imobilizados por causa de decisões tomadas seguindo um compasso ideológico, em vez de técnico”.

“Isso começou com Chávez vendendo títulos da dívida americana, que compunham 40% das reservas da Venezuela, e substituindo-os por papéis de Cuba, Bolívia, Nicarágua, Equador e Argentina” [Por que não os papéis do Chile e do México?! Ah! Esses países não fazem parte do bolivarianismo, mas sim da promissora Aliança do Pacífico].

Fica caracterizado, portanto, que Chávez lidava com assuntos estritamente macroeconômicos movido à ideologia esquerdista, pois trocou papéis dignos de crédito da maior potência capitalista do mundo por papéis podres de países de economia instável e não confiável. E isto somente porque são países aliados do bolivarianismo. Uau! Vá ser ideológico assim em Quixeramobim!

Mas a coisa é pior ainda: “Esses papéis depreciaram e, pela lei venezuelana, não podem ser vendidos enquanto não recuperarem seu valor original”, coisa esta que não é impossível, porém muito pouco provável de acontecer, supondo que esses países continuem seguindo o caminho que estão trilhando.

Proudhon estava mesmo certo: “O comunismo é a filosofia da miséria”.

Quanto aos “outros 30% das reservas, lastreados em ouro, estão hipotecados como garantia de parte de um empréstimo de 40 bilhões de dólares concedido pela China. Sobraram apenas 6 bilhões de dólares”.

Diante dessa situação extremamente dramática, Leonardo Coutinho conclui dizendo que a Venezuela só não foi à bancarrota graças à “generosidade” de Putin. Diríamos nós: graças à estratégia comunista internacional do czar de todas as Rússias.

Sabe o que Chávez, antes de morrer, disse para Dilma? “Yo soy usted mañana, hermanita!”

imagem: Wikipédia

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Mario Guerreiro

Mario Guerreiro

Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.

Um comentário em “Vladimir Putin: o Czar de todas as Rússias

  • Leonardo Corrêa
    12/03/2014 em 9:58 am
    Permalink

    Vladimir Putin não é bobo. Está jogando “Guerra Fria” e o resto do mundo ocidental brincando de direito internacional. Pena que ele seja o único Líder – com “L” maiúsculo mesmo – no cenário político global. Pensam em dinheiro, ele pensa em poder. É um sujeito que não titubeará um segundo em divagações sobre as conseqüências que sua sanha pelo poder absoluto poderá causar ao povo Russo. Na melhor das hipóteses, voltaremos a pesar a política internacional com, pelo menos, algum tempero da Guerra Fria. Isso, por si só, já é uma batia vitória de Putin sobre a chamada “Western Civilization”.

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