“Vítimas do sistema”: o que está por trás desse discurso?
Eduardo Brito*
Quando, em um debate ou discussão informal, alguém lhe disser que a culpa pela violência existente é do “sistema”, da “sociedade”, do “capitalismo” ou qualquer outra expressão que denote que a causa dessa violência é algo que afeta o criminoso de fora para dentro, saiba que você está lidando ou com um completo ignorante (aqui não no sentido puramente pejorativo e insultuoso da palavra, mas sim para designar alguém que ignora o assunto em questão) ou com um cínico.
Antes que algum leitor deste texto se ofenda por se enquadrar em uma das hipóteses acima – ou quem sabe nas duas -, peço que deixe a afetação de sensibilidade de lado e acompanhe o raciocínio.
Um sujeito, ao dizer que a violência é causada pelo “sistema” ou, ainda pior, pela própria sociedade, ele está categoricamente afirmando que – fazendo coro com Rousseau – o homem é bom por natureza e que o estado deficiente de coisas desvirtuam esse bondoso e bem intencionado indivíduo, levando-o a cometer crimes; crimes pelos quais ele está moralmente inocentado, pois, afinal de contas, ele foi apenas uma vítima do sistema, da sociedade. Portanto, a responsabilidade pelos seus atos recairá sempre sobre o sistema, sobre a sociedade.
O grande problema desse pensamento é que ele desconsidera um dado absolutamente óbvio: há homens que são maus por natureza. A maldade é inerente ao ser humano, não sendo razoável conceber que ela seja uma produção externa, enquanto o seu contraponto – a bondade – seja uma produção interna.
A maldade, a vileza, o ódio e a crueldade existem desde os tempos mais primórdios e vão continuar existindo, não importa o que se faça. Não que a violência generalizada e o caos sejam inevitáveis. A solução para isso é uma aplicação rigorosa da lei, de forma que o temor a ela seja fator coibidor do crime. Não sendo suficiente para a coibição do crime, que se puna exemplarmente e o criminoso pague pelos seus atos. Qualquer alternativa a isso do estilo “reeducação” ou “reinserção na sociedade” não passa de empulhação esquerdista.
O que acontece é que as pessoas que defendem a tese de que o bandido não é mau por que simplesmente é, mas sim porque as condições em que ele se encontra não lhe dão outra escolha, contribuem – em maior ou menor grau, consciente ou inconscientemente – para o projeto de poder da esquerda, que se baseia, em grande parte, em vender soluções fantasiosas e inatingíveis. Para colocar em prática tais soluções, a esquerda precisaria ter o controle do governo e das instituições, podendo, assim, transformar o sistema que supostamente é o causador de todos os problemas, de toda a violência, de toda a injustiça. Aceitar que a maldade seja inerente ao ser humano e isentar o sistema de qualquer culpa faz com que o sentido de obter o controle do governo e das instituições perca em grande parte o sentido (sugiro a leitura do artigo “The MindsetoftheLeft” do economista americano Thomas Sowell – http://townhall.com/columnists/thomassowell/2013/07/02/the-mindset-of-the-left-n1631804/page/full).
Não há palavras para descrever a vigarice de quem defende que todos esses males se extinguirão com o advento de um “sistema perfeito” em que haverá “igualdade”, “justiça social”, e, portanto, nenhum homem será levado a cometer atos de violência. A história nos mostra que a suposta tentativa de destruir o sistema capitalista opressor e causador de tantos males espalhou a miséria e ceifou a vida de milhões de pessoas no século XX; o mundo nunca havia presenciado um morticínio tão monstruoso e em um período de tempo tão curto.
Ao se deparar com um militante socialista passando a mão na cabeça de uma “vítima da sociedade” e dizendo que o sistema capitalista deve ser derrubado para que tenhamos uma sociedade mais justa ou qualquer coisa do tipo, a única opção que resta a uma pessoa minimamente informada e decente é mostra-lhe o que esse pensamento já causou à humanidade. Mais de 100 mil mortos em Cuba, mais de 20 milhões na União Soviética, mais de 70 milhões na China; esse é o saldo da tentativa de imposição de uma ideologia que pretende criar uma sociedade perfeita e incorruptível, igualitária e com justiça social.
*Eduardo Britto é graduando do curso de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)