Thomas Malthus Não Morreu. Ou: Insustentável é a Pobreza
O movimento pela “sustentabilidade” é composto por muitas pessoas que cometem o delito clássico contra boa economia: assumem que não existe nada exceto aquilo que é imediatamente visível ao olhar destreinado. (Don Boudreaux)
Com a ascensão de Marina Silva nas pesquisas, a sustentabilidade voltou à moda. Marina é apologista do chamado desenvolvimento sustentável. Seu partido (ainda sem registro definitivo) chama-se “Rede Sustentabilidade” e seu programa de governo recentemente divulgado gasta várias páginas com o tema. Nada mais oportuno, portanto, que voltemos ao assunto.
Segundo o Relatório de Brundtland (1987), o desenvolvimento sustentável é concebido como:
“o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.” |
O mesmo relatório sugere uma série de medidas que deveriam ser tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas, as seguintes:
- limitação do crescimento populacional;
- garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo;
- diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis;
- aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas;
A teoria da sustentabilidade tem lá o seu sopro de lógica. Se os recursos naturais são finitos, devemos utilizá-los com parcimônia a fim de que as gerações futuras não fiquem prejudicadas, seja pelo esgotamento de alguns recursos, seja pela poluição desenfreada do meio ambiente. O problema é que essa é uma visão estática e bastante limitada do problema, bem como das soluções propostas, como veremos adiante.
O controle do crescimento populacional é a receita padrão para um desenvolvimento sustentável. E erra quem pensa que se trata de algo novo. No início do Século XIX, quando a Terra ainda era habitada por apenas 1 bilhão de pessoas, Thomas Malthus previu que a população mundial se multiplicaria em proporções geométricas, enquanto a produção de alimentos aumentaria em padrões aritméticos. “A morte prematura visitará a humanidade em breve, que sucumbirá em face da escassez de alimentos, das epidemias, das pestes e de outras pragas”, disse ele num de seus mais duros e apocalípticos discursos.
Malthus não estava de todo errado. Metade de sua previsão provou-se verdadeira e, atualmente, vivem no mundo sete vezes mais seres humanos que na sua época. Na outra metade de seu vaticínio, entretanto, o Reverendo Malthus errou totalmente. Depois da Revolução Industrial e do advento do capitalismo, a humanidade progrediu de maneira excepcional, aprendeu a explorar os recursos naturais de forma muito mais eficiente, a produzir alimentos e distribuí-los como nunca antes na História. De acordo com dados recentes da FAO, o percentual de subnutridos nos países em desenvolvimento, em relação ao total da população, vem apresentando uma firme tendência declinante, tendo baixado de 33% em 1970 para 16% em 2004. Tudo isso graças à crescente mecanização do campo e à utilização cada vez maior de fertilizantes químicos modernos, bem como a disseminação das sementes geneticamente modificadas.
Em relação aos recursos naturais não renováveis, ao contrário do que sustentam os “malthusianos”, mesmo com todo o progresso econômico havido nos últimos duzentos anos – e graças ao extraordinário avanço tecnológico -, as reservas provadas de petróleo, minério de ferro, carvão e muitos outros recursos só fizeram aumentar.
Apesar de todas as evidências em contrário, entretanto, os adeptos da teoria malthusiana não esmorecem. Em 1968, por exemplo, quando a população mundial era de 3,5 bilhões, o afamado ecologista Paul Ehrlich, um emérito colecionador de prêmios e comendas científicas, escreveu um livro (The Population Bomb) onde previu que, como resultado da superpopulação, centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nas próximas décadas. No primeiro Earth Day, em 1970, ele diagnosticou que “em dez anos, toda a vida animal marinha estará extinta. Grandes áreas costeiras terão que ser evacuadas por causa do mau cheiro dos peixes mortos.” Em um discurso de 1971, ele previu que “até o ano de 2000 o Reino Unido será simplesmente um pequeno grupo de ilhas empobrecidas, habitadas por cerca de 70 milhões de famintos.”
De lá para cá, a população mundial quase dobrou, e, embora ainda haja problemas sociais graves a resolver, principalmente ligados à pobreza, as previsões alarmistas de Ehrlich jamais se concretizaram. Pelo contrário, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza tem diminuído bastante, desde 1970.
Quanto à preservação dos recursos naturais e energéticos, o problema também está na visão estática. O petróleo, para começar pelo exemplo mais óbvio, está presente sob os nossos pés há milhões de anos, mas seu aproveitamento econômico teve início somente durante a segunda metade do Século XIX. O alumínio, o rádio e o urânio, por seu turno, só tiveram serventia ao ser humano de cem anos para cá. Já o emprego industrial das fibras de carbono e do silício aconteceu apenas nas últimas décadas.
A sustentabilidade, como bem resumiu George Reisman no livro “Capitalism”, está vinculada não só ao descobrimento de utilidades para elementos que previamente não possuíam qualquer aplicação prática, ou de novas serventias para aqueles que já possuíam usos conhecidos. Ela se dá também, senão principalmente, pelos avanços que facilitam o nosso acesso a estes elementos – por exemplo, escavando minas e poços mais profundos (vide o petróleo do pré-sal), movendo maiores massas de terra com menos esforço, decompondo compostos que antes pareciam imprestáveis, alcançando regiões da terra previamente inacessíveis ou facilitando o acesso a regiões inóspitas. Graças a tais progressos, a quantidade de recursos naturais economicamente aproveitáveis é, hoje em dia, incomparavelmente maior do que era no início da Revolução Industrial.
Praticamente não existem limites para os avanços futuros. O hidrogênio, elemento mais abundante na natureza, pode converter-se, brevemente, em fonte de energia economicamente viável e limpa. Além disso, a energia atômica, os raios laser e os sistemas de detecção por satélites, entre outras tecnologias de ponta, abrem novas e ilimitadas possibilidades de incrementar a oferta de recursos naturais. O que precisamos é descobrir como utilizá-los, reduzir os custos de sua extração e evitar ao máximo agredir o meio ambiente em volta.
O problema da “redução do uso de energia”, especialmente do petróleo e seus derivados, é que esta redução, caso levada a efeito, prejudicaria principalmente os mais pobres, que seriam impedidos de utilizar a fonte de energia mais eficiente e barata que existe.
Como bem colocou Roger Pielke, em artigo no “Financial Times”, “Se quisermos reduzir as emissões sem condenar vastas áreas da humanidade à pobreza eterna, teremos de desenvolver tecnologias de energia de baixo custo e baixo teor de carbono que sejam apropriadas tanto aos EUA quanto à Bulgária, Nigéria ou Paquistão. Mas isto implicará sacrifício; exigirá investimentos de recursos significativos ao longo de muitas décadas. Até que estas tecnologias sejam trazidas à fruição, devemos trabalhar com o que temos. No mundo rico escolhemos crescimento econômico. É cruelmente hipócrita que nós tentemos impedir que os países pobres cresçam também. Se formos realmente forçados a nos adaptar a um planeta com clima menos hospitaleiro, os pobres, no mínimo, devem enfrentar o desafio com as mesmas vantagens de que hoje dispõem os ricos.”
Ora, se os seres humanos consomem hidrocarbonetos, é porque eles nos garantem níveis de prosperidade, conforto e mobilidade como nenhum outro combustível. A energia deles obtida melhora nossa saúde, reduz a pobreza, permite uma vida mais longa, segura e melhor. Ademais, o petróleo não no fornece somente energia, mas também plásticos, fibras sintéticas, asfalto, lubrificantes, tintas e uma infinidade de outros produtos.
“O petróleo talvez seja a mais flexível substância jamais descoberta,” escreveu Robert Bryce em “Power Hungry”, um livro iconoclástico sobre energia. “O petróleo”, diz ele, “mais do que qualquer outra substância, ajudou a encurtar distâncias. Graças à sua alta densidade energética, ele é o combustível quase perfeito para a utilização em todos os tipos de veículos, de barcos a aviões, de carros a motocicletas. Não importa se medido por peso ou volume, o petróleo refinado produz mais energia do que praticamente qualquer outra substância comumente disponível na natureza. Essa energia é, além de tudo, fácil de manusear, relativamente barata e limpa”. Caso o petróleo não existisse, brinca Bryce, “teríamos que inventá-lo”.
Algum dia, no futuro, haverá fontes de energia tão ou mais abundantes, eficientes, limpas e economicamente viáveis que os hidrocarbonetos. Em termos de rendimento econômico e ambiental, essas novas fontes deverão produzir o máximo de energia, em escala sustentável e, principalmente, no menor espaço possível, já que uma das maiores carências da humanidade é a terra utilizável. Quanto mais terras nós ocupamos para produzir energia, menos espaço teremos para as florestas, a agricultura e a pecuária. Mas esta revolução energética parece ainda distante. O fato é que as ditas “energias verdes”, meninas dos olhos de ambientalistas – solar, eólica e biocombustíveis -, além de estarem bem longe de uma escala sustentável, precisam de grandes espaços para que sejam minimamente viáveis.
Em resumo, os combustíveis fósseis têm sido uma grande benção, não só para a humanidade, mas principalmente para o meio-ambiente. Foi graças a eles, por exemplo, que o óleo de baleia e a madeira deixaram de ser utilizados como combustível, seja para iluminação, para aquecer as residências ou para fazer mover os veículos. O que os ambientalistas muitas vezes insistem em não enxergar é que, sem o petróleo, o gás e o carvão mineral, provavelmente teríamos hoje muito menos baleias, florestas e parques.
Josuel está certíssimo. O eco-terrorismo é mais um totalitarismo.
Esse assunto dá uma bela discussão.
Sem dúvidas há excesso por parte dos chamados militantes ambientalistas. Quem atua no Setor Elétrico Brasileiro, por exemplo, assistiu nas últimas décadas campanhas equivocadas contra as hidrelétricas, que resultaram na situação que temos hoje: energia mais cara, maior risco de desabastecimento, maior poluição e emissão de gases de efeito estufa pelas térmicas. Por outro lado, apostar que não precisamos ter nenhum cuidado, já que os avanços tecnológicos sempre darão conta de resolver nossos problemas é uma postura, no meu entender, irresponsável. Há um meio termo…A propósito, será que o controle da natalidade implantado pela China não foi um dos responsáveis por seu recente desenvolvimento?
Esta conversa sobre sustentabilidade tem um motivo sinistro: incutir medo nas pessoas e com isto aumentar o poder do estado bem como restringir as liberdades individuais.
Houve que dissesse: “A idade da pedra acabou não por falta de pedra, mas sim porque a humanidade inventou outras formas de viver”.