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Thomas Edison e o medo do novo

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Grandes espíritos sempre encontraram violenta oposição dos medíocres.  Albert Einstein

Thomas Edison (1847-1931) é considerado por muitos como um dos maiores inventores e inovadores que o mundo já conheceu.  Para se ter uma ideia, Edison chegou a ter mais de mil patentes registradas em seu nome, apenas nos Estados Unidos, entre elas a lâmpada incandescente, o sistema de distribuição de energia elétrica e o gramofone, entre muitas outras.  Além disso, foi um empreendedor dinâmico e obstinado, tendo tirado bons lucros de seu profícuo trabalho.  Suas invenções e inovações são, sem qualquer sombra de dúvida, um enorme legado para a humanidade.

Mas não pense o leitor que o caminho de Thomas Edison foi sempre tranqüilo.  Até mesmo um gênio como ele teve de enfrentar a ira daqueles que, em nome da manutenção do “status quo”, insistiam em bloquear os avanços não apenas institucionais, mas até os científicos e tecnológicos.  Vejam, por exemplo, este estridente editorial, de 1878 – na verdade uma grande diatribe contra Edison e sua mais recente invenção (o aerofone, algo similar aos rádios transmissores portáteis, predecessores dos modernos telefones celulares) -, do então ainda conservador The New York Times. [as observações entre colchetes são minhas].

Algo deveria ser feito com o Sr. EDISON, e há uma convicção crescente de que é melhor ser feito com uma corda de cânhamo [talvez uma sugestão de que ele devesse ser preso ou enforcado]. O Sr. EDISON inventou muitas coisas, e, quase sem exceção, são coisas de caráter o mais deletério. Ele é viciado em eletricidade há muitos anos e, não há muito tempo, ele tornou-se notório por ter descoberto uma nova força, embora desde então a mantenha cuidadosamente escondida [pura especulação para fazer de Edison um mito do mal]… Recentemente, ele inventou o fonógrafo [espécie de gravador de sons], uma máquina que capta o mais leve sussurro de conversa e a armazena, para que em qualquer momento futuro possa ser trazida a público, para pânico do falante original. Esta máquina acabará por destruir toda a confiança entre os homens… Nenhum homem poderá sentir certeza de que, onde quer que ele esteja, não haverá um fonógrafo escondido, sem remorsos, reunindo suas observações e pronto para reproduzi-las em alguma data futura. Quem estará disposto, mesmo no seio de sua família, a expressar qualquer opinião, mesmo que sejam opiniões inócuas e incolores..? Como já foi dito, embora com exagero poético, em tempos de hostilidade até as paredes terão ouvidos.

(…)

O fonógrafo era, na época de sua invenção, o exemplo mais terrível de engenho depravado que o mundo já tinha visto; Mas o Sr. EDISON, desde então, atingiu um pico ainda mais conspícuo da infâmia científica ao inventar o aerofone..- um instrumento muito mais devastador em seus efeitos e preocupante para a destruição da sociedade humana.

(…)

O resultado será a completa desorganização da sociedade. Homens e mulheres vão fugir da civilização e procurar, no silêncio do relevo floresta, alívio para o rugido dos aerofones. Negócios, casamento e todos os divertimentos sociais serão lançados de lado, exceto por homens totalmente surdos, e a América retroagirá à idade da pedra com rapidez assustadora. Melhor é um jantar de nabos crus em uma caverna úmida do que um banquete no DELMONICO perante a audiência de dez mil aerofones. Muito melhor é morrer de fome na solidão do que possuir todos os luxos da civilização ao preço de ouvir cada observação que é feita dentro de um raio de quatro quilômetros. Pode ser tarde demais para suprimir o aerofone agora, mas ainda é tempo de jogar sobre a cabeça de seu inventor a justa indignação de seus compatriotas.

Quem tiver interesse, nem que seja antropológico, sugiro a leitura integral do referido editorial.  Como documento histórico, é, no mínimo, esclarecedor, além de, evidentemente, muito engraçado.  Mas também não deixa de ser um exemplo clássico da complicadíssima relação entre os conservadores e as mudanças.  A propósito, não dá para não lembrar de Hayek, especialmente das seguintes passagens de seu famoso ensaio “Por que não sou conservador”:

Como muitas vezes os escritores conservadores reconheceram, uma das principais características da atitude conservadora é o medo da mudança, uma desconfiança tímida em relação ao novo enquanto tal, ao passo que a posição liberal se baseia na coragem e na confiança, na disposição de permitir que as transformações sigam seu curso, mesmo quando não podemos prever aonde nos levarão. Não haveria por que contestar os conservadores se eles simplesmente não gostassem de mudanças muito rápidas nas instituições e na política de governo; de fato, neste caso, justifica-se o cuidado e o lento progresso. Mas os conservadores tendem a utilizar os poderes do governo para impedir as mudanças ou limitar seu âmbito àquilo que agrada às mentes mais tímidas. Ao contemplar o futuro, carecem de fé nas forças espontâneas de ajustamento, que levam os liberais a aceitar mudanças sem apreensão, mesmo sem saber como as adaptações necessárias se efetivarão. (…) O conservador só se sente seguro e satisfeito quando tem a garantia de que alguma sabedoria superior observa e supervisiona as mudanças, somente quando sabe que já uma autoridade encarregada de verificar que elas se deem dentro da “ordem”.

(…)

Pessoalmente, acho que o aspecto mais reprovável da atitude conservadora é sua tendência a rejeitar novos conhecimentos, ainda que bem fundamentados, porque desaprova algumas das conseqüências que aparentemente decorrem deles – ou, mais francamente, seu obscurantismo. Não nego que os cientistas, como qualquer pessoa, são dados a modismos e excentricidades e que devemos ser cautelosos em aceitar as conclusões às quais nos levam suas teorias mais recentes. Mas os motivos de nossa relutância precisam ser racionais e não devem ser condicionados pela consternação que sentimos quando as novas teorias abalam nossas mais caras convicções. Sou pouco paciente com os que se opõem, por exemplo, à teoria da evolução ou às chamadas explicações “mecanicistas” dos fenômenos da vida, simplesmente por causa de algumas conseqüências morais que, a princípio, parecem decorrer dessas teorias, e ainda menos paciente com os que consideram irreverente e ímpio indagar a respeito de certas questões. Ao recusar-se a enfrentar os fatos, o conservador contribui para enfraquecer sua própria posição. Freqüentemente, as conclusões que a mentalidade racionalista tira das novas interpretações científicas de modo algum decorrem delas. Contudo, somente se tomarmos parte da avaliação das conseqüências das novas descobertas saberemos se elas se adaptam ou não à nossa visão de mundo, e, em caso afirmativo, como se adaptam. Caso se comprove que nossas convicções morais dependem de pressupostos factuais errados, não seria moral defender tais convicções recusando-nos a reconhecer os fatos.

PS: Sei que posso, com esse breve comentário, provocar a ira de alguns conservadores mais exaltados e menos abertos a críticas. A esses, serei grato se tentarem convencer-me de que estou errado com argumentos e fatos, sem apelar para os ataques “ad hominem”, o apelo à autoridade e outras falácias do gênero.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

4 comentários em “Thomas Edison e o medo do novo

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    02/11/2014 em 4:12 pm
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    Lembrando que Edison utilizou do sistema de patentes e da sua influencia no governo de forma “no minimo” anti-ética e pesadamente anti-libertaria.

    Por falar nisso, que tal um texto sobre patentes e propriedade intelectual? Acho que é um tema muito dividido entre libertários, principalmente num mundo onde o bem físico se torna cada vez mais sem valor em comparação com o bem intangível/digital. Existe “propriedade intelectual” para ser defendida?

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      03/11/2014 em 9:56 am
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      O direito de propriedade se origina na propriedade natural do corpo, então, próprio corpo e do trabalho intelectual ou braçal do indivíduo (corpo e mente indivisíveis).

      Assim, tudo que tem origem no trabalho, braçal ou intelectual, é legitima propredade do indivíduo.
      Trata-se de um principio ético.

      Marx, em seu embuste inicial, considerava que apenas o trabalho braçal criava o direito de propriedade. Ou seja, apenas produtos tangíveis poderiam ser propriedade. Tal qual como defendem os “marxliberalóides”. Desta forma Marx deduziu que o que estaria concedendo o direito de propriedade aos empreendedores não eram suas idéias e atividade intelectual (atrabalho intelectual), mas sim o capital que estes investiam na criação dos empreendimentos. Daí que se não era o trabalho intelectual que atribuia o direito de propriedade à burguesia, seria então o capital. Com isso inferiu que os bens produzidos pelos operários deveriam ser propriedade apenas dos produtores e que o capital não seria um legitimador da propriadade da burguesia. Ou seja, Marx admitia que deveria ser restituído ao investidor o capital investido, porém se o trabalho intelectual não era responsável pelo direito de propriedade, logo o que estaria atribuindo tal direito aos empresários seria o capital por eles investido. Daí um sistema baseado no capital e não no trabalho.

      Esta imbecilidade marxista é fortemente corroborada pelos atuais intitulado libertários que anuem com Marx quanto o direito de propriedade. A diferença é que arbitrariamente concordam que o capital atribua direito de propriedade tanto quanto o trabalho braçal; Marx discordava quanto tal legitimidade arbitrária do capital.

      Ocorre que muitas grandes empresas se vêem forçadas a pagar por patentes e mesmo a investir em pesquisa e invenções a fim de se manterem competitivas. Efetivamente grandes grupos empresariais se ressente de pagar por patentes quando poderiam simplesmente apropriarem-se do trabalho intelectual alheio e com sua capacidade de investimento rapidamente atenderem ao mercado. Com isso SE DISPENSARIAM de INVESTIR em PESQUISAS. Afinal, ficariam esperando outros inventarem e descobrirem para então gostosamente USAREM o SEU CAPITAL em elevado montante para produzir e assumir o mercado competitivamente SEM o TRABALHO DE INVESTIR ou o ônus de pagar pelo TRABALHO INTELECTUAL ALHEIO.

      Ora, pequenos criadores, inventores, podem criar empresas com potencial de crescimento incontrolável e assim elevar indivíduos trabalhadores criativos, inteligentes e dedicados a iniciar GRANDES EMPRESAS e CONCORRER com grupos empresariais já estabelecidos que para usufruirem, atraves de seu elevado capital disponível para investimento, terão que pagar pelo uso do trabalho intelectual alheio e assim disponibilizar capital para indivíduo criativos e dedicados que poderão crescer como empreendedores, sobretudo por seus inventos e descobertas patenteados lhes lastrear a tomada de capital emprestado para empreender com elevada taxa de retorno a fim de fazer seus empreendimentos crescerem mais rapidamente.

      No caso de “Libertarianismo MARXISTÓIDE” conquistar apoio de espertalhões ansiosos por usufruirem gratuitamente do trabalho alheio e se fazer consensualmente moral (sim, apenas moral arbitrária sem qualquer pretensão de filosofia moral ou Ética), os grandes grupos empresariais agradecerão e até não se importarão em contribuir monetariamente com tais “marxistus libertaróides” ansioso por uma prebenda burgo-socialista.

      Lógico que sem o respeito ao direito de propriedade intelectual os grandes grupos facilmente impediriam qualquer crescimento de um pequeno e criativo trabalhador intelectual.

      Afinal ao se apropriarem gostosamente do trabalho intelectual alheio poderiam rapidamente produzir em grande escala sem o ônus de pagar pelo trabalho intelectual alheio e sem a necessidade de qualquer invwestimento em pesquisa.

      Assim, o trabalhador intelectual teria negado o seu direito de tornar-se um grande empreendedor com base no seu trabalho de pesquisar, criar e descobrir. Afinal, não teria como obter o capital para investimento e muito menos teria cndição de com seu reduzido capital criar um empreendimento capaz de competir com os grandes grupos já estabelecidos que saborosamente e “de gratis” usufruiriam do trabalho intelectual alheio, abafando descobridores ou criadores de bens e serviços úteis.

      É o novo Marxismo Burguesóide que vem para tentar manter os grandes grupos imunes a concorrentes novos. Se antes a aristocracia e burguesia capitalista não queria concorrentes e investiam em controles estatais, até mesmo no fianaciamento de venais socialistas, não diferente podem investir nos novos “libertário-Marxistóides” com seus EMBUSTES ARBITRÁRIOS ofertados a grupos empresariais interessados. …CUISP!!!

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      03/11/2014 em 10:03 am
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      Os atuais Libertário-Marxistóides comungam com a idéia de Marx sobre a origem do direito de propriedade praticado históricamente.

      Estes Marx-Libertaróides apenas anuem que o capital é legitimo atribuidor de direito de propriedade tal qual o é o trabalho braçal.

      A diferença é que Marx só reconhecia (pero com exceções) como legitimo atribuidor de direito de propriedade o trabalho braçal, anuindo que o capital fosse restituído ao investidor, ficando os bens e serviços como exclusiva propriedade dos trabalhadores braçais.

      O libertaróides já arbitram que o capital deve atribuir inviolável direito de pŕopriedade ao que dele origina-se. Tal como Marx estes desprezam o trabalho intelectual como legitimador da propriedade.
      Certamente grandes grupos não se furtarão a financiar estes novos embusteiros arbitrários.

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    31/10/2014 em 8:36 am
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    Brilhante:

    “Caso se comprove que nossas convicções morais dependem de pressupostos factuais errados, não seria moral defender tais convicções recusando-nos a reconhecer os fatos.”

    Os conservadores foram os mais histéricos críticos das idéias liberais, sempre defenderam o Estado como “guia genial” defensor da moral dos bons costumes. Essa conversa de que conservadores são defensores do livre mercado é falaciosa. Não são. Nunca foram. Apenas defendem o direito de propriedade privada, mas dispostos a abolir tal direito em favor de algum coletivismo moralóide. São coletivistas, intervencionistas tal como eram mercantilistas.

    Imagino que gravações apavoravam os mentirosos da política em geral. O medo (pavor) de terem suas afirmações gravadas para posterior exibição certamente os impelia ao ódio contra o possível algoz que os ameaçava com a possibilidade de que a verdade pudesse ser clara. Ora, é muito melhor falar sem nada que prove a fala. Até mesmo a bíblia não era para ser traduzida e estar ao alcance de todos (Salve Lutero). Afinal, desta forma se poderia invoca-la como testemunho sobre o certo, mesmo que tal fosse mutante e dela pescado ao sabor do momento ora invocando o coitadismo dos perseguidos inofensivos e desprendidos ora invocando a luta dos bravos guerreiros, servos do ‘senhor dos exércitos’ que trucidam seus adversários. Hora valorizam o “dar a outra face” e hora valorizam a bravura de sair quebrando tudo e espancando os mercadores no templo. Como bem disse B. Russel, o ser humano se vale de duas morais, uma que pratica e outra que cobra dos demais. Assim, se “por cima” a moral propagandeada é a dos bravos guerreiros e se “por baixo” a moral é a do coitadinho. Assim variando segundo a conveniencia do momento entre a moral do escravo e a moral do guerreiro. Aliás, mais uma coincidência com as praticas políticas socialistas e o PT foi bom exemplo.

    Na verdade os tais conservadores cultuam o Estado como um mito agregante. É da índole de certos indivíduos o desejo de cultuar e assim inventam “bezerros de ouro” e se assanham com lideranças pretensamente viris para impor uma moral a todos. Diga-se uma moral conveniente e mutante. Não por acaso tais conservadores ostentam-se como defensores da vida defendendo um, ainda, punhado de celulas para assim se elevarem vaidosamente como guardiões da vida de “criancinhas”. Contudo estes que defendem a imposição de 9 meses de sofrimento pavoroso a uma vítima de estupro, para ostentarem-se defensores de “criancinhas” (mesmo ainda um punhado de celulas, sem sistema nervoso), são os mesmos que defendem guerras onde, não apenas células, mas adultos, pais e mães, crianças e reais fetos em ventres são mortos como efeito colateral das guerras que defendem. É absurdo? …não, é apenas cretinamente humano, demasiado humano.
    Os conservadores são a quinta coluna dos socialoistas. Não por acaso quando as idéias liberais começaram a ganhar simpatizantes, imediatamente o loby conservador com fartos recursos passou a criticar os liberais/libertários e disseminar fofocas confundindo libertários com socialistas. Não por acaso ex socialistas se transmutam em conservadores tanto quanto ex conservadores se bandeiam para o lado socialista. Afinal, ambos defendem a hegemonia do Estado como “guia dos povos” para impor um esquisito “bem comum”. A diferença é que conservadores focam mais nas questões de arbítrio moral (mas também defendem o Estado caridoso e economicisrta) e os socialistas focam nas questões de arbítrio econômico, ambos coletivistas defendendo o arbítrio em nome do bem comum.

    Ao ler o trecho do The New York Times me vem à mente a ideia do POLIGRAFO que bem aferido é, no mínimo, quase impossível de ser ludibriado. Fora que aplicado à testemunhas e réus certamente se tornaria um método perfeito para se chegar à verdade para punir culpados tanto quanto para absolver inocentes. Assim haveria de fato justiça e não apenas judiciário.

    Contudo eu fico imaginando o pavor que causaria o POLIGRAFO ser defendido como proposta de um candidato político. Fatalmente a midia (com privilégios legais, oficiais e oficiosos) impestiaria o ar com editoriais, reportagens tendenciosas, sensacionalismos no Fantástico e berreiro histérico e frenético por todo lado. Afinal, aqueles que temem a verdade entrariam em pânico diante de tal proposta. …e ainda dizem que a função do judiciário é fazer justiça e da mídia a de informar honestamente. …Seria primoroso e um grande apelo de marketing a proposta do POLIGRAFO para ajudar a dirimir dúvidas e fazer Justiça em vez de “judiciarismo”.

    OBS.: Dizer que o poligrafo pode falhara ou ser enganado, não combina com o apelo à testemunhos: a “prostituta das provas”.

    Aposto que os conservadores iam fofocar contra!

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