Causas da prosperidade e o contexto brasileiro

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A questão é antiga e intrigante. Quais são os fatores que causam a prosperidade de uma nação – em última análise, o essencial crescimento econômico?

Na tentativa de explicar tais causas, alguns fatores se tornaram relevantes na visão de cientistas sociais e economistas consagrados. Jared Diamond, geógrafo e historiador americano, aponta a geografia como sendo das causas fundamentais de muitas vantagens dos países europeus. Sinteticamente, em razão da existência de espécies de plantas e animais domesticáveis, além da proximidade física com países europeus vizinhos. Fatores culturais tácitos, tais como as normas de conduta em sociedade – e a própria religião – também são mencionados como fatores explicativos do desenvolvimento econômico das nações.

Em sua obra seminal A Riqueza das Nações, Adam Smith afirmou que a geração de riqueza é dependente da liberdade que os agentes econômicos possuem para estabelecer relacionamentos colaborativos e voluntários, buscando a maximização individual de seus recursos. Ao cabo, o interesse individual faz transbordarem benefícios para todo o conjunto social, mesmo que a intenção não seja esta. Smith destaca a importância da não intervenção estatal no processo de desenvolvimento econômico.

Douglass North, Nobel em Economia, por sua vez, apontou que são as instituições o motor do crescimento econômico, que provém dos arranjos institucionais e das respectivas regras formais e informais (o que inclui “cultura”) que um país adota, as reais causas da prosperidade. Os ganhadores do Prêmio Nobel de Economia de 2024, Daron Acemoglu e James Robinson, em seu livro Por Que as Nações Fracassam, similarmente, afirmam que o crescimento econômico também depende da “qualidade” das instituições. Os economistas explicam a prosperidade pela presença de instituições inclusivas, ou seja, aquelas que promovem a pluralidade, a centralização política e o direito de propriedade, a lei e a ordem, garantindo a participação de diferentes atores políticos e sociais.

Os mercados devem ser livres para às trocas, sendo fundamental o acesso à educação e as oportunidades para todos. O papel do Estado é crítico no sentido de prover serviços públicos de qualidade e certa regulação dos mercados.

O crescimento econômico, entretanto, não aterrissa em função de instituições extrativistas, aquelas que estão nas mãos de uma pequena elite, que se apropria dos recursos gerados pelos criadores de riqueza, impedindo a participação e o desenvolvimento individual. É importante notar que a formação de instituições depende da cultura, do modo de comportamento de um determinado povo.

Nessa direção, gosto muito da visão de Deirdre McClosey. De acordo com a economista norte-americana, o crescimento econômico se engendra em função de como as pessoas pensam e agem, com liberdades, nos mercados, isto é, sem a intensa e improdutiva intervenção estatal. São as ideias, o “inovatismo”, aquilo que faz com que os indivíduos apliquem o mecanismo shumpeteriano da “destruição criativa”, gerando inovações e substituindo o antigo pelo novo, mais produtivo, útil e eficiente. O terreno deve ser propício para a livre concorrência, em especial, para o aparecimento de novas ideias, estas devendo ser permitidas a fim de competir com as antigas. Em um mercado livre, a competição é que determinará quais das ideias deverão prevalecer.

São as ideias sobre a dignidade humana e liberdades que promovem a criatividade para que as pessoas colaborem e criem novas e melhores soluções para os problemas individuais e coletivos. A mudança econômica depende da mentalidade das pessoas e dos incentivos de que estas dispõem para gerar inovações, renda, riqueza e prosperidade.

Penso que as liberdades individuais e econômicas fundamentais devem ser garantidas pelas instituições, que deveriam equilibrar, ao mesmo tempo, as forças estatais e os atores econômicos e sociais de um contexto social. Em última instância, são os incentivos institucionais – e como eles importam! – que moldam o comportamento individual e coletivo em uma sociedade.

No que tange ao crescimento econômico, é vital identificar as causas de sua escassez no país. Apesar de o motor da economia ser o agronegócio, arremessado pela iniciativa privada, a mentalidade forjada no tupiniquim é a do Estado “salvador da pátria” – visão estatista, que se apoia no coletivismo.

Tristemente, nosso ambiente é repleto de instituições extravistas, em que o esporte favorito das elites de baixa qualidade é o “rent seeking”. Aqui, tais instituições manobram para extrair a renda dos criadores de riqueza – indivíduos e empresas –  por meio da manipulação do ambiente social e/ou político, através dos processos e das atividades econômicas. O Estado grande “investe” seu tempo e recursos para criar e implantar políticas públicas e regulamentos que retiram as oportunidades factuais das pessoas ao invés de incentivar a agregação de valor nos vitais processos econômicos e sociais.

Atualmente, o governo autoritário e perdulário, sem nenhuma preocupação com a imprescindível disciplina fiscal, impõe políticas populistas e contraproducentes, inibindo a atividade econômica e a geração de novas ideias, de inovações e do incremento de produtividade. Vive-se aqui numa efetiva ditadora da toga, que ceifa as liberdades individuais e legisla de acordo com seus próprios interesses e de suas tribos ideológicas, regulando a tudo e a todos, em conjunto com o asfixiante intervencionismo estatal.

Os essenciais incentivos institucionais aportam para o retrocesso. Tem-se farta injustiça e grotescas impunidades e corrupção, além da inadmissível falta de garantia das liberdades e dos direitos dos cidadãos. No que tange ao necessário ambiente econômico favorável aos negócios, a sanha arrecadatória é predatória para o aumento da atividade econômica, em especial, para os investimentos nas atividades produtivas.

O que se vê é um país atolado em regulamentos e incentivos de cabeça para baixo, destruindo o ímpeto empreendedor via abusivo intervencionismo de Estado. Este beneficia a mesma elite estatal e política de baixa qualidade, prejudicando as pessoas e as empresas, porém trazendo uma série inesgotável de benesses para os amigos do compadrio.

As causas da prosperidade e do respectivo crescimento econômico são, na verdade, amplas e diversas. Inexistem respostas singelas e definitivas. O crescimento econômico é dependente de incentivos orientados para os investimentos nas atividades produtivas nos mercados, que estimulam a concorrência e o surgimento de novas ideias e inovações através do processo criador de “destruição criativa”, aquilo que, de fato, gera benefícios para o indivíduo e para todos.

Desafortunadamente, o Brasil vaga pela escuridão do não crescimento econômico. As causas do fracasso econômico no país, aliás, bem conhecidas, bem como amplas e diversas. Nada de novo no “front”: pensamento e ação ideológicos e muita procrastinação.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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