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Síndrome de Estocolmo coletiva

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O economista Fábio Giambiagi escreve hoje, no Globo, um bom artigo, em que procura vincular o crescente aumento dos gastos públicos, nas últimas décadas, à cultura estatizante instalada no país.  Diz o autor:

O governo se mete em tudo e, como raras vezes atua bem, justifica a frase do sempre sarcástico Delfim Netto, que ferinamente costuma lembrar que, “se o governo compra um circo, o anão começa a crescer”. O fato é que o governo só faz aumentar e, entretanto, qualquer que seja a função pública ligada a algum serviço que cabe ao Estado prestar, as razões para insatisfação do cidadão comum são óbvias: a nossa educação é precária; a saúde é sempre “top” em todas as avaliações da opinião pública acerca das queixas da população; o cidadão se sente inseguro ao sair na rua etc.

É preciso repensar o Estado brasileiro. Um dos problemas é que a demanda por mais gasto público é parte da cultura nacional. Quase todos os brasileiros são contra a “gastança”, mas muita gente acha natural se aposentar perto dos 50 anos, ter um amigo que “arrumou um cargo no Governo” ou ter um primo “encostado no INSS”. É necessário que esse tema entre na agenda nacional. O ponto de partida é criticar esse processo. (…) Está na hora de alguém questionar seriamente esse processo contínuo de aumento do gasto público.

Ao ler o artigo, lembrei-me de algo que escrevi na mesma linha, há muito tempo, também para O Globo.

No Brasil, o governo assume uma série de encargos e tarefas que não lhe dizem respeito. Ele é banqueiro, petroleiro, administrador de portos, aeroportos, produtor de televisão, dono de restaurantes, empresas de ônibus e de seguros. Também é grande proprietário de imóveis, mecenas e produtor cultural. O fato é que esse polvo gigante estende seus tentáculos sobre inúmeras atividades que deveriam estar entregues à iniciativa privada.

Enquanto isso, no exercício das suas funções substantivas, naquilo que é a própria razão de ser de qualquer governo, ele é omisso ou ineficiente. Não consegue dar à população um mínimo de segurança. A justiça é lenta, cara e imprevisível. As ForçasArmadas encontram-se virtualmente sucateadas.  Nossas fronteiras são um perfeito queijo suíço, por onde entram armas, drogas e todo tipo de contrabando.  Sistema viário, infra-estrutura e logística são caquéticos.  Sobre educação e saúde, então, é melhor nem falar. Uma lástima!

Apesar disso tudo, da comprovada incompetência, dos desmandos e dos ultrajantes níveis de corrupção em todas as esferas da administração pública, boa parte da população brasileira, tal qual as vítimas do famoso sequestro de Estocolmo, encontra-se enfeitiçada pelo seu algoz e acredita que ele tem a solução para todas as suas incontáveis mazelas. Vivemos emmeio a uma gente incapaz de enxergar que o governo, longe de ser a solução, é o principal problema.

De modo inverso, o recente debate eleitoral em torno das privatizações mostrou que o sentimento da maioria em relação à iniciativa privada é o pior possível. O sucesso empresarial por aqui é visto, exclusivamente, como resultado da voracidade capitalista, quando não do roubo.  Essa percepção deriva da falta de conhecimentos básicos, como a de que o lucro de hoje é o investimento de amanhã; que esse investimento é a garantia da geração de empregos e do aumento da produtividade no futuro; que a produtividade, por sua vez, resultará em aumento da renda dos trabalhadores.

A paixão cega pelo Estado provedor não deixa que suas vítimas enxerguem coisas simples e corriqueiras, como a infinita superioridade dos produtos e serviços oferecidos pela iniciativa privada, quando comparados aos seus congêneres públicos – por exemplo: hospitais, escolas, estradas.  Além disso, não percebem que, diferentemente do preço que pagamos às empresas, quase sempre vinculado a transações voluntárias e vantajosas para ambas as partes, os governos nos cobram tributos independentemente da nossa vontade e, muito pior, na maioria das vezes sem quenos deem qualquer contrapartida. Pagamos ao Estado perto de 40% da renda nacional e o que ele nos dá em troca? Segurança? Saúde? Educação para os nossos filhos? Boas estradas?

Nada! No máximo algumas belas promessas. A maior parte do dinheiro que transferimos para o erário é utilizada para financiar os gastos de uma burocracia parasitária e repleta de privilégios, o custeio de uma máquina onde impera o desperdício e o pagamento de juros sobre dívidas que as gerações passadas de políticos legaram aos contribuintes do presente.  Resumindo: estamos diante do mais perverso e pavoroso dos monstros que qualquer autor de ficção poderia imaginar.

No entanto, malgrado essas verdades, um tanto óbvias até, os adeptos do dirigismo e da obesidade estatal sugerem que alimentar e engordar o leviatã ainda é o melhor que temos a fazer, já que os seus excrementos (também chamados de gastos públicos), se bem planejados, por meia-dúzia de políticos “altruístas” e seus sábios acólitos, poderiam ser positivos para a economia.  (Infelizmente, sempre haverá homens prepotentes e presunçosos o bastante para arrogar a si o privilégio de saber qual o melhor emprego para o dinheiro dos outros).

E assim, os brasileiros seguem depositando nesse autêntico carrasco todas as esperanças e anseios, enquanto menosprezam e afrontam aqueles que arriscam o próprio capital para satisfazer as suas necessidades de trabalho e consumo – ainda que o façam, como dizia Adam Smith, pensando somente nas respectivas conveniências.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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