Será que há abundância de crédito no Brasil?

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monopoly-body-image-1425682438Tenho muita simpatia e assino os informativos do pessoal da Empiricus Research e não é sempre que eu discordo deles. Mas um dos diagnósticos que eles vem fazendo é completamente equivocado: o de que há, na verdade, abundância de crédito disponível no Brasil e o que há é falta de demanda.

É o exemplo clássico de análise de economista do mercado financeiro que eu tanto critico por aqui. Pode ter até uma boa formação, mas só sabe olhar números agregados, sem nunca ter colocado o bumbunzinho peludo em uma cadeira de executivo de empresa.

Funciona assim: o “economista” olha os balanços do bancos entulhados de recursos. Daí ele vê declarações públicas dos presidentes dos bancos, como de Luiz Carlos Trabuco do Bradesco, dizendo que estão cheios de disposição para emprestar e que faltam projetos. Pronto, agora tudo faz sentido! Falta gente querendo tomar crédito por causa da crise!

A economia real é a dentro da sua casa e dentro da sua empresa. E no mundo real de quem produz, sim, a meia-dúzia de bancos que existem no Brasil tem dinheiro sobrando. Mas o que os dados agregados não conseguem mostrar é que as condições impostas por estes bancos para para empréstimos são praticamente incumpríves, principalmente em um cenário de crise.

Como meu pai sempre diz: banqueiro brasileiro é o sujeito que te empresta um guarda-chuva em um dia de sol, mas toma de volta no instante em que começa a chover e de quebra ainda leva suas roupas.

Eu pergunto se você, empresário que está vivendo a maior crise da história do Brasil, concorda com a Empiricus: há crédito sobrando para você? Ou os bancos estão negando crédito porque seu faturamento está caindo? Ou porque suas “garantias” (como as imobiliárias) estão se desvalorizando e perdendo liquidez? E que tal as taxas de juros que tem sido oferecidas a você? São taxas racionais ou estratosféricas? Aquele gerente de banco que te ligava oferecendo dinheiro em 2012, quando você não precisava… por onde ele anda?

Há, na verdade, desespero por crédito no setor produtivo. Eu arrisco a dizer mais: nunca houve tanta dificuldade de obtenção de crédito na história recente do Brasil. Eu mesmo recentemente tive uma operação de R$ 50 milhões cancelada no último minuto porque o agente simplesmente “interrompeu operações de crédito no Brasil até que o cenário fique mais claro”.

Em um momento de crise, incerteza, falências, derretimento de ativos, e títulos públicos rendendo quase 15% ao ano, nossos bancos só vão emprestar a empresas muito sólidas, exigindo colaterais gigantescos e cobrando taxas de juros dignas de agiotas. Caso contrário, é melhor deixar dinheiro em caixa. Na crise, Cash is King. Mas é claro, você nunca vai ouvir isso na declaração pública de nenhum membro do clubinho mais exclusivo do Brasil – aquele que bateu recordes de lucro no pior ano da história da economia brasileira e, por coincidência, encabeça a lista dos maiores doadores de todas as campanhas presidenciais.

Felizmente, mesmo quando o Empiricus erra, eles acertam. Concordamos integralmente em que a medida do governo de forçar bancos públicos a concederem crédito para aquecer a economia é um agravamento do desastre keynesiano que ajudou a nos colocar na crise em que estamos hoje, em uma espécie de fase final dos ciclos econômicos austríacos com anabolizantes.

Não se engane, só duas coisas vão melhorar a oferta de crédito no Brasil. A primeira é a saída de Dilma Rousseff do poder e a consequente diminuição das incertezas (ou certezas negativas) e melhoria mínima das expectativas futuras. A segunda passa por um governo disposto a facilitar a entrada de novos agentes no sistema bancário privado – provavelmente o mais regulado setor da economia nacional. Deixemos o livre mercado funcionar. Agentes novos e menores são mais dispostos a conquistar mercado e, para isso, bem mais propensos a tomar riscos maiores. Precisamos desesperadamente destes agentes.

Mas isso é algo que você nunca vai ouvir de nenhum banqueiro, não é verdade?

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Paulo Figueiredo Filho

Paulo Figueiredo Filho

Cursou Comunicação Social e Economia na PUC-Rio e é bacharel em Filosofia. Teve significativa passagem pelo setor público como assessor especial e chefe de gabinete no Governo do Estado e na Prefeitura do Rio de Janeiro. De volta à iniciativa privada, hoje atua como CEO do grupo Polaris Brazil, à frente de empreendimentos imobiliários e hoteleiros de porte internacional, incluindo o Trump Hotel do Rio de Janeiro.

3 comentários em “Será que há abundância de crédito no Brasil?

  • Avatar
    02/02/2016 em 6:53 pm
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    É impressionante o pilantragem do Governo.

  • Avatar
    02/02/2016 em 10:46 am
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    Parabéns! Ótimo texto!

  • Avatar
    29/01/2016 em 1:43 am
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    Muito bom o seu artigo. Gostaria, se for abusar demais, pedir um explicação: porque o autor considera que a oferta de créditos a juros mais baixos pelo governo é prejudicial se, aparentemente, é disso que o mercado precisa agora? Obrigado pela antenção.

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