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A saga da companheira Sara: do PT ao PV e do PV ao PSB

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Marina_Silva_em_XapuriSerá que Marina é um Lula de saia ou o Lula é Marina de calças? Plus ça change, plus ça devient la même chose  [Quanto mais isto muda, mais se torna a mesma coisa].

Osmarina militou muitos anos no PT (Partido dos Trabalhadores ou Perda Total). Foi deputada e senadora pelo Acre e, posteriormente, Ministra do Meio Ambiente do governo Lula.

Em toda sua atividade política como parlamentar dedicou-se a defender denodamente nossas florestas com nossas exuberantes fauna e flora.

Encarnou a figura folclórica do Curupira, aquele molequinho com os pés voltados para trás, ardoroso defensor de nossas virgens matas, protegendo-as de personae non gratae, i.e. os invasores brancos desde a época da colonização.

[Na mitologia grega, essa figura do Curupira corresponde ao deus Pan, que perseguia os invasores das florestas com tanto afinco e ferocidade que acabou gerando o pânico].

É possível que Osmarina tenha produzido projetos em áreas além da ecologia, mas não nos lembramos de nenhum, assim como não ficamos sabendo o que pensava ela sobre problemas políticos e econômicos. E até hoje pouco sabemos!

Passamos a conhecer melhor sua visão ecológica radical, graças à sua atuação enquanto Ministra do Meio Ambiente de Lula.

Em obras de infraestrutura do governo federal, Osmarina fazia mil e uma objeções alegando danos ambientais, como foram nos casos da Barragem de Belo Monte e da transposição do Rio S. Francisco.

Foi neste último contexto que Lula teria dito: “Companheira Marina, esse negócio de ecologia é como exame da próstata…” [e explicitou o termo de comparação que nossa pudicícia nos impede de dizer].

Algumas dessas objeções eram cabíveis, mas a maioria delas totalmente descabidas, dando a impressão de que ela estava muito mais preocupada com a ararinha azul, o mico leão dourado e outras espécies ameaçadas de extinção do que com obras necessárias para o crescimento da infraestrutura do País.

Sua atuação mais desastrosa ocorreu quando da demarcação de terras agriculturáveis em que ela bateu de frente contra os interesses do agronegócio, como se fossem interesses de nações estrangeiras.

Quando é escusado dizer que o agronegócio ou agroindústria tem segurado a balança comercial do Brasil e só não é mais produtivo por causa da precariedade de nossas estradas, portos e silos, entre os gargalos que sufocam a vida econômica deste país.

Essa atuação produziu dois efeitos: no governo federal, Osmarina era vista como aquele burocrata ranzinza que retardava e criava empecilhos para  importantes obras.

Mas no eleitorado o efeito foi bastante positivo produzindo grande admiração, principalmente entre os jovens preocupados com o efeito estufa, o aquecimento global, o degelamento dos pólos, a poluição dos mares e dos rios, etc.

É impossível compreender o sucesso político de Osmarina sem compreender bem os naturebas ecochatos e sua visão de uma catástrofe global iminente destruidora da vida na face da Terra.

Até hoje, assim como o eleitorado de Sérgio Cabral são as  velhinhas desamparadas – tanto que ele criou uma secretaria de proteção aos idosos –  o de Osmarina são os jovens cultuadores de uma visão preservacionista radical.

Não se trata de uma ideologia tupiniquim, mas sim global. Entre seus líderes encontramos cientistas, midiáticos e artistas cujos nomes mais famosos são o político americano Al Gore (ou All Bore) e o cientista Thomas Lovejoy, aquele que criou a Gaia.

Gaia, para os gregos, era o nome da deusa da terra, mas para Lovejoy, influenciado pelo animismo mítico, passou a denominar o ecossistema de todos os ecossistemas

Um “organismo vivo”, apesar de conter mais matéria inorgânica, rochas e água, do que matéria orgânica, vegetais e animais, bem como de estarmos muito distantes da concepção de uma anima mundi (alma do mundo) na visão dos povos pré-letrados.

Recentemente, Lovejoy escreveu artigos em que renega seu ecologismo radical, mas seus admiradores brasileiros, se o leram, preferiram continuar cultuando seu antigo culto de Gaia, sem medo de parecerem gaiatos.

[Apesar de estarmos na Era da Informática, são incontáveis os resquícios de concepções míticas coexistindo com computadores, Drones e Stealths].

Mas Osmarina deixou o governo e passou do PT para o PV (Partido Verde por fora, mas vermelho por dentro, como o PT é por dentro e por fora).

Em sua passagem pelo PV, passou a ser cultuada como um messias ecológico, que iria promover o repúdio da civilização tecnológica e o retorno à paradisíaca vida do bom selvagem rousseauniano.

[Se o leitor não se deu conta da influência do famigerado J.J. Rousseau sobre os revolucionários da América Latina, leia urgentemente Carlos Rangel: Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário (Editora Edunb)].

No entanto, Osmarina se desentendeu com os caciques do PV, coisa esta que ainda não entendemos, tamanha era a afinidade entre ela os verdes.

Ficou sem partido e foi aí que pretendeu fundar o Partido do Eu Sozinha, minto: a Rede Sustentabilidade, com a intenção de se lançar candidata a Presidente da República.

O que não causava espécie em ninguém, uma vez que ela fora candidata em 2010 e ficou em terceiro lugar com um respeitável cacife eleitoral. Lembramos que Lula perdeu três vezes e só se elegeu na quarta, assim como seu colega socialista e ex-colaboracionista François Mitterand.

Dá até a impressão de que eleição se ganha por repetição: quanto mais o candidato mete sua cara na TV, mais fica ele conhecido por um eleitorado que não costuma ler nem jornal. Como disse Goebbels: “Uma mentira repetida mil vezes acaba se tornando uma verdade”.

Mas Osmarina não conseguiu um número de assinaturas suficiente para inscrever seu partido no TSE. À primeira vista, isso era surpreendente, pois tinha mais eleitores fiéis do que muitos partidos nanicos que não param de engrossar essa sopa de letrinhas que são as siglas partidárias.

Alguns de seus fiéis adeptos botaram a boca no trombone acusando o TSE de criar casuísmos para o agrado de Dilmandona, que tinha mais medo da candidatura de Osmarina do que a do próprio Capeta em pessoa. Mas seu medo não era injustificado, como mostram as mais recentes pesquisas eleitorais.

Não descartando essa hipótese, creio que há uma mais plausível: A Rede da pescadora Osmarina fazia muito mais sucesso nas redes sociais frequentadas por seus jovens eleitores. Por outro lado. o partido negligenciou a importância de postos e cabos eleitorais espalhados por este Brasilzão afora.

Não podendo inscrever seu partido, Osmarina ficou no mato sem cachorro e tudo indicava que ela teria que esperar as eleições de 2018, para conseguir inscrever a Rede.

E se lançar candidata de uma maneira bem parecida com o PRONA de Enéas Carneiro, um partido constituído somente para lançar um candidato autocrático à Presidência da República.

Mas foi aí que apareceu um anjo, para salvar Osmarina: Eduardo Campos do PSB, neto do usineiro comunista Miguel Arraes, cassado por subversão pela Revolução de 1964.

Campos tinha pouca coisa a ver com Osmarina, a não ser que ambos eram egressos do PT, como a turma do PSTU e do PSOL. Mas, mesmo assim, Osmarina aceitou ser vice na chapa de Campos, coisa que certamente era vantajosa para a maior popularidade do partido.

O fato é que, com a sua vice, Campos nunca atingiu dois dígitos nas pesquisas eleitorais e dificilmente teria passado para o segundo turno, apesar do grande cacife de Osmarina. O quadro que então se apresentava era Dilmandona e Aecinho indo para o segundo turno.

Todavia, uma fatalidade mudou inteiramente esse quadro: o trágico episódio que vitimou Eduardo Campos e que até agora não sabemos se foi acidente ou atentado.

Com Osmarina na cabeça da chapa, ela decolou como um foguete da NASA, recolhendo votos dos indecisos e em branco, roubando votos de Dilmandona, de Aecinho e ciscando até migalhas do pastor Everaldo, uma zebra na corrida eleitoral.

[Há mesmo quem diga que o pastor é o discurso certo na boca do homem errado].

Uma verdadeira lambança eleitoral! Até mesmo os antigos fiéis que não votariam em Osmarina como vice – talvez por considerarem tal coisa uma capitis diminutio – mudaram suas intenções de voto quando nosso messias ecológico se apresentou candidato pelo PSB. Se fosse qualquer outro partido, não faria a menor diferença.

[Desde Antonio Conselheiro, há sempre um salvador da pátria de plantão, para o embevecimento dos crentes ou eleitores “cordiais”, na acepção dada ao termo por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil].

A opção que começa a se descortinar é muito simples e bastante complicada, dependendo de como se vê a coisa: Votar em Aecinho, um candidato que tem cada vez mais chances de não ir para o segundo turno.

Ou então ter que escolher entre a desgraça certa e o dissabor bastante provável, ou seja: Dilmandona ou Morena da Selva, respectivamente.

A voz da sensatez me aconselha a votar em Aecinho no primeiro turno, mesmo que ele não tenha chance de ir para o segundo. E se ele não for?

Bem, aí é tomar muito chá de camomila, munir-se de grande resignação e despejar votos na cabocla Osmarina. Ao menos, teremos uma vantagem: sai do poder o PT e entra o PT reciclado sob nova direção. Será mais do mesmo?

[divide]

N.E.: o artigo é a segunda parte do tema. Vide A saga da companheira Sara: dos seringais ao PT.

imagem: Wikipédia

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Mario Guerreiro

Mario Guerreiro

Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.

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