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Rio Surreal, escambo e o processo incivilizatório

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riosurrealVejo com excelentes olhos a reação popular aos preços praticados no Rio de Janeiro através do movimento Rio Surreal, que é uma das cidades mais caras do mundo para se viver. Tudo aqui tem subido muito acima da inflação oficial do governo, e as pessoas estão tendo muitas dificuldades em viver o dia-a-dia.

A fanpage de facebook em questão serve como um catalizador de boicotes voluntários a estabelecimentos que praticam preços realmente acima de qualquer padrão de razoabilidade. Assim como deve ser direito de prestadores de serviços praticarem preços abusivos, deve ser direito dos consumidores boicotarem pacificamente tais prestadores. É assim que o mercado resolve as coisas, sem a violência dos Procons da vida, cujo papel deveria ser apenas de coibir fraudes, e não estipular preços a partir do seu critério próprio de razoabilidade.

Obviamente que a existência do Rio Surreal está intimamente ligada à galopante inflação que ocorre no Rio de Janeiro. Inflação, entendida como aumento geral do índice de preços, só faz sentido se alguma coisa influencia em todos os preços e, na prática, a entidade que mais tem a possibilidade de influenciar todos os preços de um determinado mercado é o governo. Daí se afirmar que a inflação é um fenômeno de governo em 99,9% dos casos, normalmente através da ação governamental desvalorizando a moeda com o crescimento insustentável de crédito sem lastro na poupança nacional.

No Rio de Janeiro, especificamente, o crescimento insustentável de crédito não se deu somente por conta da expansão da base monetária feita pelo Governo Federal nos últimos 10 (que praticamente quintuplicou a base monetária brasileira), mas também por conta de outras ações específicas de crescimento do crédito na localidade, como as obras públicas para Copa e Olimpíadas e o aumento do crédito imobiliário.

A moeda “Real” já está tão escancaradamente desvalorizada pelo Governo que a população carioca já tem até mesmo recorrido ao escambo, que é a forma mais rústica e incivilizada de troca. Sites como “Descola aí“, “Trocaki” e “Bliive” cada vez crescem mais a partir da troca direta de bens e serviços sem utilização do Real. O “Bliive” chega mesmo a usar uma moeda privada, chamada “timemoney”, dada as dificuldades da troca direta.

As trocas diretas são muito difíceis por conta de dois problemas, como ensina Rothbard: a indivisibilidade e a coincidência de desejos. Enquanto moedas podem ter notas com diferentes valores, portanto sendo fácil sua divisão entre vários produtores de bens e serviços distintos sem perda de valores, em um produto agropecuário, sua divisão pode acarretar perda significativa do valor total. E a dificuldade de se ter duas pessoas querendo exatamente o tipo de serviço provido pelo outro também é muito grande. A produtividade dessa economia acaba sendo mínima por conta disso.

Por mais que alternativas incivilizatórias como o escambo possam funcionar como válvula de escape em um momento de crise, a sociedade precisa perceber que esse é um problema de Governo, crônico e que só pode ser consertado com uma política monetária sólida, e não com essa brincadeira de alavancagem de créditos podres com mais créditos podres. Um dia os investidores não vão mais querer brincar e as dívidas serão liquidadas.

Se hoje o Rio é surreal, imagine quando a liquidação da brincadeira de créditos chegar?

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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