Resposta de um empreendedor a Bernie Sanders

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Bernie Sanders, como todo bom socialista, acredita – ou pelo menos vende a ideia – que a economia de mercado é um jogo de cartas marcadas, em que uns poucos empresários, através de manipulações e fraudes, enriquecem em detrimento do esforço alheio.

Sanders não está totalmente errado. Nas atuais economias, altamente intervencionistas, seria ingenuidade pensar que o mercado não está, de fato, infestado de manipuladores, sempre dispostos a se dar bem à custa dos outros. O que Sanders omite, entretanto, é que, na maior parte das vezes, as manipulações e fraudes só podem ser perpetradas com a prestimosa ajuda do governo – o único ente que tem o poder de tirar algo de Pedro para entregar a Paulo contra a vontade daquele.

Outro fato que Sanders esquece, especialmente porque está acostumado a enxergar o mundo em preto e branco, é que a imensa maioria dos empreendedores (e na América isso é ainda mais acentuado) enriqueceu não através da fraude ou do conluio, mas graças a enormes doses de esforço, dedicação, genialidade e risco. É o caso do signatário da mensagem abaixo, endereçada a Bernie Sanders e publicada recentemente pela Fortune:

Caro Bernie Sanders: desculpe por eu ser o problema da América

Por Rob May*

Concordo com Bernie Sanders.  A economia é manipulada. Na verdade, é o que meu pai, que é muito conservador, me ensinou sobre a vida.  Alguns podem achar isso surpreendente, porque a visão geral da esquerda parece ser a de que os conservadores não percebem, ou não querem reconhecer, que a economia é uma fraude. Mas o conselho do meu pai para mim era que, sendo o mundo uma fraude, a única coisa que eu poderia fazer seria trabalhar mais do que os manipuladores.

Alguns anos atrás, eu estava andando pela Harvard Square quando uma mulher segurando panfletos para Elizabeth Warren [congressista de esquerda do Partido Democrata] parou na minha frente. Ela perguntou se eu achava que o governo deveria pagar as dívidas dos alunos. Eu não acho que o governo deveria, mas eu nunca tive empréstimos estudantis. Não, não foi porque eu era de uma família rica. Eu nunca fiz empréstimos estudantis porque trabalhei cada semestre durante o tempo em que estive na faculdade, e, durante alguns verões, eu trabalhei em dois empregos. E fiz isso porque achava que o mundo era manipulado contra mim.

Eu perdi muito, porque trabalhei muito. Não tive a vida de muitos dos estudantes universitários que contratei nos últimos anos. Eles estudavam o que gostavam – filosofia, ciência política, arte -, independentemente de haver ou não boas perspectivas de emprego nessas áreas. Eles viajam e comem fora muito mais do que eu na idade deles. Eles conhecem todos os restaurantes e bares da moda.

Quando eu saí da faculdade, vivia bem abaixo do padrão dos meus colegas, pois precisava economizar US $ 25.000 para começar meu primeiro negócio. Um negócio que naufragou miseravelmente. Acabei perdendo mais de US $ 50.000 no total. Levou três anos só para saldar a dívida do cartão de crédito.

Durante a década seguinte, comecei mais três negócios. Dois dos quais falharam. Para um deles – um produto de páginas amarelas em vídeo que eu idealizei com um amigo, em 2007 -, eu costumava usar meus dias de férias do meu trabalho “real” e ir de porta em porta, vendendo anúncios em vídeo para pequenas empresas. Eu perdi muito do meu próprio dinheiro nisso, não viajando ou adquirindo bens de luxo de qualquer tipo, mas com empreendimentos e ideias.

Eu só me mantive nisso porque acreditava, assim como Bernie, que o mundo era manipulado contra mim. Passei todas as noites, depois do meu trabalho diário, trabalhando em projetos paralelos, aprendendo novas habilidades, lendo. Eu não tive uma TV por um longo tempo e, até hoje, nunca assisti a quaisquer dos clássicos sobre os quais as pessoas gostam de conversar: Os Sopranos , Breaking Bad , Mad Men , Game Of Thrones . Eu estava trabalhando, enquanto eles estavam em frente à TV.

Quando eu finalmente consegui erguer uma empresa bem-sucedida, a experiência foi mais estressante do que você jamais poderia imaginar. Eu tive de lidar com algumas coisas realmente difíceis. Houve um tempo em que, no dia em deveríamos fechar o nosso fluxo de caixa de financiamento, o principal investidor ligou e disse que não iria mais transferir o dinheiro. Tínhamos apenas seis semanas de recursos sobrando, e agora eu precisava descobrir o que fazer. Houve o tempo em que dois dos meus executivos se demitiram num espaço de 10 dias entre um e outro, fazendo com que o conselho e todos os funcionários se perguntassem o que estava acontecendo, e se havia algo negativo acontecendo na empresa que eu não estava dizendo a eles.

Houve uma reunião do conselho onde eu levei tantos tiros de fogo rápido de membros do conselho, que um dos meus executivos me disse depois que nunca iria querer ser um CEO e ter de passar por algo parecido. Houve coisas sobre as quais eu não posso escrever publicamente, mas que, se você já geriu uma empresa, sabe do que estou falando. Às vezes, é realmente complicado estar no comando.

Mas, apesar da tensão que o empreendedorismo colocava em minhas finanças, minha saúde e meus relacionamentos pessoais, eu continuei firme, porque queria ser bem sucedido. E, finalmente, sim, eu me tornei um milionário. Levou apenas 15 anos.

Ao longo do caminho, eu aprendi muito. Além de criar mais de 100 empregos, eu ajudei a construir algo útil para milhares de empresas em todo o mundo. Mas quando ouço Bernie falando, me sinto como se eu fosse o problema da América. Eu sou um daqueles milionários que deveriam pagar mais impostos. Eu sou o cara mau. Eu sou o homem branco que só é bem sucedido porque tudo me foi entregue de mão beijada. Eu não mereço o dinheiro que fiz. Todas as coisas que eu sacrifiquei não importam. O estresse adicional que eu enfrentei não importa. Os riscos que corri não importam. De acordo com Bernie, o mundo precisa de menos pessoas como eu e mais pessoas como os estudantes inteligentes de Yale, que se formam em algo inútil, viajam o mundo e, depois de graduados, com US $ 100.000 em dívida, esperam que pessoas como eu devam pagar suas dívidas através de impostos mais altos.

Sim, a economia é manipulada. Qualquer estrutura econômica irá favorecer alguns em detrimento de outros.  Mas a coisa maravilhosa sobre a América é que, se você estiver disposto a fazer os sacrifícios certos, você pode conseguir o que quiser.  Infelizmente, nós americanos começamos a acreditar que as realizações não exigem sacrifícios. Mudar essa atitude é o primeiro passo para tornar-se mais bem sucedido.

(*) Rob May é cofundador e CEO da Talla, um desenvolvedor, com sede em Massachusetts, de um assistente virtual inteligente para equipes de recrutamento.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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