Sobre as “As Seis Lições” de Ludwig Von Mises
O primeiro tema, “O capitalismo”, se inicia com uma abordagem de uma das grandes falácias atribuídas a esse sistema: o rótulo de que existe um grupo de exploradores e outro de explorados. Mises explica que, na verdade, existe uma dependência dos empregadores em relação aos seus empregados, pois são eles os principais consumidores dos bens das indústrias e que, por isso, os donos das empresas deveriam prestar um serviço de “servidão” à classe trabalhadora.
Ainda neste tema, ao contrário das críticas de que as indústrias buscassem satisfazer somente as classes privilegiadas, uma das principais afirmações foi que o princípio fundamental do capitalismo é “produção em massa, para satisfazer as necessidades das massas”. Com isso, o austríaco explicou que o lema da indústria capitalista era justamente suprir a carência da população. O economista fundamenta essa afirmação ao citar o período da Revolução Industrial na Inglaterra (1760-1830), em que se pôde observar um crescimento expressivo do número de habitantes. Nesse caso, a população mais do que dobrou e, com isso, conseguiu refutar a teoria elaborada por Karl Marx de que os trabalhadores estavam ficando cada vez mais pobres e a população mais miserável. O que se pôde observar, na verdade, foi justamente uma melhoria nas condições gerais da sociedade e uma mobilidade social, em que o rico poderia se tornar uma pessoa pobre dependendo de suas atitudes e o pobre teria oportunidade de se tornar rico com o passar dos anos.
Se hoje temos uma população cerca de dez vezes maior que naquela época, devemos aos progressos sociais obtidos pelo capitalismo e consequentemente à acumulação de riquezas, que, a partir de uma livre concorrência, permite acesso a invenções e inovações, proporcionando claras melhorias no padrão de vida, principalmente garantindo acesso aos itens básicos para sobrevivência.
Já na segunda palestra, “O socialismo”, um dos grandes argumentos apontados é justamente a limitação da liberdade que o sistema traz. Mises indica que é impossível tratar de liberdade econômica sem abordar as outras liberdades como a de expressão, pensamento e imprensa. Em um sistema avesso ao livre mercado, onde o governo é responsável por todas as cadeias de produções, as liberdades são ilusórias. Em contrapartida, o autor cita novamente a harmonia regida pela economia de mercado, em que todos servem e são servidos, indicando que quem dita o sistema são justamente os consumidores, através das demandas de mercado. O empresário teria então o papel de entender esses movimentos e assim ofertar soluções para a população através da produção, gerando riquezas e crescimento.
Na terceira lição, Ludwig Von Mises divaga sobre “O intervencionismo” do governo. Em sua visão, é necessária a existência de um governo, contudo, este deveria ser mínimo, apenas para garantir a liberdade e segurança dos cidadãos. Para o liberal, uma intervenção leva a uma série ilimitada de outras intervenções, assim prejudicando o livre mercado e a concorrência. O estudioso continua o capítulo alertando quanto aos perigos que uma alteração no mercado pode trazer ao equilíbrio entre produtores e consumidores, usando como exemplo alguns movimentos que trouxeram como principal resultado uma elevada desvalorização da moeda – e esse problema é tratado justamente no quarto ensinamento do livro.
“A inflação” tem como definição o aumento dos preços alinhado com a queda do poder de compra. Ao encarar esse tema, o autor faz uma crítica justamente ao processo inflacionário causado pelo governo ao aumentar a quantidade de papel-moeda na economia com o objetivo principal de financiar os seus gastos e aumentar os empregos. Na visão do especialista, esse movimento acaba não sendo sustentável no longo prazo, gerando incertezas à população, o que acarreta mais pressão nos preços. A verdade é que, quando o povo perde a confiança na capacidade do controle do governo, a consequência é o colapso financeiro desse país.
Ao palestrar sobre “Investimento Externo”, Mises o defende como um fator definitivo e importante no desenvolvimento dos países. Para o pai da economia austríaca, o investimento externo traz uma elevação de capital e consequentemente um aumento do nível de renda da população. Um dos exemplos usados foi o da Alemanha, que conseguiu se reconstruir e alcançar a posição de país desenvolvido rapidamente graças ao capital investido, inclusive pela própria Inglaterra, na sua economia após a queda na Segunda Guerra Mundial. O economista indica a importância de promover uma estabilidade política que atraia o capital internacional e, para isso, é necessária liberdade para que os investimentos respeitem a observância do mercado.
Por fim, a série de palestras termina com a sexta e importantíssima lição sobre “Política e ideias”. O seu principal ponto foi enfatizar a importância da liberdade. Não existe liberdade política ou social sem liberdade econômica. Sua mensagem final para os argentinos, e para o mundo, foi “Ideias, e somente ideias, podem iluminar a escuridão”, ou seja, devemos passar à frente as boas ideias para entenderem que não existe outro caminho para crescimento se não o da liberdade.
Dessa forma, o livro, além de ser uma excelente introdução ao pensamento econômico da escola austríaca, é uma verdadeira aula sobre economia, crescimento populacional e desenvolvimento dos países.
*Daniela Cade é colaboradora no Instituto Líderes do Amanhã.
Disponível em: https://origemdapalavra.com.br/palavras/licao/#. Acesso: 28, janeiro, 2023.
Dicionário Etimológico: etimologia e origem das palavras, 2008-2023. Disponível em: https://www.dicionarioetimologico.com.br/lecionar/. Acesso em: 28, janeiro, 2023.
Mises. Ludwig Von. “As Seis Lições”. Tradução de Maria Luiza Borges, Editora LVM, 9a Edição – São Paulo, 2018.
Mises. Ludwig Von. “As Seis Lições”. Tradução de Maria Luiza Borges, Editora LVM, 9a Edição – São Paulo, 2018. (página 38)
Mises. Ludwig Von. “As Seis Lições”. Tradução de Maria Luiza Borges, Editora LVM, 9a Edição – São Paulo, 2018. (página 166)
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