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Resenha: As Seis Lições

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“Ideias, somente ideias, podem iluminar a escuridão” é, provavelmente, a frase mais citada de Mises, pronunciada nas duas últimas palestras transcritas em As Seis Lições. O livro, lançado pela primeira vez em 1979, é a transcrição de seis palestras dadas pelo economista austríaco em junho de 1959 na Universidade de Buenos Aires. Nascido em 1881, Ludwig Edler von Mises foi grande defensor das liberdades individuais e do livre mercado. O livro, lançado postumamente, foi organizado por sua esposa e aborda diversas questões essenciais para a defesa da liberdade individual.

Com linguagem clara e direta, “As Seis Lições” é uma excelente porta de entrada aos leitores que queiram se aprofundar no pensamento econômico, político e social de Mises. Nesse sentido, vale frisarque o autor sentiu na pele os efeitos de experiências totalitárias do comunismo soviético, do fascismo e do nazismo e do intervencionismo dos regimes democráticos.

A primeira lição do livro tem como tema central “O Capitalismo”. Mises faz uma recapitulação história desde as origens do sistema, estabelecendo o “começo da produção em massa como o princípio básico da indústria capitalista.” Justamente, a produção em massa surge para satisfazer as necessidades das massas e diferenciar o trabalhador do consumidor é uma tarefa praticamente impossível. “O fato é que todo consumidor tem de ganhar, de uma maneira ou de outra, o dinheiro que gasta, e a imensa maioria dos consumidores é constituída precisamente por aquelas mesmas pessoas que trabalham como empregados nas empresas produtoras dos bens que consomem.” Sendo livres para escolher onde e por quanto querem trabalhar, não faz sentido comparar donos de empresas com reis ou qualquer tipo de autoridade soberana, uma vez que, sem a indústria que administra e os clientes a quem presta serviços, esse rei perde seu ˜reino˜.

Em seguida, segunda lição trata justamente do ideal oposto ao da primeira: O Socialismo. Afinal, o que é mercado? Mises afirma que esse mercado não é um lugar, mas sim um processo, é a forma como as pessoas fazem trocas, produzem e consomem, o que contribui para o funcionamento de um ecossistema complexo de relações. Viver sem um mercado, sem poder escolher como se quer viver, em que o governo decide tudo, todas as liberdades dos indivíduos são afetadas e, pior, são ilusórias. A economia de mercado é a economia livre e, nela, “todos prestam serviços aos seus concidadãos e são, em contrapartida, por eles servidos˜. Assim, foi a essa harmonia de interesses que os socialistas se manifestaram contra, afirmando existir um “conflito inconciliável de interesses” entre grupos da sociedade, apegados a moldes pré-capitalistas, segundo os quais a sociedade se dividia em status hereditários. Se os pais pertenciam a um status, os filhos herdavam isso até o final da vida e assim por diante. As castas mais altas eram mais privilegiadas e as mais baixas, só desvantagens. Contudo, em uma sociedade capitalista, a mobilidade social acontece naturalmente e é mais do que possível alcançar “status” mais altos, movimento coincidentemente impossível em sociedades socialistas.

A última frase do capítulo faz uma boa comparação entre os dois modelos econômicos das primeiras lições: “Nos países socialistas, ao invés de ser o vendedor, é o comprador que deve ficar agradecido. Não é o cidadão quem manda; quem manda é o Comitê Central, o Gabinete Central. Este comitês, os líderes, os ditadores, são supremos; ao povo cabe simplesmente obedecer-lhes.”

É incrível como todos os temas abordados ao longo do livro caem como uma luva na situação que vivemos atualmente no Brasil. Governos assistencialistas no poder e um povo cada vez mais exigente de auxílios para que sigam suas vidas pacatas, cada vez menos racionais. A terceira lição de Mises trata do “Intervencionismo” e, como em uma “economia de mercado, o papel do governo é resumido a proteger o funcionamento harmônico dessa economia contra a fraude ou a violência originadas dentro ou fora do país”. Se o governo é dono de empresas e instituições, vivemos em uma economia mista. E esse “misto” traz realmente uma mistura de papéis e conflito de interesses. A capacidade de uma empresa pública sobreviver por um longo período em déficit é bem diferente de um indivíduo que tente tocar seu negócio nessas mesmas condições. É “tranquilo” quando você tem o papel de tributar a população para cobrir suas falhas de gestão. Aceitando esse prejuízo, o povo ajuda a pagar as contas de um governo que quer executar tarefas demais, ou melhor, controles demais.

O intervencionismo é um ato do governo querendo interferir nos fenômenos de mercado. E ele falha em todos os aspectos. “Todas as medidas de intervencionismo governamental têm por objetivo restringir a supremacia do consumidor.”

Diretamente relacionada ao intervencionismo está “A Inflação”, o tema principal da quarta lição de “As Seis Lições”. Para solucionar os problemas financeiros do governo, a solução é simples: cobrar impostos dos cidadãos. Entretanto os governos apostam em um segundo método: imprimir moeda. Assim, se inicia o círculo vicioso da inflação: mais dinheiro no mercado, com a mesma quantidade de mercadorias sendo produzidas, causa um aumento na demanda pelas mesmas mercadorias. A consequência é o aumento dos preços. Quem tem acesso ao dinheiro adicional logo no início desse processo de inflação é beneficiado. Quem tem acesso a esse dinheiro “extra” tempos depois sofre as consequências de terem que pagar mais caro por mercadorias, recebendo o mesmo ou um pouco mais, mas não com a mesma proporção de aumento.

Como o aumento dos impostos é, geralmente, uma solução que agrada menos a população, o governo considera a inflação um método melhor para arrecadar fundos para pagar suas contas. No fim das contas, a inflação acaba sendo usada como uma política, considerada menos ruim que o desemprego.

No penúltimo capítulo e lição do livro, Misesaborda “O Investimento Estrangeiro” e sobre como o que falta para países em desenvolvimento alcançarem o padrão de vida médio dos Estados Unidos é capital. Nações mais avançadas se diferenciam pela quantidade de capital investido per capita e o investimento de capital externo sempre desempenhou papel relevante no aumento desse número, principalmente pela implantação de indústrias modernas. Países em desenvolvimento precisam de capital e de liberdade para aplicar esse dinheiro sob a lógica do mercado e não do governo. A industrialização é um requisito fundamental para que haja uma maior igualdade econômica. Ter mais capital disponível é a única maneira de fomentar a industrialização. Proteger um país de investimento externo, literalmente, não agrega em nada ao próprio país.

Para fechar, a sexta lição trata de “Políticas e Ideias”. Mises começa o capítulo falando sobre a impossibilidade de dissociar aspectos políticos e econômicos dos homens e da sociedade como um todo. Ele afirma que “eventos políticos são a consequência inevitável de mudança das políticas econômicas.˜ Mises defende que não são mais partidos políticos, mas grupos de pressão, que buscam obter privilégios à custa do restante fora do grupo. Chega-se ao ponto de membros de partidos diferentes, mas que fazem parte de um mesmo grupo de pressão, passam a atuar juntos em detrimento dos partidos de origem. Cada grupo de pressão desses representa uma minoria e sabe-se que minorias não conquistam muito por si só e precisam se associar a outras minorias que tenham interesses em comum. Nessas representações de diversas minorias, a nação como um todo nunca é representada.

“Tudo o que ocorre na sociedade de nossos dias é fruto de ideias, sejam elas boas, sejam elas más. Faz-se necessário combater as más ideias.” Assim, Mises vai encerrando sua obra, afirmando que boas ideias devem ser conhecidas por todos para que saibam quais são e, além disso, saberem reconhecer as que erradas. Mises encerra otimista,afirmando que acredita que as próximas gerações ajudariam na missão de substituir más ideias por boas, rumo a uma economia livre.

O livro é uma excelente porta de entrada para as ideias liberais na mente do leitor. Com exemplos práticos, baseado em fatos e dados, Mises mostra que não há outro modo de prosperarmos como sociedade a ser lutando para sermos cada vez mais livres.

*Marina Ferreira – Associada I do Instituto Líderes do Amanhã.

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