As razões para meu pessimismo em relação ao futuro da economia brasileira
ADOLFO SACHSIDA*
Em junho desse ano, uma notícia da CBN me chamou a atenção: a Kombi iria finalmente sair de linha no Brasil. O motivo: as exigências do governo federal referente a freios ABS e airbags não eram economicamente viáveis para esse carro. Duas semanas atrás o governo recuou em suas exigências, e depois mudou de opinião de novo, mas agora permitindo que a Kombi continue. Esse exemplo simples mostra o quão despreparada é a equipe econômica. Quando seu time tem Pelé e Garrincha você sabe que pode vencer a qualquer momento. Quando seu time tem Mantega, Belchior e Augustin, acontece o contrário, você sabe que pode perder a qualquer momento. Esse é o primeiro motivo para meu pessimismo: a péssima qualidade da equipe econômica.
A Caixa Econômica Federal (CEF) foi capitalizada com ações da Petrobras. Pois bem, o valor de mercado das ações da Petrobras caíram, o que a CEF fez? NADA. O governo autorizou a CEF a marcar essas ações com o valor da série histórica (em vez de marcá-las a mercado). O mesmo procedimento foi feito em relação ao BNDES. Esse é o segundo motivo de meu pessimismo: o governo esta escondendo verdadeiros esqueletos no balanço contábil de algumas empresas estatais.
A inflação está sendo combatida no Brasil com medidas artificiais: congelamento de preços de alguns insumos básicos (notadamente combustíveis e energia), e desonerações tributárias com o fim de evitar reajustes de preços. Esse é o terceiro motivo de meu pessimismo: o Banco Central do Brasil (BACEN) passou a contar com medidas heterodoxas para controlar a inflação.
As contas públicas estão em situação delicada, as operações BNDES-Tesouro escondem uma verdadeira conta movimento dentro do orçamento federal. Os saldos de restos a pagar não param de crescer. Gastos vultuosos são excluídos da conta do superávit, e operações no mínimo suspeitas são feitas com o claro objetivo de inflar o superávit primário. Esse é o quarto motivo de meu pessimismo: a contabilidade criativa adotada com naturalidade pelo governo.
O ano de 2014 ainda nem começou, mas uma certeza todos tem: os gastos públicos irão aumentar. Seja em decorrência das obras para a Copa, seja em decorrência das eleições. Esse é o quinto motivo de meu pessimismo: o descaso que esse governo tem com a responsabilidade fiscal.
O aumento exacerbado do crédito levanta dúvidas sobre a capacidade futura de pagamento da economia. Em novembro, o estoque de crédito teve alta de 1,5%, acumulando alta de 14,5% em 12 meses. O financiamento imobiliário teve alta de 2,2% no mês, atingindo 8,1% do PIB (ante 6,7% em relação ao mesmo período de 2012). Alguém acha normal uma expansão dessa magnitude numa época de crescimento econômico baixo? Esse é o sexto motivo de meu pessimismo: os sinais contraditórios emitidos pelo BACEN. Por um lado tenta apertar a política monetária, por meio de aumentos na taxa de juros, mas por outro lado expande o crédito.
Enfim, uma combinação de políticas fiscais e monetárias equivocadas são a principal razão de meu pessimismo em relação ao futuro da economia brasileira. Mas não é só isso, existem diversos outros problemas que sequer estão sendo endereçados no momento. Entre eles ressalto a perda do dividendo populacional, e a piora consistente das contas da previdência, a confusa legislação tributária e trabalhista, e a dificuldade enorme gerada pela burocracia e órgãos de controle no Brasil. Nos EUA existe uma chance enorme de uma revolução energética com o xisto betuminoso, e o Brasil parece sequer entender esse risco. Me parece também que temos uma bolha imobiliária no país, assunto este que parece ser proibido no governo. Acrescente-se a isso as constantes mudanças de regras feitas pelo governo, que em última instância afugentam o investidor privado, piorando ainda mais a já baixa produtividade da economia brasileira.
O desemprego esta num dos patamares mais baixos da história. A renda do trabalhador ainda esta alta para padrões históricos, e a taxa de juros também esta num patamar baixo em relação a série histórica. Ainda assim o endividamento médio do brasileiro atinge 44% de sua renda (31% se excluídos os financiamentos imobiliários). O que irá ocorrer em nossa economia quando o desemprego aumentar? O que irá ocorrer em nossa economia quando a taxa de juros subir?
Não ocorrerá hoje, e não será amanhã, mas cedo ou tarde as taxas de juros nos Estados Unidos irão subir. Quando isso ocorrer será um despertar doloroso para a economia brasileira. A partir de 2015 os efeitos da irresponsabilidade fiscal e monetária começarão a cobrar seu preço. Seguindo no caminho que estamos teremos outra década perdida a frente.
*ECONOMISTA DO IPEA