Quem responde pelas decisões políticas desastradas na Petrobras

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Enquanto o país acompanha aturdido o desenrolar da mais complexa e intrincada teia de corrupção da História, outras notícias oriundas da bandalheira em que se transformou a administração da Petrobras desvendam o colossal desperdício de recursos públicos e privados, proveniente não da roubalheira em si, mas de decisões gerenciais absurdas, apoiadas exclusivamente em interesses políticos ou no voluntarismo de governantes que, mesmo sem qualquer experiência empresarial pregressa, insistem em querer saber mais do que todo mundo a respeito de tudo.

Depois de ver a Petrobras obrigada a descontinuar os projetos de construção de duas refinarias no Nordeste, quando os mesmos já haviam consumido 2,7 bilhões de reais, porque foram considerados econômica e financeiramente inviáveis por técnicos da área; depois de ver o complexo “Comperj”, que ainda nem foi inaugurado, mas já consumiu mais de 20 bilhões em investimentos, recentemente avaliado por empresas independentes com valor econômico ZERO, assistimos agora à débâcle do setor naval tupiniquim, mais um (dos muitos) sonho magalômano do ex-presidente Lula, que consumiu bilhões de reais em recursos públicos e privados e, agora, corre o risco de virar sucata.

Reportagem deste domingo do jornal O Globo informa que

A indústria naval brasileira experimentou uma reviravolta nos últimos tempos. Da euforia da retomada na última década, quando crescia 19,5% ao ano, o setor passou a um quadro de demissões em massa e incertezas, em razão dos casos de corrupção que assolam a Petrobras e parte de seus fornecedores. A recuperação do setor, praticamente inexistente desde os anos 1980, foi um dos pilares do governo de Luiz Inácio Lula da Silva desde o primeiro mandato em 2003, quando anunciou em palanques a construção de plataformas para a Petrobras no país. A medida era parte da política de conteúdo local, impulsionada pela oferta de financiamento público. Da pujança naval — decantada em discursos de Lula e da presidente Dilma Rousseff durante as dezenas de visitas aos empreendimentos — resta agora apenas a lembrança das promessas e o silêncio das autoridades, além de milhares de trabalhadores desempregados em estaleiros de todo o país.

Ninguém duvida da inteligência do ex-presidente.  Entretanto, o indigitado nunca teve qualquer preparo intelectual (estudou somente até o primário) e, muito menos, empresarial (sua única experiência similar foi na direção do Sindicato dos Metalúrgicos).  Apesar disso, ele insistiu, durante os oito anos de seu mandato, em querer administrar a economia do país de forma centralizadora, como um sábio autocrata, onipresente e onisciente.

Se Lula imaginava que os mais distantes rincões nordestinos precisavam de refinarias para alavancar o seu desenvolvimento, então mandava construí-las, sem qualquer preocupação com análises técnicas ou econômicas.  Pouco lhe importava se os combustíveis que ali seriam produzidos teriam de ser exportados para locais distantes, pois não havia demanda local.  Pouco lhe importava tampouco que naqueles locais não houvesse mão-de-obra qualificada para tocar o empreendimento, nem infraestrutura apropriada (estradas, portos, etc) para escoar a produção.

Do alto da sua grande sabedoria intuitiva, Lula também achava que políticas de conteúdo local são ótimas alavancas para o desenvolvimento, desconsiderando completamente a existência de custos de oportunidade e outras variáveis econômicas importantes, como vantagens comparativas, por exemplo.  Malgrado a sua decantada inteligência, Lula sempre foi um ignorante soberbo.  Como um deus, achava que bastava estalar dos dedos e clamar “faça-se a luz”, e a luz se faria.

Foi assim que ele resolveu que o Brasil seria uma potência mundial da construção de plataformas e sondas de petróleo, embora não dispusesse de know-how, de tecnologia, de mão-de-obra qualificada, de infraestrutura, de nada.  Julgava que bastava o governo colocar dinheiro e fornecer os incentivos ao setor privado e a coisa aconteceria naturalmente.  Deu no que deu…

Esses são apenas alguns poucos exemplos de como as decisões políticas podem prejudicar a economia do país.  Na verdade, se pusermos na ponta do lápis os prejuízos causados pelas decisões políticas na Petrobras, eles talvez superem até mesmo os prejuízos derivados da corrupção naquela estatal.  A diferença é que, no caso da corrupção, sempre podemos ter esperança de que os responsáveis serão julgados e condenados.  Já os equívocos da ingerência política serão também suportados pela sociedade inteira, mas ninguém jamais será punido – não existe previsão legal para crimes de incompetência, voluntarismo, etc.

Apesar de todo esse descalabro, da enorme quantidade de recursos desperdiçada, a imensa maioria dos brasileiros ainda prefere que a Petrobras continue estatal, possibilitando novas aventuras e novos prejuízos no futuro.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

3 comentários em “Quem responde pelas decisões políticas desastradas na Petrobras

  • Avatar
    23/03/2015 em 11:13 pm
    Permalink

    Trecho do artigo “Duas considerações sobre estado e mercado”, do brilhante Thomas Woods:

    “Já me perguntei várias vezes qual seria a reação das pessoas se uma empresa privada fosse assim tão negligente e tão obviamente incapaz de cumprir suas tarefas. Iríamos para sempre ouvir sermões sobre a incompetência do mercado e sobre a necessidade de regulamentações mais estritas e de supervisão estatal mais intensa. Os fracassos do estado, por outro lado, quando são corretamente percebidos, geram apenas gracejos e abanos negativos de cabeças. Sim, ocasionalmente um político flagrado em corrupção renuncia, mas ninguém perde o emprego pelo fato de os Correios serem caros e ineficientes ou porque a polícia não pode fazer nada em relação ao roubo de carros. O estado, de alguma forma, conseguiu se isentar da obrigação de ter de seguir os mesmos padrões de comportamento e performance que os agentes privados são obrigados a observar — e, pior ainda, a maioria das pessoas concorda e aceita que tudo seja assim.

    “Porém, o exemplo mais perfeito dessa fraude governamental está mesmo nas contas públicas. Ano após ano, o governo promete que vai equilibrar o orçamento. E, ano após ano, os déficits vão se acumulando. Como consequência, a dívida interna, a qual você e seus descendentes terão de pagar no futuro, vai aumentando — dívida essa, convém enfatizar, que você não pediu e que não foi feita por você, mas que você terá forçosamente de pagar. Alguém é punido por esse crime? Alguém no Tesouro é demitido? Alguma coisa, qualquer que seja, acontece com os responsáveis? Os jornais apenas noticiam o fato como uma coisa corriqueira. Amanhã essa notícia já será velha.

    “Agora, imagine se uma empresa privada cujos serviços você não contratou fizesse uma dívida e lhe mandasse a conta? Mais ainda: imagine se ela fizesse isso com um grande número de pessoas? Dificilmente ela chegaria ao fim do mês.

    “Que o governo tenha conseguido corromper nosso senso de justiça a ponto de poder perpetrar sobre seres humanos perfeitamente conscientes fraudes tão transparentes como essas, é apenas mais um argumento a favor da sociedade livre e voluntária e contra o estado.”

    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=668

    • João Luiz Mauad
      24/03/2015 em 11:41 am
      Permalink

      Caro Eduardo,

      Obrigado por seus comentários sempre lúcidos, esclarecedores e oportunos. É gratificante saber que temos leitores como você.

      Forte abraço
      Mauad

Fechado para comentários.

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