Por que rejeitamos novos nomes na política?
O Paradoxo de Garschagen demonstra que os brasileiros não confiam nos políticos, mas amam o Estado – composto por esses mesmos políticos. Há outra contradição que parece reger esse peculiar momento de nosso período republicano: nós não nos sentimos representados pelos políticos que aí estão, mas insistimos neles, e não em novidades que eventualmente apareçam.
Quando o nome de Luciano Huck começou a aparecer no noticiário como possível candidato à presidência da República a internet veio abaixo. Ele recebeu críticas de todos os lados. Todos os lados mesmo. Foi ironizado por Dilma e por Lula, por membros do partido que estava negociando a candidatura, pela extrema esquerda, por Jair Bolsonaro e seus apoiadores e, até mesmo, por Aécio Neves, por quem fez campanha em 2014.
O propósito deste texto não é defender uma possível candidatura de Luciano Huck. Poderia ter utilizado outros exemplos, como o de João Amoedo do partido Novo, que, mesmo desconhecido para o grande público, já possui rejeição superior a um quinto do eleitorado. É claro que o novo não é uma panaceia que certamente nos levará para algo melhor. Este texto sequer trata dos méritos e deméritos dos posicionamentos e ideias de Luciano Huck. O intuito aqui é discutir esse paradoxo utilizando o comunicador como plano de fundo por ele ter sido o melhor representante desse fenômeno.
Não é de hoje que o Brasil vive uma crise de representatividade. Evidenciada a partir de 2013, ela se acentuou após a acirrada disputa eleitoral de 2014, em que a rejeição aos dois candidatos que foram para o segundo turno era enorme até mesmo entre seus eleitores. Quase um terço do eleitorado não votou em ninguém. Após isso, o sentimento de desilusão do eleitorado veio com o estelionato eleitoral promovido por Dilma Rousseff, tendo sido reforçado com seu posterior impeachment – ocasião em que durante a maior parte de 2015 a oposição se acovardou – e com o avanço da Lava Jato, que mirou toda a oligarquia política nacional.
Como diz Rodrigo da Silva, “num tempo em que as instituições políticas estão em descrédito e de saturação dos eleitores dos discursos políticos profissionais, não ser um velho cacique com uma longa trajetória na área é quase como estar abençoado por um véu sagrado – o da inimputabilidade”. Os ventos são favoráveis a um verdadeiro outsider da política.
O perfil jovem, empreendedor, dinâmico, comunicador, humanista e ativo nas redes sociais despertou o interesse de Paulo Guedes em Huck. Entusiasmado, o apresentador começou a apoiar movimentos com bandeiras de mudanças políticas, como o movimento Agora! e o Renovação-BR, organizações que podem eleger pessoas que poderiam compor parte de sua base em uma eventual vitória eleitoral.
Luciano Huck aproximou-se de Paulo Hartung, governador do Espírito Santo, responsável pelo melhor ajuste fiscal do país. Embora do PMDB, ele foi crítico da alta de impostos da União e da renegociação da dívida dos Estados. Equilibrado, afirma sempre que pode não existir soluções simples para o Brasil. A ideia era tê-lo como seu vice em uma disputa presidencial. Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, é “guru econômico” de Huck e assumiria a Fazenda em um eventual governo. Apesar desses movimentos e de um índice de aprovação de 60%, dias após Luciano informou que não pretende entrar na política por enquanto.
Há quem tenha argumentado que a desistência foi um reflexo das críticas que recebeu, que o desestimularam-no. Não apenas discordo como acredito que Huck ainda se lançará em breve.
No entanto, chama a atenção o fato de que, embora haja um enorme anseio por renovação política, grande parte das críticas a Huck tratou de desqualificá-lo justamente por ser alguém de fora da política e por ser um apresentador de televisão não teria seriedade, como se nossa classe política atual fosse extremamente virtuosa.
Mais que polarização, as evidências mostram grande descontentamento de todo o eleitorado. Tão somente 94% dos eleitores não se sentem representados pelos políticos em quem já votaram, ao passo que mais de 70% dos eleitores não possuem nenhum partido político de preferência.
Quem mantém os alicerces do establishment político são os políticos carreiristas, que dominam as máquinas partidárias. Paradoxalmente, em grande parte as mesmas pessoas que não confiam nos velhos caciques foram contrárias ao nome de Huck. Esta é uma grande barreira a qualquer tentativa de renovação política, tanto de nomes quanto de qualidade de nossos quadros. E é essa barreira que o liberalismo terá de enfrentar para conseguir melhorar as instituições brasileiras.