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Por que o imposto inflacionário vem crescendo tanto no Brasil?

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A elevação do IPCA, nos últimos meses, vem sendo acompanhada pelo mercado com bastante atenção. Desde o início dos anos 2000 não se viam aumentos percentuais tão expressivos, fazendo com que o mercado projete um aumento de 8,23% do índice de inflação para este ano. Entretanto, o que tem causado tal aumento?

Antes é necessário distinguir inflação de inflação de preços. Inflação nada mais é do que o aumento da quantidade de moeda na economia. A maioria dos bens, quando a oferta destes excede a demanda pelos mesmos, fica mais barata. Dessa forma, quando a oferta monetária aumenta mais que a demanda por moeda, esta perde valor, bem como seu poder de compra.

Já a inflação de preços é o aumento dos preços dos bens da economia. Tal aumento pode ser causado por uma redução na oferta de alimentos, por exemplo, ou aumento da demanda por determinados bens. Entretanto, os efeitos desses eventos não duram para sempre, dado que o mercado consegue ajustar a quantidade demandada e ofertada dos bens da economia. Contudo, a inflação acaba por influenciar a inflação de preços, dado que a moeda fica com um menor poder de compra e o indivíduo acaba por poder comprar uma menor quantidade de bens. Com esses conceitos em mente, podemos prosseguir.

Desde 2009, o governo decidiu estimular a demanda, através da forte concessão de crédito. Para tanto, as taxas de juros foram reduzidas, fazendo com que fosse injetado mais dinheiro na economia. Além disso, os gastos do governo foram elevados, fazendo com que este tivesse que emitir cada vez mais títulos para financiar o aumento de gastos. Com isso, a dívida pública cresceu, como é possível notar a seguir.

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Isso gera um problema, uma vez que, se há mais títulos do Tesouro em poder dos bancos comerciais, a taxa SELIC teria que aumentar (devido à menor quantidade de moeda na economia). Entretanto, como a SELIC é fixada pelo Banco Central, este, para mantê-la no nível desejado, tem que injetar mais dinheiro no mercado interbancário. Como esse dinheiro vai para os bancos comerciais, a oferta de moeda é expandida, dado que essas instituições podem emprestar mais dinheiro. Ou seja, as recentes elevações da SELIC para reduzir a quantidade de moeda na economia estão sendo em vão, dado que, na outra ponta, o governo está expandindo a oferta monetária.

Para piorar a situação, o governo está ficando sem recursos para bancar a emissão crescente de títulos no mercado. Isso porque o superávit primário (economia feita para pagar os juros da dívida) vem caindo nos últimos anos, mesmo com as “pedaladas fiscais”. Por isso, a equipe econômica estipulou uma meta de 1,2% do PIB para o superávit primário, que será alcançada através de um ajuste fiscal.

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O problema é que o ajuste do ministro Levy será composto, basicamente, por aumento de impostos. Segundo o especialista em finanças públicas Mansueto Almeida, o aumento da carga tributária foi da ordem de R$31,5 bilhões, ao passo que o corte nas despesas do governo será de R$19 bilhões. Ou seja, dois terços do ajuste são compostos por elevação da carga tributária.

Um ajuste fiscal sério deveria ocorrer através de um corte maciço dos gastos públicos, ao passo que a carga tributária deveria ser reduzida. Com isso, os indivíduos teriam mais recursos para consumir e os empresários teriam mais incentivo para investir. No final, a arrecadação do governo aumentaria através do aumento da atividade econômica do país.

Reduzindo os gastos, o governo não precisaria emitir mais títulos para financiar suas atividades e o Banco Central não precisaria injetar dinheiro no mercado interbancário para manter a SELIC no nível fixado. Os dados a seguir mostrarão como tais injeções fizeram com que a oferta monetária fosse expandida.

Este gráfico mostra o crescimento dos meios fiduciários na economia, que nada mais são do que o dinheiro eletrônico utilizado. Um exemplo disso são os cartões de crédito ou de débito, bem como cheques, dado que eles não possuem lastro (um valor de referência dentro dos cofres dos bancos comerciais ou do Banco Central). O crescimento dos meios fiduciários eleva a quantidade de moeda na economia, principalmente porque os bancos comerciais passam a ter mais dinheiro para emprestar.

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Esse gráfico mostra o crescimento do crédito no período. Tal fato não apenas elevou o endividamento das famílias, como também fez com que mais moeda fosse injetada na economia. Logo, como foi dito no início do texto, não adianta o Banco Central elevar a taxa de juros para reduzir a oferta monetária se, na outra ponta, o governo acaba injetando mais moeda no sistema.

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Analisando o IPCA dos últimos meses é notável a participação dos preços monitorados no índice. Estes são os preços de produtos que são controlados pelo governo, tais como: gasolina, energia elétrica, gás de cozinha, remédios, planos de saúde, etc. Dado que, para segurar o índice de preços, o governo segurou o preço destes produtos, muitos ficaram defasados.

Como essa intervenção estava gerando problemas para o setor elétrico, para a Petrobras e até mesmo para o próprio governo, neste ano a defasagem foi corrigida, fazendo com que a inflação dos preços administrados subisse.

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O que o governo deveria fazer:

1) Reduzir o endividamento: dessa forma, o mesmo não precisará emitir títulos para financiar seus gastos crescentes. O Banco Central, por sua vez, não precisará injetar cada vez mais dinheiro no mercado interbancário para manter a SELIC no nível fixado, elevando a quantidade de moeda em circulação.

2) Aumentar o compulsório: o Banco Central fixa uma certa quantia que os bancos comerciais não podem utilizar para concessão de empréstimos e esta é chamada de compulsório. Logo, dado que atualmente é preciso reduzir a oferta de moeda, a autoridade monetária deveria elevar o compulsório. Entretanto, ano passado, o Banco Central fez o oposto e o reduziu, injetando bilhões de reais na economia.

3) Abrir o país aos produtos importados: por mais que, ao longo dos últimos anos, a inflação no setor de serviços tenha sido uma das principais responsáveis pelo aumento do índice (dado que os salários no setor cresceram mais do que a produtividade), seria possível reduzir o preço dos produtos produzidos no Brasil, mais precisamente daqueles que podem ser importados. Com a concorrência externa, o preço dos produtos nacionais seria forçado para baixo.

4) Realizar o reajuste correto dos preços administrados: por mais que um grupo de burocratas jamais saiba o preço correto da gasolina, do gás e de outros produtos cujos preços são controlados pelo governo, o mesmo não pode corrigi-los abaixo do necessário, muito menos segurá-los para conter a inflação de preços, uma vez que um dia a conta chega (e já chegou).

Portanto, a receita para reduzir a inflação brasileira é dolorosa, mas precisa ser feita para que o poder de compra da população (principalmente das camadas mais pobres) não seja ainda mais reduzido. Para tanto é necessário que o governo realize uma grande mudança na sua maneira de gerir a economia, o que, infelizmente, não ocorrerá no curto prazo.

Ludwig Erhard, ex-ministro da Economia e chanceler da Alemanha Ocidental, disse em seu livro “Bem-Estar Para Todos” que a estabilidade da moeda é um dos direitos fundamentais do homem. Infelizmente, no Brasil, não há muitos políticos que partilham da opinião de Erhard.

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Mateus Maciel

Mateus Maciel

Acadêmico da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. Colunista dos sites: Spotniks e Liberzone.

Um comentário em “Por que o imposto inflacionário vem crescendo tanto no Brasil?

  • Avatar
    04/05/2015 em 1:21 pm
    Permalink

    A “inflação de preços” deve ser chamada de “aumento de preços” para não confundir o público. Os institutos de pesquisa devem ser proibidos de divulgar índice que misture aumento de preço e inflação. Os bancos, e demais devedores, devem creditar na conta de seus clientes credores, toda zero hora de segunda-feira, a correção monetária da semana, sob pena de enriquecimento ilícito, Sou, e sempre fui, a favor da correção monetária para a inflação. Nunca gostei do Plano Real.

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