Sobre o horror irracional por tudo que seja moderno

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Durante as exaustivas últimas 24 horas, entre esperas aborrecidas por voos de conexão, passei certo tempo a engajar-me em duas discussões teóricas cujos assuntos eram diferentes, mas que partiam do mesmo problema: o horror irracional que muitos que se intitulam “conservadores” nutrem por tudo que seja moderno.

Dos excessos cometidos por certos liberais como Voltaire, que serviram de inspirações filosóficas para desdobramentos terríveis do processo revolucionário francês, deduzem que o destino da Modernidade é o esgoto e melhor seria ficar tudo como estava antes ou mesmo retroceder para aqueles idílicos tempos que não se viveram. Dizem-me que tal atitude é minoritária na “direita”, mas por vezes encontro novas manifestações desse discurso onde não esperaria e creio que não é cabível ignorá-las.

Ora, não há liberal que se preze que possa concordar com esse apreço pelo imobilismo e o obscurantismo. A tradição a que apelam, por exemplo, os iluministas escoceses, é precisamente um elo entre vivos e mortos, como autores como Chesterton ou Kirk diriam.

Tradição é continuidade, permanência; quem julga que ela tem algum valor deve estimá-la e ouvi-la (sem necessariamente lhe dar a palavra final) nas várias etapas de seu desenvolvimento, como um contínuo que, como diria Edmund Burke, se reforma para sobreviver.

Se você se identifica com essa linha de pensamento, rejeita que, na escala do tempo, se suponha uma mentalidade inteiramente nova e emancipada dos seus condicionantes passados e presentes que podem iluminá-la para o futuro. Porém, na mesma intensidade, deve rejeitar que se cortem totalmente os desdobramentos mais recentes do processo, sob pena de nos imobilizarmos.

Uma tradição que se congela no tempo, contra todos os ditames da realidade, é uma tradição que não cumpre os requisitos reformistas e já está putrefata, sobretudo quando em franca contradição com leis da natureza explicitamente demonstradas. Agarrar-se a ela sob o pretexto de ser antiga é querer dar razão aos radicais revolucionários – e declarar-se derrotado na partida antes de o jogo começar.

Por isso, escrevi contra essas e outras ideias semelhantes meu próximo livro.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, conselheiro de diversas organizações liberais brasileiras, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 11 livros.

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