Sobre a política de zero tolerância em El Salvador
Não vou discutir se ele exorbita ou não nas ações retaliatórias que seu governo coloca em prática. Pode haver excessos ou equívocos que devem ser controlados com o tempo, na medida em que a situação caótica que ele encontrou no seu país for cedendo lugar à lei e à ordem.
O que é fundamental na política de zero tolerância imposta por Bukele em El Salvador é sua premissa básica: o papel do governo é proteger os direitos individuais de cidadãos pacíficos que vivem para criar e produzir bens de que eles mesmos possam dispor como melhor lhes aprouver.
El Salvador, se mantiver esta premissa orientando o governo não apenas nas relações sociais entre os indivíduos, mas entre o governo e a sociedade, respeito à liberdade individual, propriedade privada, Estado de Direito, polícia e cortes de justiça para proteger a vida, a liberdade, a propriedade, os contratos e o livre-mercado, seja o fluxo doméstico ou com o exterior, para produtos, serviços, investimentos, recursos humanos e moedas, será a Hong Kong que a América não tem.
Bandidos que violam os direitos individuais dos outros estão abrindo mão dos seus. É óbvio que cabe ao governo cumprir com o devido processo legal, mas todos sabemos que as leis que movem a segurança e a justiça nos nossos países têm sido pervertidas para proteger criminosos em detrimento de suas vítimas.
A base filosófica dessa perversão é a ideia de que há oprimidos e opressores na sociedade, ideia essa baseada apenas na situação socioeconômica da população segundo um recorte estático do poder aquisitivo dos indivíduos observados. Para os formuladores dessa ideia, não importa como a riqueza foi conquistada. Não há análise moral, porque isso implicaria o reconhecimento do mérito de cada um para ter o que criou e produziu.
Os ideólogos, que tratam bandidos como vítimas da sociedade, não veem as relações sociais e a criação de riqueza como um filme sem início e fim determinados; eles veem como uma fotografia onde quem tem muito é culpado pelo fato de haver quem não têm nada. Sabemos que esta visão é uma falácia que encontra mercado entre os que não pensam e se deixam mover por pura emoção, seja de ódio, pena, inveja ou desprezo.
Riqueza não se distribui. Riqueza se cria através da cooperação espontânea e se adquire por meio de trocas voluntárias para mútuo benefício dos envolvidos. Cabe ao governo apenas extirpar a violência do contexto social, segregando quem inicia o uso da força e de fraude.