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Quase um século pedindo autoritarismo e insistindo nos mesmos erros

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Rui Barbosa foi um dos maiores pensadores liberais que o Brasil já teve. Em uma conferência no Teatro Lírico (Rio de Janeiro) em 20 de março de 1919, afirmou:

Tirai daí as forças armadas, a que a sua condição de consagrada ás armas veda, por incompatibilidade substancial, a ingerência coletiva na política militante; e as demais são as que, sobre todas, havia de tocar especialmente a política da Nação. No Brasil, porém, sempre se entendeu o contrário; e daí a desgraça do Brasil”. (BARBOSA, Rui. A Questão Social e Política no Brasil. In. LACERDA, Virgínia. Rui Barbosa – Escritos e Discursos Seletos, 1960, p. 399)

Já se passou quase um século e ainda estamos tentando os mesmos caminhos que há tanto nos mostram os corredores para tirania; o exato mesmo caminho que há gerações nos consagra ao opróbrio político, aos porões torturantes das nações pretensamente democráticas, ao “prézinho” das potências mundiais. O eterno “país do futuro”, todavia, de um futuro que nunca chega, pois estamos há quase 100 anos repetindo os mesmos caminhos.

Ainda estamos, após incontáveis fracassos institucionais e burrices republicanas, praticando a famigerada política autoritária, clamando por militares no governo mesmo sabendo que há quase 100 anos isso repetitivamente vem dando errado. Continuamos insistindo que o erro se transformará em acerto para o país; crendo na fé cega que proclama do alto cume da ignorância que precisamos do remédio político que ontem mesmo se mostrou veneno. Dessa vez o erro há de se converter em acerto; acredita o povo que há quase 100 anos erra o modo de ser república.

E não se trata de desprezo aos militares, mas apenas de reconhecer que seu papel não está na gerencia política – a não ser em casos extremos onde simplesmente não há condições de ser diferente. Creio que os militares são de singular importância para a própria democracia, como já expressei num texto aqui no Instituto Liberal; mas, com certeza, entre suas centenas de funções não se encontra a liderança política de uma nação republicana e democrática.

Não escrevi tantas vezes “100 anos” por mera pobreza de vocabulário, mas para termos em mente exatamente o tempo em que, na república, esquizofrenicamente insistimos em errar. 100 anos. O que nos faz crer que, se amanhã o governo for batucado por tiros de canhões e tomado por militares de alta patente, após experiências do erro do autoritarismo, dessa vez há de ser boa a experiência que há 100 anos falha? O povo brasileiro há um século padece por sua ansiedade em resolver problemas políticos através da via simples, porém, errada; ou mais, o povo padece por sua constante sede em tentar acertar através do erro historicamente comprovado!

Perdoem-me, caros seguidores e leitores, a simplicidade do texto, mas a mim simplesmente pareceu que, dessa vez, em nosso vasto vocabulário linguístico, as palavras mais adornadas se tornariam nulas e ausentes do espírito de repetição tola que procurava manter na medula textual de minha crítica. Para arguições pacóvias como o de pedir um governo militar não é preciso um Panteão de argumentos, ou uma Basílica de São Pedro de construções retóricas a fim de contrapor a latente burrice do pedido combatido.

Referência:

BARBOSA, Rui. “A Questão Social e Política no Brasil”. In: LACERDA, Virgínia Cortes de (Org.). Rui Barbosa – Escritos e Discursos Seletos. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1960, p. 399

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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