Quando Glenn encontrou o progressismo pelado

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Glenn Greenwald, o jornalista que tomou um sacode do Augusto Nunes na Jovem Pan, foi censurado pelo jornal de extrema-ultra-mega-power-oxente-esquerda que ajudou a fundar, o The Intercept. Estou rindo ― com respeito, é claro ― enquanto tento entender meus sentimentos paradoxais que me induzem a dizer: “Bem feito!” enquanto, ao mesmo tempo, fazem-me compadecer da situação do referido jornalista. Não muitas vezes vi a expressão “a revolução costuma devorar seus próprios filhos” fazer tanto sentido; no entanto, se me permitem, irei realizar um leve ajuste: “a revolução jornalística devora seus próprios fundadores”. E Glenn Greenwald ― o Verdevaldo, para os íntimos ― prova agora o “o puro creme do progressismo verde”.

Para quem não está sabendo: o Verdevaldo, com um louvável espírito de liberdade ― tenho que dar o braço a torcer aqui ―, denunciou em artigo o escândalo de acobertamento midiático das denúncias contra Hunter Biden e seu pai, Joe Biden. Hunter Biden teve vários e-mails e fotos íntimas vazados após burramente deixar um notebook para conserto e jamais voltar para buscá-lo. De cenas de sexo explícito regado a drogas a e-mails trocados com executivos do ramo de gás e petróleo da Ucrânia e China, parte do conteúdo do laptop foi tornada público pelo jornal New York Post. Foi aí então que iniciou o maior esquema ― ou um dos maiores ― de acobertamento midiático dos tempos modernos. Passou a ser proibido falar sobre os vazamentos e conteúdos encontrados no laptop do filho do candidato democrata, isso em quase toda a grande mídia mundial ― mas principalmente na mídia americana.

Tais grandes mídias, unidas ao Facebook e Twitter, num movimento de censura jamais visto naquelas terras, harmonicamente reprimiram a matéria do New York Post e todos os perfis que compartilhavam trechos, citações e até análises sobre a temática. No Twitter, especificamente falando, isso se tornou tão notório e viral que até expoentes da esquerda moderada vieram a público mostrar grande espanto com a repressão deliberada e desavergonhada da rede.

Os referidos e-mails mostraram ser aquela ponta solta no novelo, a ponta que ninguém deveria puxar, mas puxaram. Cada vez que se puxava mais a linha, mais absurdidades e indícios de corrupção iam se revelando; o que o New York Post revelou foi uma hecatombe de imoralidades possivelmente regadas a corrupções sistêmicas no coração do governo Obama.

Sem demora, a CNN e a CBS tentaram amenizar a situação; jornalistas como Leslie Stahl se limitaram a dizer que as evidências não tinham como ser confirmadas e jogou de ombro para qualquer pesquisa mais aprofundada ― pesquisa que é a função natural de um jornalista, diga-se de passagem. Thomas Rid, em um artigo ao The Washington Post, disse: “Devemos tratar os vazamentos de Hunter Biden como se fossem uma operação de inteligência estrangeira ― ainda que provavelmente não sejam”. Tudo isso após o FBI afirmar que “não foi encontrado nenhum indício de desinformação no laptop” de Hunter Biden; o próprio New York Times admitiu não existir “nenhuma evidência que mostre que as informações reveladas” pelo New York Post “sejam oriundas de desinformação russa”.

O possível tráfico de influência de Hunter e Joe Biden era um escândalo que já fedia antes de a podridão ser visível; mas sabe o que começou a feder mais que as revelações e suas imoralidades? A complacência servil e o espírito de meretriz da mídia global.

Apesar das tentativas quase louváveis de censura e descrédito da matéria, os EUA ainda têm fortes mecanismos que garantem a liberdade daqueles que a querem de fato. Matt Taibbi, jornalista com tendências progressistas, mas sincero o suficiente para não engolir o teatro de censuras, escreveu um artigo brilhante ― com farta documentação ― onde ele mostra as evidências do tráfico de influência de Joe e Hunter na troca de um promotor que estava no calcanhar da Burisma, empresa onde Hunter Biden trabalhava. Nesse sentido, mostrando, também, que a pesquisa jornalística poderia ter avançado muito mais sobre a história, caso a imprensa estivesse fazendo seu trabalho ao invés de torcer por Joe contorcendo a realidade.

Era isso que Glenn pretendia criticar em seu texto, pois até ele conseguia enxergar todo o lamaçal de fezes que jazia sob a censura dos jornais americanos e, agora, dos brasileiros também. Segundo o jornalista americano, os editores do site The Intercept não só pediram para ele retirar do texto toda e qualquer ilação críticas contra Joe Biden, o qual ele considera no mínimo suspeito das silhuetas de tráfico de influência, como orientaram a que não publicasse o artigo em nenhum outro meio.

É surreal o que está acontecendo – e digo isso, não tanto pelos possíveis crimes do ex-vice-presidente, e atual candidato, Joe Biden. O maior e real escândalo, na verdade, está na sinistra orquestra midiática em prol da censura; no coro de gados, mugindo todos a um só tempo, a fim de abafar uma história que pode reeleger o inimigo conservador. O corporativismo midiático progressista chegou a um nível bizarro de enviesamento: tenta esconder e suprimir deliberadamente possíveis evidências de um crime de Estado, tudo isso para não deixar o povo americano escolher quem eles não querem ver na Casa Branca; maquia a realidade e zomba de evidências em prol de uma visão política que adota como religião.

Os jornais estão se negando à sua principal função: informar. Se os jornais não servem para informar, resta somente a elegante e utilíssima função de recolher fezes de cachorro no quintal. Civilizacionalmente dizendo, esconder uma informação relevante e que influencia a livre escolha numa eleição é muito mais escandaloso que o próprio tráfico de influência. Moralmente dizendo, temo que os jornais americanos, que escondem as denúncias e os aprofundamentos das evidências contra Hunter e Joe, sejam mais criminosos que os Biden. Isso realmente assusta, tem toda a razão o Verdevaldo em sua revolta; o The Intercept, seguindo a entoada dos demais jornais esquerdistas da grande mídia, resolveu calar!

Por fim, o Verdevaldo deu de cara com o progressismo pelado – nem deu tempo de tapar as vergonhas e disfarçar as pelancas. Sem maquiagens fofinhas, discursos engajados e paletós de salvação mundial, o que sobra à ideologia que quer salvar a humanidade sacrificando seus fetos é tão somente o fato grotesco de uma visão escravizadora, autoritária e abafada. Nesse lado do trem, caro jornalista, não há espaço para autonomia, sinceridade e jornalismo ― o real, não o combinado. O progressismo centraliza, prostitui as liberdades individuais em prol das causas ideológicas da intelligentsia; naturalmente sacrifica no altar da “humanidade” os humanos que ousam não adotar seus dogmas. Algo tão demoníaco que o ateu George Orwell não conseguia bem investigar os pormenores sem sentir náuseas no espírito; aliás, creio que, quando Orwell se viu diante desse progresso nu, chegou até a cogitar a possibilidade de existirem demônios.

Ficam agora os meus sinceros votos para que Glenn entenda a cosmologia desse progressismo mundialista e deixe de endossar as suas causas de proveta. Que fique claro, caro Glenn, no cenário progressista, a censura não passa de uma “necessidade histórica”, uma “tarja virtuosa” colocada em nome do “bem geral”. Você só foi mais uma vítima!

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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