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Vladimir Putin e a teoria da ferradura

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Como o culto a Putin pela direita e esquerda mundiais comprova a teoria da ferradura.

“O líder da oposição mais importante da Rússia na última década, Alexei Navalny, morreu em uma prisão no Círculo Polar Ártico, informou na sexta-feira (16/2) o serviço penitenciário local.” Assim começa a reportagem da BBC News Brasil, ao relatar mais uma misteriosa morte de opositores políticos de Vladimir Putin, presidente da Rússia desde 2012, cargo do qual estará concorrendo à reeleição em março deste ano.

Não foram poucos os casos de desafetos do presidente russo cujas vidas terminaram de maneiras inesperadas — envenenamento por plutônio, queda de jet-ski, queda da sacada da suíte de hotel, suicídios, acidentes aéreos etc. –, se não suspeitas; quando não mortos, em geral, terminam em presídios ou campos de “reeducação”.

Seja como for, uma coisa, contudo, é inegável: Putin está sempre em evidência, seja na mídia ou em conversas de bar, ao melhor estilo “falem mal, mas falem de mim”. Algo deveras compreensível, considerando os mais recentes acontecimentos.

Com tamanha projeção, a qual fora intensificada a partir da invasão russa à Ucrânia autorizada por ele em fevereiro de 2022, é natural que sua figura controversa tenha se tornado alvo de debates de todos os tipos. Há, no entanto, um detalhe bastante peculiar: a união de grupos polarizados e antagônicos em torno de sua pessoa.

Apenas como exemplo, ao passar por grupos sobre geopolítica nas redes sociais brasileiras, é possível encontrar tanto bolsonaristas quanto petistas/lulistas (dois grupos que, bom frisar, não morrem de amores um pelo outro) abaixando a guarda em prol de um verdadeiro culto à imagem do líder russo, sendo este visto como modelo moral de político forte, resoluto e contrário à agenda globalista/imperialista patrocinada pelos EUA e seus aliados europeus.

Mais até, em outra irônica situação, ambos chegam a compartilhar supostos valores que Putin tenta retomar para o mundo, valores estes outrora muito importantes para a concretização da hegemonia do Ocidente e, agora, sem a mesma atenção, sua ausência explicaria o suposto iminente colapso moral da nossa civilização.

Aliás, não apenas no Brasil, como também em várias outras partes do globo, é possível ver um cenário parecido: caso de apoiadores do ex-presidente Donald Trump ou dos eleitores e simpatizantes da política francesa Marine Le Pen e do partido de extrema-direita alemão Alternativa para Alemanha (AfD, na sigla original); ou do apoio quase incondicional feito pela esquerda latino-americana à Rússia após a invasão.

Embora este fenômeno da adoração supra política a uma personalidade histriônica e/ou polêmica não seja inédito na história do País — vide como, ainda hoje, a figura de Vargas, responsável por combater com punhos de aço tanto integralistas quanto socialistas em seu tempo continua a suscitar no senso comum, da esquerda à direita, sentimentos de nostalgia pelo “Pai dos Pobres” –, ele certamente representa um problema já antigo, mas persistente. E é aí que entra a teoria da ferradura para explicar isso.

Cunhada pelo escritor francês Jean-Pierre Faye, em resumo, a teoria da ferradura conceitua o cenário onde grupos radicais de espectro político completamente opostos em ideologias e finalidades acabam por se aproximar no “modus operandi”, isto é, a forma de realizar certas ações, lembrando o formato de uma ferradura (U), na qual as pontas, embora nos extremos, estão, paradoxalmente, próximas umas das outras.

Tal cenário, no mínimo curioso, é tão comum que casos semelhantes estão disponíveis aos montes nos noticiários, como este daqui: “Nos EUA, oposição a transgêneros gera aliança entre conservadores e feministas radicais.”

Voltando ao Brasil, o culto a Putin chega a formar situações onde o próprio já manifestou, ao ser indagado acerca de qual resultado das eleições presidenciais brasileiras de 2022 mais seriam benéficas às relações entre os dois países, que “[ele] tem boas relações com Bolsonaro e Lula.”

Sejam quais forem as razões por trás do apoio de um não-russo — especialmente ocidental — ao Putin, é importante destacar como este é mais um sintoma de um problema maior: a polarização na era da pós-verdade. Em tempos onde as pessoas se isolam em bolhas virtuais com apenas sua tribo e seus dogmas, cada vez mais autoridades e personalidades inescrupulosas se utilizam da internet para espalhar a versão dos fatos que mais lhe convêm, ao melhor estilo de “todo vilão é o herói de sua própria história.”

Em uma mensagem clara — e muito válida ao próprio Putin, cuja sanha expansionista, curiosamente, se intensificou após o período de isolamento da pandemia –, Robert Greene alerta no seu livro 48 Leis do Poder, lição nº 18, que “O mundo é perigoso e os inimigos estão por toda a parte – todos precisamos de nos proteger. UMA FORTALEZA PARECE MAIS SEGURA, MAS O ISOLAMENTO EXPÕE-NOS A MAIS PERIGOS DO QUE AQUILO QUE NOS PROTEGE. FICAMOS ISOLADOS DE PRECIOSAS INFORMAÇÕES, TRANSFORMANDO-NOS NUM ALVO FÁCIL E EVIDENTE. Será melhor circular entre as pessoas, descobrir aliados, misturar-nos. A multidão serve de escudo contra os nossos inimigos.”

Enquanto nós, como sociedade, não acordarmos para o enorme problema do isolamento virtual em grupos homogêneos, situações antigas como as citadas ao longo deste artigo irão apenas se intensificar, talvez a ponto de não haver mais volta.

Portanto, é importante não fechar as portas para a opinião alheia genuína (e não criminosa, óbvio), mesmo que esta não seja de seu agrado, a fim de evitar incorrer nos velhos erros que nos levam aos mesmos pontos de antes, como se fosse um grande espetáculo de teatro reprisado há décadas, apenas trocando o figurino e os atores, mas sempre com o mesmo script e conclusão: nós, espectadores, saímos perdendo.

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