Procrastinação: força de vontade não funciona
Não há dúvidas de que ter rotinas de trabalho e processos estruturados são mecanismos que nos auxiliam a cumprir objetivos eficazmente. No entanto, tudo pode mudar – e se altera – para pior ou para melhor.
No ambiente empresarial, os processos de mudança têm sido rápidos e profundos, provocados intensamente pelas recentes tecnologias da informação. Desacomodações agregam muita incerteza aos negócios. Mudanças podem se apresentar como oportunidades e/ou riscos a um determinado negócio.
Executivos, muitas vezes, procrastinam naquilo que compulsoriamente deve ser realizado para bem enfrentar os desafios nesse ambiente incerto e turbulento.
Eles confiam em “coisas inconfiáveis”. Força de vontade, autoconfiança e autocontrole, supostamente caraterísticas muito positivas, muitas vezes não funcionam e, o que é pior, atrapalham e impedem o pensamento e a ação na direção de necessárias mudanças e de inovações.
Não são raras as vezes em que uma mentalidade excessivamente confiante dos donos do negócio e/ou de seus principais executivos pode dificultar e/ou bloquear a obrigatória transformação organizacional. Muitos acham que o que deu certo no passado é imutável. Desse modo, acreditam que já sabem tudo, de tudo o que é necessário para um negócio girar competitivamente bem.
Eles se fecham à mudança e à inovação, adotando o pensamento mágico de que seus conhecimentos e processos são superiores. Tal atitude atua como um antídoto viciante a manutenção do “status quo”, prejudicando a identificação e a adoção de ideias inovadoras por parte das equipes internas e em toda a cadeia de suprimentos. Parece que a liderança veste antolhos, não só a respeito das oportunidades de mercado, mas, e sobretudo, isso impede uma efetiva e prudente análise dos riscos que rondam o negócio.
Parece-me espantoso o gritante desequilíbrio existente em pequenas e médias empresas, sobretudo, quanto ao esforço imediato que essas devem investir em mudanças estratégicas de rumo, “vis-à-vis” aos benefícios futuros de tais iniciativas. A procrastinação e o medo do “desacomodar” são gigantescos.
Não há novidade; o cérebro humano sempre dá primazia ao presente em relação ao futuro. Portanto, as dificuldades no presente aparentam ser muito maiores do que aquelas que se apresentarão no futuro.
O negócio do negócio é colocar uma armadilha para o nosso cérebro.
Na iminência de uma mudança vital, cabe fazer uma declaração pública com as equipes, comprometendo-nos com essa determinada meta. O ser humano se preocupa com sua reputação e quer parecer coerente em suas palavras em relação às suas ações. Se ele se compromete com um objetivo, psicologicamente, ele se sentirá pressionado a cumprir aquilo que foi comprometido.
Tenho aconselhado empresas a utilizarem a técnica de “pré-morte”. Essa técnica é uma excelente forma de se avaliarem criticamente os riscos de um projeto novo. Parta do princípio de que a mudança/projeto planejado falhou. Identifique e liste com a equipe de projeto todas as possíveis causas das falhas/riscos associados. Posteriormente, para cada falha/risco, pense em uma determinada ação de mitigação. Funciona bem.
Note que essa técnica auxilia numa avaliação mais precisa e metódica dos riscos envolvidos, além de servir de aliada contra o viés do excesso de confiança dos líderes do negócio. Muitas vezes, eles são os mesmos que possuem temor em “sair da zona de conforto”, conforto esse, claramente, passageiro e/ou ilusório.
Nossa mente é o nosso pior inimigo e, assim, acabamos injetando essa mentalidade pusilânime em nossas equipes de trabalho. A fim de vencer o medo e a procrastinação, uma sugestão é ir comendo “o mingau fervendo” pelas beiradas.
Divida os projetos em etapas menores a serem alcançadas. Fica muito mais singelo cumprir etapas intermediárias, e o sucesso no atingimento dos objetivos iniciais atuará como um energético para seguir firme no alcance do objetivo final.
Além disso, o nosso cérebro adora recompensas. O sucesso na conclusão bem-sucedida de uma etapa traz uma recompensa imediata prazerosa, potencializando os esforços e o seguimento de todo o projeto planejado.
Mudar para melhor é uma condição necessária para se manter competitivo hoje e no futuro. Entretanto, não é decisão saudável confiar na sua força de vontade. Não funciona.
Já se conhece bem o mecanismo de funcionamento da mente humana. Similarmente, de maneira aparente ou velada, já se conhecem os motivos da procrastinação. Caso não os tenha claros, busque esclarecê-los. Após isso, torna-se muito mais fácil criar e acionar gatilhos mentais contra esse legítimo atraso e drama organizacional.