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O que exatamente a Petrobras deu em troca aos pagadores de impostos e consumidores tupiniquins, desde que foi criada?

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As notícias dando conta de desmandos e corrupção na Petrobras não param. Mesmo antes dos governos petistas, quando a roubalheira ganhou dimensões oceânicas, Roberto Campos, Paulo Francis e outros já falavam do descalabro que era a Petrobras. Porém, a lavagem cerebral do povo tupiniquim, efetuada através de campanhas de marketing institucional maciças, conseguiu transformar a petroleira estatal em heroína, enquanto esta fazia a festa de políticos, funcionários e fornecedores.

Páginas inteiras de jornais e revistas foram cobertas ao longo dos anos com as cores da bandeira brasileira, realçando a risonha figura do simpático operário “BR”. “Pop-Up’s” pululavam nas telas de nossos computadores a cada nova página aberta na Internet. Na televisão e no rádio não havia um só intervalo comercial que não fosse tomado pelas imagens fulgurantes das plataformas marítimas ou pela voz marcante e grave do locutor, anunciando algum “feito extraordinário” desse “colosso” estatal, “orgulho da nossa gente”.

Apesar de todo aquele estardalhaço – quase uma lavagem cerebral -, cada vez que eu via, lia ou escutava aquelas manifestações de triunfo, ficava a perguntar: “que vantagem Maria leva” nisso tudo? Que benefícios para a patuleia se escondem por trás de tão “extraordinário feito”? Qual o preço pago pela sociedade para que ele fosse possível?

Na busca de respostas àquelas perguntas, a primeira coisa que me vem à mente é tentar estabelecer uma correlação entre autossuficiência em petróleo e prosperidade. Faço então uma lista dos grandes produtores e exportadores, membros da famigerada OPEP: Arábia Saudita, Irã, Iraque, Rússia, Venezuela, México, Kuait. Logo de cara, sobrevém a primeira decepção. Ora, se produzir petróleo é essa coisa tão maravilhosa, por que todos os países acima listados detêm índices de desenvolvimento – tanto econômicos quanto humanos – tão medíocres?

Resolvo mudar o enfoque da pesquisa. Quais são os maiores PIBs do planeta? EUA, Japão, Alemanha e China. Outra desilusão. Todos eles são grandes importadores. Como isso é possível? Como podem prosperar enquanto reféns do petróleo estrangeiro? Qual será a mágica? Será que a megera M. Thatcher tinha razão? Será que o velho discurso do “produto estratégico” não passa de puro diversionismo, voltado exclusivamente para a obtenção e manutenção de privilégios?

Faço então a lista dos países com os maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH): Noruega, Islândia, Austrália, Luxemburgo, Canadá, Suécia, Suíça, Irlanda, Bélgica, EUA, Japão, Países Baixos, Finlândia, Dinamarca, Reino Unido. Alvíssaras! O primeiro do ranking é autossuficiente e exportador, mas a felicidade de pobre dura pouco. Exceto a própria Noruega e o Reino Unido, parece que todos os demais são bastante dependentes do petróleo importado, o que me faz deduzir que a abundância do “ouro negro” não deve ser o fator determinante para o elevado IDH norueguês.

Mudo o foco. Penso nos preços que pagamos durante a maior parte da existência da Petrobras pelo combustível que consumimos. Mais uma decepção. Historicamente, o preço da gasolina brasileira sempre esteve acima da média mundial. Sigo adiante.

Sou teimoso. Deve haver algo para comemorar. Não é possível que se faça tanto barulho por nada. Ah! Todos falam da dádiva que é termos uma empresa pública (supostamente de todos os brasileiros) no comando de uma atividade tão complexa e estratégica quanto a produção e refino de petróleo. Afinal, dizem, não fosse a eficiência e abnegação dos dirigentes e empregados da Petrobrás, talvez jamais tivéssemos alcançado a autossuficiência ou a extração de óleo do pré-sal. Tivéssemos deixado as coisas nas mãos dos gananciosos empresários da iniciativa privada, das multinacionais, e nunca chegaríamos até aqui.

Vã esperança! Todos os indicadores, contábeis e financeiros, demonstram, cabal e insofismavelmente, que a “gloriosa” sempre esteve anos luz atrás da concorrência. Visto sob quaisquer ângulos, o seu desempenho ao longo dos anos é pífio quando confrontado com o das petrolíferas privadas mundo afora (malgrado alguns números “enormes”, se comparados com o restante da tísica economia brasileira, possam ser extraídos de seus balanços).

Mesmo operando com uma margem bruta muito acima do razoável para os padrões internacionais – resultado de um monopólio perverso para o consumidor -, a produtividade dos seus fatores de produção, especialmente da mão de obra, é desalentadora. Durante a maior parte de sua vida, o retorno do principal acionista (o Tesouro Nacional) sobre o patrimônio foi insignificante, ficando, muitas vezes, abaixo até do rendimento da poupança.

Mas será que ninguém lucrou com tudo isso? Afinal, foram mais de cinquenta anos de investimentos maciços. Sim. Sem dúvida, alguns ganharam. E muito. Em primeiro lugar, lucraram os políticos, que fizeram da estatal um verdadeiro balcão de negócios espúrios e clientelismos vários – quase sempre contrários ao interesse dos acionistas e dos consumidores.

Ganharam também os empregados, que, além dos salários (será que ainda são 15 por ano?) acima do mercado, mais os benefícios extras (as famosas conquistas), ainda contam com polpudas participações nos lucros e outras benesses estatutárias. Sem falar das aposentadorias, garantidas por um fundo de pensões cujas contribuições foram, durante muito tempo, bancadas quase exclusivamente pela empresa. Não é outra a razão por que Roberto Campos, falando da “Petrossauro”, cunhou a famosa frase: “O Brasil descobriu uma nova forma de capitalismo. É o “capitalismo de transferência”. Uma forma de capitalismo selvagem em que o Tesouro e seus contribuintes são explorados por uma nova classe – a burguesia do Estado.”

Finalmente, ganharam os fornecedores inescrupulosos, através da corrupção e do compadrio, como restou comprovado pela Operação Lava-Jato.

Como se vê, não há muito o que comemorar. Ao contrário, o mais provável, de acordo com a lógica e a observação dos fatos, é que estaríamos melhor caso tivéssemos deixado a tarefa nas mãos mais eficientes da iniciativa privada, nacional e estrangeira, sob um regime de livre concorrência.

A pergunta permanece: o que exatamente a Petrobras deu em troca aos pagadores de impostos e consumidores tupiniquins, desde que foi criada? Quem souber de alguma vantagem, me diga; mas não me venham com aquela ladainha nacionalista do “petróleo é nosso” ou que se trata de um produto estratégico que não pode cair em mãos estrangeiras. Isso não cola mais. Prefiro minha parte em dinheiro, por menor que seja.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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