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O Liberalismo e a Teologia da Prosperidade

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Pesquisa da Fundação Perseu Abramo mostra os caminhos tortos do espírito anglo-saxão chegando ao Brasil?

Com que alegria recebi a notícia dos resultados divulgados pela insuspeita – neste caso, que fique claro, por ser de esquerda e trabalhar para o PT – Fundação Perseu Abramo sobre sua pesquisa junto a legiões da periferia de São Paulo. Para desconsolo da instituição e seu partido, e regozijo nosso, essa horda com rosto, nome e sobrenome está se tornando liberal! Conforme resumiu André Lahoz Mendonça de Barros, em artigo na Veja desta semana sobre o levantamento feito pela Fundação e suas conclusões, “o Estado não é visto como solução; ele é o inimigo que atrapalha quem empreende e dá empregos. A prosperidade é fruto do esforço, não da ação de movimentos de classe. O indivíduo conta. As pessoas querem competir e prosperar, apesar das dificuldades da vida na periferia. Muitos sonham em empreender”.

Com isso, descobriu-se enfim, o porquê esse fenômeno de João Doria chegar ao topo do poder municipal sem ter feito uma carreira política e sem sequer precisar de um segundo turno. Entretanto, um item da pesquisa me chamou a atenção. A confirmação de uma tese que venho defendendo e que é objeto do meu livro O Pensamento Liberal e a Teologia da Prosperidade, a ser lançado ainda em 2017. Vejam bem, um item sutil, meio escondido lá no meio dos demais resultados: a sondagem concluiu que a maioria dos pesquisados, moradores de bairros pobres da periferia de São Paulo, declarou-se evangélica, notadamente de cunho neopentecostal.

Enquanto grande parte não evangélica da nossa sociedade se limita a chamar os pastores, bispos e apóstolos das igrejas neopentecostais de “ladrões” e “enriquecedores com a tragédia alheia”, eles estão trazendo para o Brasil – sorrateira e imperceptivelmente – certo “espírito anglo-saxão” de coragem, desbravamento, atitude individual positiva, que forjou uma nação como os Estados Unidos, e nos faltava. E como nos fez falta sempre!!

Lembro que, abrangendo numa análise nosso continente, o ultraliberal venezuelano Carlos Rangel, em meu livro A Façanha da Liberdade (1985), dizia que “o indivíduo latino-americano não tem encontrado estímulo nem recompensa em comportamentos que o façam sentir-se parte da sociedade civil em seu conjunto. De forma até compreensível, tem procurado ingressar, à procura de amparo, em algum setor privilegiado”. E complementa que essa e outras situações de puro antiliberalismo não surpreendiam, “já que a origem das repúblicas latino-americanas foram os impérios espanhol e português, mercantilistas, estatistas, antagônicos à sociedade civil, com economias baseadas no monopólio, no privilégio, na corrupção e, em geral, nos entraves burocráticos ao desenvolvimento e até à existência de uma sociedade civil capaz de contrabalançar o poder do Estado”.

A isso acrescente-se a pregação conformista característica da igreja cristã que aqui se instalou desde a colonização e era preponderante até bem pouco tempo. Além de um certo pessimismo jansenista herdado pela “intelligentsia” francófila junto com a propensão social-estatizante das linhagens intelectuais herdeiras de Rousseau a Marx.

O dízimo sem (nenhuma) vergonha

Entretanto, agora, de repente, temos uma periferia liberal?!! Sim, porque o trabalho das igrejas neopentecostais é diferente de tudo que se fez no Brasil até hoje. Mesmo se você é ateu, vá até lá e assista. Trata-se do único local – o único – onde se diz ao brasileirinho humilde, que nunca foi estimulado positivamente a nada, que ele pode. Sim, ele pode sair da situação de penúria e injustiças. Mas sem contar com mais ninguém a não ser com Deus e ele mesmo.

Enquanto você subestima e chama esse pastor/bispo de “ladrão”, ele (querendo ou não) vai insuflando legiões cada vez maiores de excluídos a terem fé não mais apenas na salvação pós-vida, mas na redenção em vida. E aí é que entra a perfeição do “sistema neopentecostal” para alcançar seus objetivos:  qualquer que seja a meta do fiel, só depende da fé em si mesmo e em Deus, a partir de determinada atitude afirmadora do compromisso. É uma aliança, uma sociedade. Você prova com o dízimo e as ofertas. Está na Bíblia. Rigorosamente assim. Ao “cortar da própria carne”, ou seja, do próprio bolso, você alavanca a fé. Porque está ajudando a “obra de Deus”, está fazendo sua parte. Então Deus fará a dele. O líder da Teologia da Prosperidade no Brasil, bispo Edir Macedo, costuma indagar, didaticamente: “Como você pode crer num Ser tão grande e todo-poderoso e, ainda assim, viver na miséria?!”.

Com isso, o indivíduo parte para suas atividades muito mais otimista, leve, acreditando no futuro. Jamais alguém havia dito a ele que era possível. Entretanto é ele mesmo e não um governo, uma entidade, ou o que for, que está conquistando. Passou a ser um indivíduo e não mais uma massa disforme à mercê de forças fora de si mesmo. Os pastores não incitam o fiel a orar e ficar sentado, mas a agir – dentro e fora da igreja.

Porque o Estado, quanto mais cresce – todos sabemos  – mais tende a só ter recursos e energia para cuidar de si mesmo. Um glutão insaciável que só olha para o próprio e obeso umbigo. O povo começa a descobrir isso. E o espírito anglo-saxão da força da sociedade civil se inicia a crescer no país. Por tortos caminhos. Como é o jeito, dizem, que Deus escreve.

Sobre o autor: Claudir Franciatto é jornalista e escritor. Autor de 11 livros, entre eles “A Façanha da Liberdade” e “O Desafio da Liberdade”.

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