O lacerdismo como expressão do liberalismo brasileiro
Não acredito em objetividade perfeita. Acredito em HONESTIDADE. Por isso, julgo bem-vindo que existam diferentes abordagens editoriais sobre o mesmo personagem, sob perspectivas distintas, especialmente sendo um personagem tão importante.
O jornalista Mário Magalhães vem trabalhando há quase dez anos em uma biografia tradicional em dois volumes de Carlos Lacerda pela Companhia das Letras. A data de lançamento prevista já foi adiada várias vezes, mas ele agora promete o primeiro volume para 2025. Admito que me preocupei, quando ouvi pela primeira vez sobre isso, porque o autor é alguém que acredita que houve um golpe de Estado no Brasil em 2016 e já afirmou que Lacerda era um homem que trocava de opinião como quem troca de roupa e seria possível dormir antilacerdista e acordar lacerdista, como se não houvesse uma substância condutora em seu pensamento, tese da qual discordo veementemente. Porém, acho difícil uma pesquisa de dez anos não acrescentar informações muito interessantes.
Terminei meu livro “Lacerda: A Virtude da Polêmica” com uma indicação de leituras sobre o personagem. Entre elas, temos “Carlos Lacerda: A Vida de um Lutador”, a monumental biografia do brasilianista John Dulles, repleta de detalhes até a exaustão; “Carlos Lacerda: O Sonhador Pragmático”, uma abordagem focada no governo da Guanabara pelo Mauro Magalhães, que foi líder da administração na Assembleia Legislativa da Guanabara; “Lacerda na Guanabara”, do Maurício Perez, um estudo acadêmico sobre o governo; “Carlos Lacerda: um raio sobre o Brasil”, do juscelinista João Pinheiro Neto; e alguns livros testemunhais publicados por parentes. Uma biografia escrita por um autor de esquerda pode ser bem-vinda; a conferir.
Meu próprio livro tem o diferencial de ser o livro de um lacerdista tardio, e já na introdução isso é deixado claro. No prefácio, Antonio Paim reconhece que o tipo específico de abordagem que empreendi legitimou a “franca adesão” que expressei à maioria de suas ideias – nunca a todas; não se trata de hagiografia, mas de uma “biografia intelectual” que, através de sua vida política, por ter sido um homem de ação, sintetiza o lacerdismo como expressão do liberalismo brasileiro.