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O avião da FAB e o racialismo nu

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A polêmica ida da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em um avião da FAB, à final da Copa do Brasil é um combo de elementos que expõem a verdadeira face daquilo que ela e sua trupe ideológica representam. Vamos por partes.

Além da Anielle, estavam presentes Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, André Fufuca, ministro do Esporte e o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Anielle argumenta que a ida dela e dos demais ministros ao estádio teve como objetivo a assinatura de uma ação do governo federal contra o racismo no esporte e que a escolha da final da Copa do Brasil foi estratégica, já que isso daria maior visibilidade à ação. Bom, não podemos negar que realmente houve bastante visibilidade, mas provavelmente não a que a ministra esperava. As pessoas (leia-se, contribuintes) não tardaram em apontar o fato de que a ministra é flamenguista e que na prática acabou usando um avião da FAB para assistir à final do seu próprio time.

Ora, eu faço uma concessão aqui, a presença de outros ministros e do presidente da CBF realmente denota que o uso do avião não foi por uma razão puramente particular. No entanto, isso não muda o fato de que a conjuntura soa como um disparate para o contribuinte. Diria, contudo, que foi um disparate muito oportuno. Estar na ribalta dessa forma só faz reforçar a inutilidade de muitos ministérios temáticos deste governo, em especial o Ministério da Igualdade Racial. Muitos brasileiros tomaram conhecimento da existência da geringonça somente agora durante o ocorrido. Uma ação do governo contra o racismo no esporte, por óbvio, não depende de uma estrutura ministerial temática e não justifica torrar o dinheiro público para criar cabides de emprego para militantes identitários.

Outro elemento é a presença ilustre de Silvio Almeida, um dos principais intelectuais do racialismo identitário brasileiro, bem como provavelmente o principal divulgador da tese do “racismo estrutural”. Para Almeida, que, em prol da lógica estrutural, joga a ação individual para escanteio, o “racismo é regra e não exceção”. Considero que Almeida representa tudo o que existe de equivocado e contraproducente no combate ao racismo. Estou ciente de que causarei indignação escrevendo isso, já que o digníssimo ministro é para muitos uma vaca sagrada e dotado de um intelecto soberbo. Não subestimo em nada seu intelecto, apenas ocorre que é totalmente possível (e bem comum, na verdade), ter uma grande inteligência e ainda assim estar totalmente equivocado. Já escrevi alhures sobre como a insistência na existência da raça, em que pese a evidência científica de que isso é coisa para cachorro e não para gente, só faz reforçar o racialismo e que não há nexo em combater o racismo, por óbvio, racialista, com mais racialismo. Almeida, embora admita a verdade científica, é mestre em dar um significado social (e estrutural) ao conceito de raça, sendo isso a pedra angular, não só do seu pensamento, como do identitarismo negro de forma geral: “Em um mundo em que a raça define a vida e a morte, não a tomar como elemento de análise das grandes questões contemporâneas demonstra a falta de compromisso com a ciência e com a resolução das grandes mazelas do mundo.”

É esta visão de mundo e as políticas dela derivadas que agora estão expostas, muito mais do que a polêmica em torno de um avião da FAB. O cerne da nossa crítica ao identitarismo negro é que essa insistência no racialismo, em conjunto com a negação da ação individual (independentemente das estruturas sociais), inevitavelmente permite todo tipo de absurdo a título de “reparação histórica” e chancela o racismo aberto e escancarado. Nesse ponto, qualquer identitarista já estaria salivando para dizer que não existe “racismo reverso”. Não existe mesmo, isso é um espantalho criado por identitários para dizer que apenas negros podem ser vítimas de racismo. Almeida resume essa lógica: “Há um grande equívoco nessa ideia, porque membros de grupos raciais minoritários podem até ser preconceituosos ou praticar discriminação, mas não podem impor desvantagens sociais a membros de outros grupos majoritários, seja direta, seja indiretamente.” O racismo, portanto, dizem eles, não é a discriminação per se, mas estar em uma posição “estruturalmente” privilegiada. Podemos presumir, então, que um branco pobre que faça ofensas racistas a um negro rico, na certa não cometeu racismo, já que, pobre como é, é incapaz de impor desvantagens sociais a sua vítima, correto? Conclusão absurda, é claro, mas porque as premissas que eles descrevem são absurdas, como estão fadadas a ser sempre que apostarem nas ditas estruturas ao invés da ação (e responsabilidade) individual.

Com essa introdução, trago nosso último elemento, a cereja do bolo. Como todos já devem saber, uma assessora do Ministério da Igualdade Racial, estando no mesmo jogo e em suposta missão institucional, usou suas redes sociais para proferir um ataque racista e xenofóbico contra os torcedores do São Paulo: “Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade… Pior tudo de pauliste”. Em que pese o uso da linguagem neutra (que poderia sugerir algum tipo de desarranjo mental), é óbvio que a assessora tinha perfeita noção do que estava escrevendo. Após a repercussão, a assessora foi exonerada.

É preciso muita boa vontade para ver na exoneração um rechaçamento do “racismo do bem” por parte do ministério, quando a assessora é um arquétipo perfeito da militância identitarista. E mais: a agora ex-assessora, Marcelle Decothé da Silva, trabalhava com Anielle Franco muito antes de ela se tornar ministra. Em janeiro de 2020, Marcelle começou a trabalhar como gestora de programas no Instituto Marielle Franco. O restante do currículo também inclui outros cargos públicos, como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (entre 2019 e 2022), assistente do governo carioca, na Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (2015 a 2016). Apesar da retórica de adolescente de Twitter (atual X), é válido destacar que ela é doutora em Ciências Sociais (UFF). Importante também dizer que ela cometeu crime inafiançável, sendo que, tendo-o cometido na condição de funcionária pública, poderia ter a pena aumentada em um terço. Trata-se também, de reincidência, já que, em 2021, ao comentar a invasão no Capitólio, nos EUA, postou no Twitter que “gente branca é doida”. Por fim, para atuar como militante identitária profissional, ela recebia a importância de R$17.100 mensais.

Alguém realmente acredita que ela teria sido exonerada por escrever o que escreveu, não fosse a repercussão negativa? Já vimos que eles não admitem de forma alguma que esse tipo de asneira possa ser chamado do que realmente é: racismo. Já vimos que um dos principais propagadores do “mito do mito do racismo reverso” não só estava presente como é peça chave da orientação identitária do governo Lula 3. Sempre disse que o identitarismo negro moderno não só não colabora para a causa que promete defender (combate ao racismo) como tende a piorar o quadro, apostando no racialismo e na animosidade racial. O episódio, e em especial a manifestação racista de uma assessora do Ministério da Igualdade Racial, demonstram isso com uma pompa que nem a crítica mais virulenta seria capaz de produzir. Pior, cometeu racismo no contexto de uma partida de futebol, no mesmo dia em que estaria participando de uma ação para combate ao racismo no esporte.

Este é um choque inevitável. Um grupo ideológico que está sempre à espreita para cobrar pretensas dívidas históricas, que vive com o dedo em riste, que diz que todos são racistas (menos eles), incapaz de raciocinar fora de uma lógica opressor/oprimido, não só não está preparado como não tem disposição para assumir uma postura que esperamos de pessoas públicas. É por isso que Anielle Franco não tardou em fazer aquilo que sempre fazem quando criticados e confrontados com a indignação daqueles que pagam seus salários: partir para a vitimização. Disse a ministra que é “inacreditável” receber críticas “por ir fazer seu trabalho” e dispara: “Inclusive, precisei abrir mão de estar com a minha família e minhas duas filhas em um domingo para ir trabalhar. Quem tem filhas pequenas consegue entender o peso disso“. Ora, vejam só, somos mesmos todos uns insensíveis. Pobre ministra – e, como já virou praxe, atribui violência e práticas criminosas a seus críticos: “Importante reconhecer que práticas de desinformação, manipulação da verdade e a divulgação de notícias falsas configuraram violência política de Gênero e Raça, na tentativa de impedir o nosso trabalho. Não são ataques a este ministério ou a mim, mas ao povo brasileiro”. Destaco que, até o momento, metade das verbas discricionárias do seu ministério foi gasta com viagens.

Aí está, o racialismo nu. O racialismo reforçado dia após dia numa promessa, vã, de combater o racismo. Em sua obsessão com explicações estruturais, ignoram aquilo de mais estrutural que há em nosso país: o patrimonialismo. O patrimonialismo, este sim, um flagelo constante na carne do brasileiro, seja ela branca, negra, parda, amarela, etc. E, se ignoram, é porque dele fazem bom uso; mas. diferente dos patrimonialistas contumazes, que nos escândalos, ao menos, ainda que falsos, sabem fazer uma mea-culpa, assumem a postura de vítimas (oprimidos) e lhe dizem que, para além de insensível, você é um radical, quando não um racista, por ousar criticar suas visões de mundo e não se dispor a bancar sua militância profissional. Se grande parte das teses identitárias são importadas, principalmente dos EUA e Europa, no Brasil, elas não só encontram terreno fértil como, quando logram penetrar na máquina pública e/ou integrar uma estrutura de governo, se escoram no patrimonialismo típico do Estado brasileiro. Aqui, o uso privado da coisa pública transcende (embora não exclua) o uso para fins puramente pessoais, mas é posto a serviço da agenda de grupos que não só não questionam a lógica patrimonialista, mas dizem com todas as letras que têm o direito de usar aquilo que é público sem escrutínio e para promover uma agenda por vezes hostil à harmonia social, quando não para patrocinar revanchismo puro e descarado. Claro que é normal que governos eleitos tenham sua própria agenda e inclinações ideológicas, mas, uma vez que não governam exclusivamente para seu grupo, o bom trato da coisa pública demanda que nenhum ponto dessa agenda seja hostil a camadas do povo, mesmo que divergentes. É o oposto do que o identitarismo faz. Ele não está interessado em igualdade, tanto que vive a atacar a igualdade formal e o Iluminismo; também não vislumbra justiça e sim vingança; e, na vingança, quer colocar no cadafalso não culpados particulares, já que julgam fenômenos estruturais, mas camadas inteiras da população, quando não o país inteiro. O encontro entre o patrimonialismo de sempre e o identitarismo, nunca antes tão escancarado e formalizado, é o pior dos mundos.

Fontes:

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/anielle-franco-usa-aviao-da-fab-para-ato-do-governo-na-final-da-copa-do-brasil-e-e-criticada/

Racismo Estrutural — Silvio Almeida

https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/assessora-anielle-franco-igualdade-racial-critica-torcida-branca-sao-paulo/

https://www.estadao.com.br/politica/assessora-anielle-franco-demitida-ministerio-igualdade-racial-apos-ofender-torcida-sao-paulo-nprp/

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/saiba-quem-e-a-assessora-demitida-por-anielle-franco-apos-criticar-torcida-do-sao-paulo/#:~:text=A%20assessora%20Marcelle%20Decoth%C3%A9%20da,a%20torcida%20do%20S%C3%A3o%20Paulo.

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2023/09/25/anielle-responde-critica-aviao-fab.htm

https://oantagonista.com.br/brasil/ministerio-de-anielle-usa-metade-do-orcamento-do-ano-em-viagens/#:~:text=O%20Minist%C3%A9rio%20da%20Igualdade%20Racial,dentro%20e%20fora%20do%20pa%C3%ADs.

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Gabriel Wilhelms

Gabriel Wilhelms

Graduado em Música e Economia, atua como articulista político nas horas vagas. Atuou como colunista do Jornal em Foco de 2017 a meados de 2019. Colunista do Instituto Liberal desde agosto de 2019.

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