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O apequenamento do Brasil na questão venezuelana

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No sábado (18), cenas lamentáveis foram registradas através das emissoras de televisão brasileiras ou das redes sociais. A cidade de Pacaraima foi palco de uma reação desesperada de moradores, incendiando tendas e expulsando imigrantes venezuelanos que se abrigavam nos arredores.

Não obstante nossa natural hostilidade a quaisquer atos de violência, a questão é extremamente delicada e não se lhe pode fazer justiça, sobretudo aos cidadãos roraimenses, sem abrangê-la em todo o seu escopo. Quem se dispõe a fazer julgamentos ressaltando tão-somente as cenas que foram filmadas e de pronto se põe a dizer que os roraimenses são “xenófobos” é que está sendo o verdadeiro insensível.

O fato, atestado em inúmeros depoimentos – e que evidentemente não pode deixar de ser verdadeiro, pois outro não poderia ser o cenário por trás de cenas tão extremas em um estado tradicionalmente povoado e habitado por imigrantes, que há não menos que três anos acolhe os venezuelanos com toda a generosidade, sacrifício e paciência -, é que a imigração desenfreada, sem a adoção de procedimentos adequados de atendimento, contenção de crimes, isolamento de doentes e redistribuição de pessoas para outros estados, está aprofundando um desastre sem precedentes ao norte do Brasil. É muito fácil tecer condenações de escritórios com ar-condicionado ou no conforto do sofá de casa em outras regiões do país.

As denúncias de cidadãos brasileiros sendo preteridos, dando-se preferência ao atendimento dos venezuelanos, em uma região que já é muito pobre, não podem deixar de provocar, sem prejuízo algum da solidariedade aos nossos irmãos do país vizinho, a mais profunda empatia para com a dor desses nossos compatriotas fronteiriços, distantes e isolados, abandonados, carentes de qualquer atenção das autoridades federais. É preciso ir além do momento e identificar os verdadeiros culpados – ou, por outra, todos aqueles que criaram as condições para que essa situação chegasse ao estágio de profunda desolação a que chegou.

Em primeiro lugar, obviamente, Lula e o Partido dos Trabalhadores, que apoiaram e sustentaram o regime chavista hoje controlado por Nicolás Maduro. Eles são os patrocinadores da desgraça que acomete um país que hoje pretende “resolver seus problemas” simplesmente “cortando zeros” dos números nas cédulas. Em segundo lugar, é claro, Maduro e os próprios chavistas. Em terceiro, e é sobre isso que pretendemos chamar atenção, as autoridades brasileiras atuais, no governo de Michel Temer e no Ministério das Relações Exteriores, ocupado pelo tucano Aloysio Nunes. Se felizmente rechaçaram a aliança bolivariana do lulopetismo, esses senhores permanecem, no tocante a tão crucial questão, desprovidos da mínima altivez que se esperaria – e, com razão, se deveria exigir.

Em janeiro deste ano, quando mais de 140 senadores chilenos e colombianos enviaram uma denúncia à Corte Penal Internacional acusando Maduro de crimes contra a humanidade, escrevi defendendo a movimentação de juristas como Janaína Paschoal e Helio Bicudo – que já nos deixou -, apoiada pelo Movimento Brasil Livre, no mesmo sentido. Sustentei que as autoridades brasileiras deveriam acolher esse tom, endurecer totalmente o discurso, liderar o movimento de reprovação sumária à ditadura nefasta do chavismo junto à Corte Penal e aos parceiros internacionais. O que foi feito até agora de concreto pelos nossos representantes diplomáticos e pelo nosso governo?

No cenário latino-americano, a mobilização ganhou novo capítulo nesta segunda (20). A Argentina do presidente Maurício Macri está se unindo a Chile, Paraguai e Colômbia para protocolar oficialmente a mesma denúncia. “A mim não cabe nenhuma dúvida sobre que na Venezuela são violados sistematicamente os direitos humanos, atropelando a oposição e os cidadãos em geral”, disse Macri. “Eu afirmo sobre a minha intenção (de fazer a denúncia). Seguramente a da Colômbia também é a mesma. O Chile, com segurança. E pode ser o Paraguai”.

O leitor provavelmente percebeu que está faltando um certo país na lista. Consta que a Argentina está liderando e estimulando uma coalizão na América Latina para desafiar Maduro internacionalmente. Onde está o Brasil? Cadê o ministro ex-motorista de Marighella, cujo passatempo tem sido mostrar pose de “machinho” para criticar o governo americano, quando este sinaliza para um tratamento mais duro do problema venezuelano? Onde está a maior nação do subcontinente, a maior economia da região? Onde estão os governantes e diplomatas daquela que deveria ser a maior liderança na área?

Resposta: assistindo como baratas tontas ao esgarçamento social que acontece em seu próprio território, ao norte, em consequência do problema, enquanto apostam em discurso bonitinho e notinhas em Facebook. Estão passando pitos esporádicos no regime de Maduro, como se a questão fosse nota de rodapé e seu enfrentamento pudesse ser resumido a puxõezinhos carinhosos de orelha.

Não é assim. A questão venezuelana é de interesse nacional brasileiro. Enquanto os vagabundos chavistas não caírem, a situação no norte do Brasil só vai piorar. Nossa absoluta falta de virilidade e até as nossas bravatas fanfarronas contra Donald Trump e Mike Pence quando nos tentam chamar a fazer alguma coisa são diretamente responsáveis por tudo que está acontecendo. É vexatório, é medíocre, é pequeno. Já fomos chamados por um distinto israelense de “anões diplomáticos” e isso continua a se confirmar; a principal razão é a total falta de dignidade de nossas lideranças.

Amanhã, quando você estiver lendo este texto, pode até ser – oxalá seja! – que o Brasil tenha endossado o manifesto dos vizinhos. Não importa: mesmo se o fizer, o Brasil terá ido a reboque. Isso é uma vergonha que carregaremos para sempre, tanto quanto a de termos mantido no poder por tanto tempo aqueles que patrocinaram o horror na Venezuela. Que a personalidade humana floresça em dimensões mais nobres em nosso solo, a fim de que cessemos de vilipendiar nossa bandeira com a insígnia da covardia.

 

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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