Lula só faz provar a importância da independência do Banco Central
Os ataques orquestrados pelo governo Lula e sua trupe ao Banco Central só fazem comprovar a importância da independência da instituição, aprovada em 2021 e por tantos anos postergada. É justamente para fazer frente a populismos inflacionários, como é o caso do petismo, que o Bacen deve permanecer independente e impenetrável a pressões e influências políticas.
Basicamente, dois tipos de política concorrem para a geração da inflação, bem como servem de instrumento para controlá-la. De um lado, temos a política fiscal, esta sim controlada pelo governo de ocasião; de outro, a política monetária, sob o guarda-chuva do corpo técnico que compõe o Banco Central. Em tese, em períodos de inflação elevada, as duas políticas podem (e deveriam) trabalhar em uníssono. Um Banco Central que veja a necessidade temporária de “frear” a expansão monetária e “contrair” a atividade econômica, para isso se valendo da taxa de juros, mas também de outros instrumentos, poderia ter no governo um aliado que se abstivesse de realizar uma política fiscal expansionista, em outras palavras, que evitasse a gastança desenfreada. Este, é claro, não é o cenário atual. Lula começou a provocar seu estrago na política fiscal — já antes combalida, é verdade — antes mesmo de tomar posse, com a chamada PEC do estouro, e não tem dado qualquer sinal de que pretende retroceder das práticas petistas que levaram o Brasil ao que provavelmente foi a maior recessão de sua história. Aliás, irônico que ataquem o Banco Central com base no impacto que os juros elevados têm no crescimento econômico, quando foram justamente o descontrole fiscal e uma política expansionista e, portanto, inflacionista, do governo Dilma, mas iniciada no segundo governo Lula, que fizeram a economia brasileira encolher quando a bomba estourou.
Um Banco Central independente, com diretores que não se submetam e não se deixem espezinhar pelos ataques antirrepublicanos dos petistas, é hoje a única coisa que temos para tentar amenizar e fazer frente ao desastre das políticas que já sabemos que este governo intenciona voltar a implementar. Se fossem bem sucedidos em sua tentativa de derrubar o presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, apenas imaginem o estrago que uma figura à la Mercadante poderia fazer na política monetária.
Os negacionistas econômicos gostam de repetir a teoria de conspiração de que um Banco Central independente trabalha para os interesses e sob os desígnios do mercado, sem apresentar qualquer prova de que isso seja verdade. Aliás, juros altos até podem beneficiar a renda fixa (e mesmo aqui há quem, sofrendo de ilusão monetária, foque no valor nominal e esqueça de descontar a inflação), mas, só para quem compreende pouco a dinâmica da economia, isso é algo aspirado pelo mercado. Há quem confunda alhos com bugalhos e pense que, por exemplo, investidores da bolsa vibram de alegria com um aumento de juros, quando a verdade é que o encarecimento do crédito tem um efeito nocivo mesmo para grandes empresas de capital aberto. O que acontece é que o chamado mercado usualmente tem a consciência de que este é um mal temporário e que visa a evitar um mal ainda maior, que é a inflação descontrolada, que tanto já castigou nosso país.
Ignoram também os críticos que, após ter chegado ao que até então era um patamar mínimo, 6,50 (2018/2019), valor nunca alcançado em nenhum dos anos de gestão petista, a Selic passou a cair ainda mais, como forma de enfrentamento ao ciclo pandêmico, mantendo-se em cinco reuniões consecutivas do Copom em 2,00, o valor mais baixo já atingido pela taxa de juros oficial. A Selic só voltou a subir diante da iminente necessidade de se enfrentar a carestia que se fazia presente, não só aqui, mas no planeta inteiro. A crítica que alguns economistas fazem ao Banco Central nesse período vai, aliás, em sentido contrário, o de que o ciclo de aumentos deveria ter começado mais cedo, já que o Brasil não tinha condições de suportar uma taxa tão baixa, típica de países desenvolvidos. De qualquer forma, a retórica de que os diretores do Bacen seriam pessoas desalmadas e servis ao mercado não resiste nem à evidência história, nem à lógica.
Para os que dirão que os juros no Brasil são historicamente elevados, mesmo quando a inflação está controlada, recomenda-se investigar, em face do fato de que os juros são “o preço do dinheiro” e tendem a apresentar uma relação inversa ao risco, o porquê de o país possuir um risco superior a seus análogos que conseguem sustentar juros muito mais baixos (e não “caneteados”). É provável que descubram que, dentre as razões, está uma sucessão de intervenções indevidas do governo no domínio econômico, uma busca cega pelo crescimento — mal desenvolvimentista que acometeu diversos governos, incluindo o Regime Militar e os governos do PT —, insegurança jurídica etc. A independência do Banco Central foi um passo certeiro no caminho da verdadeira prosperidade. O fato de que o petismo a isso se oponha é antes sintoma do seu atraso do que de uma inadequação da autonomia da autoridade monetária.
Fontes: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/historicotaxasjuros