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Jornalismo militante e um porteiro mentiroso

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Tem uma galera pondo panos quentes na catastrófica matéria do Jornal Nacional da última terça-feira (29/10). Querem fazer acreditar que os críticos da maior trapalhada jornalística da última década estão pregando o fechamento das redações e a construção de “fogueiras santas” para jornalistas e editores. Uma caricatura construída e maximizada a fim de justificar as patetices jornalísticas da fatídica edição do Jornal Nacional. Só há uma coisa a ser dita: “pára que tá feio”.

Eles empolam suas tertúlias piegas a fim de defender “garantias constitucionais” e o “respeito às instituições”, sem perceberem, todavia, que tal atitude amena e insossa é justamente o que prejudica as ditas “instituições” e “garantias”. Esses cordatos defensores do dito “Estado de direito” não conseguem enxergar o absurdo inédito que ocorreu dia 29, por volta das 21 horas: o Presidente da República foi alvo de uma denúncia arquivada — isto mesmo, você não leu errado. Tal matéria denunciativa foi veiculada em horário nobre da TV brasileira, pelo maior jornal do país, sem sequer fazer menção ao arquivamento prévio dessa mesma denúncia. A matéria foi claramente costurada de tal forma que, apesar de expor o álibi do acusado, deixava uma atmosfera de dúvidas e ilações posteriores. No Twitter já tinha gente pedindo a prisão de Bolsonaro.

Essa foi a mesma compreensão do procurador-geral da República, que afirmou que a denúncia já estava arquivada e o porteiro já estava sendo investigado por denunciação caluniosa — o que demonstra que o arquivamento não ocorreu ontem e que a denúncia mentirosa já tinha sido há muito tempo vencida. Complementa o procurador dizendo que a intenção da denúncia foi claramente a de atingir o Presidente da República. O procurador-geral também quer acabar com a liberdade de imprensa? Fechar a Rede Globo e expurgar as redações?

No campo filosófico chamamos tal postura jornalística de silogismo; especificamente, nesse caso, um silogismo sabidamente torto, onde as premissas não davam conta de gerar quaisquer conclusões além da mentira garrafal e evidente do porteiro acusador. A ideia sustentada parece ter sido a seguinte:1) há uma denúncia criminal contra Bolsonaro; 2) Bolsonaro é o nosso desafeto político; 3) logo a acusação deve ser verdadeira, apesar de não afirmarmos e nem negarmos isso claramente.

E sabem a que essa galera limpinha se apegou? Ao “descontrole emocional” do acusado evidenciado em um vídeo-resposta à acusação feita a ele. O mal maior, nessa situação toda, para a galera que defende “instituições” e as “garantias”, foi o destempero de um homem acusado injustamente. Parece piada, eu sei.

No entanto, o golpe foi acusado pela Rede Globo. Ontem (30/10), numa cena patética — porém, necessária —, sob um clima de retratação forçada, fizeram uma autocorreção da matéria exibida no dia anterior. Claramente os âncoras tentavam amenizar a atmosfera de justificação da referida reportagem. Uma vergonha alheia de nível global — perdoem meu trocadilho. Uma situação gerada por um evidente destempero ideológico da editoria da redação. Não se trata apenas de um relato qualquer, de um padrão investigativo comum que seguiu as cartilhas do “bom jornalismo” e que, porventura, tropeçou em suas fórmulas; trata-se do jornalismo sendo deliberadamente usado como arma política. Muito provavelmente, trata-se da omissão de informações, da criação de uma atmosfera de acusação; não é possível fazer tudo isso “sem querer”.

Ora, dificilmente a Globo não sabia do arquivamento da denúncia, do veredito dos investigadores e do descarte da possibilidade de envolvimento do Presidente; a não ser que o fact-checking da empresa seja mais uma lenda urbana que percorre os corredores das redações ou que o padrão de jornalismo da casa não seja tão alto como dizem. Fato é que, muito provavelmente a redação do jornal omitiu o arquivamento da denúncia e o descarte oficial da possibilidade de envolvimento do Presidente. Cabe deixar claro, também, que o jornal afirmou ter obtido os dados do processo com exclusividade, o que reafirma a probabilidade de prévio conhecimento do arquivamento e do descrédito da denúncia.

Por fim, isto não tem nada a ver com ser contra ou a favor de Bolsonaro, apoiá-lo ou criticá-lo, ser seu eleitor ou não; trata-se de mau caratismo e de silhuetas de conspiração contra o governo. A mídia não foi feita para assassinar reputações, nem para construir ficções que endossem seus gostos ideológicos. Ninguém que seja minimamente sensato contesta a liberdade de imprensa, nem duvida do papel singular do jornalismo na sustentação da democracia, então parem com essa verborragia inerte. A liberdade, seja ela de crença, de locomoção ou de expressão, é tão intocável quanto a liberdade de imprensa.

Por isso mesmo, paremos de espancar fantoches, paremos de criar sombras na parede da caverna a fim de conquistar apreço popular nas redes sociais; isso é pura retórica para sublimar a surpreendente ideologização do jornalismo da Rede Globo, é a desculpa perfeita para não falarmos sobre o verdadeiro assalto ideológico que acontece nas redações e meios jornalísticos deste país. Como já disse em outros textos, e finalizo por aqui, o jornalismo não é uma divindade intocável; a crítica aos críticos é um dos pilares dessa mesma democracia que muitos arrogam defender. Criticar, aliás, é uma forma de avançar e, se você não compreende isso, então não sou eu que tenho aspirações antidemocráticas.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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