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A ditadura venezuelana tem que ser derrubada, custe o que custar

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Temos repercutido muito o assunto “Venezuela” – mas há razões substanciais para isso. Poucos temas internacionais parecem tão próximos ao Brasil quanto a tirania sob cujo tacão padecem os nossos vizinhos venezuelanos.

Apequenados que nos permitimos ser, justamente taxados de “anões diplomáticos” por um diplomata israelense ao nos alinharmos a tudo quanto é autoritário e sanguinolento no mundo durante o regime lulopetista, é um dos poucos temas em que temos o máximo peso. Sem que sejamos os únicos culpados, temos grande responsabilidade no desenrolar dos fatos. Apoiamos e sustentamos o chavismo, o bolivarianismo, esta praga chamada “socialismo do século XXI”. Recebemos, pela proximidade geográfica, uma quantidade crescente de refugiados do drama humanitário. Se pudermos fazer algo para ajudá-los, portanto – por mais que nós mesmos estejamos, em vários aspectos, atolados em nossas próprias dificuldades -, é nosso dever, ao menos, pensar a respeito.

Hoje, o Brasil é governado por Temer, tendo os tucanos à testa do Ministério das Relações Exteriores – portanto, ainda que “afrescalhado” e corrupto, nosso governo não é mais, no presente momento, bolivariano. Na Argentina, governa Macri, tendo ele destronado o Kirchnerismo populista, alinhado com os membros do Foro de São Paulo. O Paraguai segue sob Cartes, do Partido Colorado. Do Mercosul, apenas o Uruguai está sob comando de lideranças mais diretamente ligadas ao Foro, na figura do correligionário do ex-presidente José Mujica, Tabaré Vázquez.

Um cenário ideal para que as maiores forças da América Latina produzissem consequências reais em uma condenação ao endurecimento progressivo do regime venezuelano, que agora se torna ainda mais pleno. E isso, em certa medida, foi feito – ao menos em comparação com o passado recente. Quando Maduro insistiu na realização da Constituinte, vários países da América Latina e do resto do mundo manifestaram seu clamor para que tal não ocorresse. O Brasil lamentou a decisão, afirmou que ela “viola o direito ao sufrágio universal, desrespeita o princípio da soberania popular e confirma a ruptura da ordem constitucional na Venezuela”. A Assembleia Constituinte, diz ainda a nota, surrupia as prerrogativas da Assembleia Nacional “legitimamente eleita”, acirra “a escalada da violência” e o governo avança “sobre as instâncias institucionais democráticas”. O governo brasileiro condenou ainda “o cerceamento do direito constitucional à livre manifestação” e repudiou “a violenta repressão por parte das forças do Estado e de grupos paramilitares”, dizendo, finalmente, que “insta” o governo venezuelano a suspender a Constituinte.

Foi pouco. “Instar” não foi suficiente. Por isso, agora, o Mercosul, em reunião em São Paulo, decidiu oficialmente “suspender” a Venezuela “por tempo indeterminado” do bloco. A realidade e o bom senso exigem isso. Infelizmente, exigem muito mais. Falamos de um regime que reprime manifestações e assassina cidadãos indignados; falamos de um regime que mantém presos políticos. Um regime que, contando com o apoio longevo de partidos de extrema esquerda brasileiros, confere poderes a lideranças e movimentos cooptados pelo chavismo para refundarem “legalmente” o país sobre suas bases tirânicas. Um regime que cercou militarmente o Ministério Público do país. Um regime que censura e agride a imprensa.

O socialismo venezuelano é uma força armada que consuma a cada dia o grande “sonho bolivariano”. O estágio que atingiu já não comporta mais ilusões politicamente corretas. Para as cucuias o politicamente correto! Sei que ferirei suscetibilidades, tanto à esquerda quanto à direita, inclusive daqueles que são sempre muito reticentes diante de qualquer interferência estrangeira sobre outro país. De maneira geral, não sem razão; é um recurso a adotar, no mínimo, com muita cautela. A situação da Venezuela, porém, não é apenas um problema singular. É desesperadora. Mais do que uma presença incômoda, esse posto avançado do castrismo é um desastre humanitário que afeta todos os seus vizinhos – e, repito, pelo qual alguns entre esses vizinhos também têm sua cota de responsabilidade. Estamos falando de um subcontinente inteiro. Já há relatos de rebeliões militares contra o governo chavista, o que pode provocar uma guerra civil.

Além disso, o bloco russo-chinês também olha com atenção para nossa região, tendo Putin já se manifestado avesso a qualquer ingerência contra o governo venezuelano. Trata-se, portanto, de algo muito maior do que uma disputa política doméstica. O chavismo é um filhote diabólico que alimentamos e que agora se exibe para nós com seu miasma pestilento; faz isso de modo tão palpável que mesmo a imprensa mais hesitante se vê obrigada a apresentar o regime pelo que é – uma DITADURA – e já não se consegue mais respeitar em nosso seio a “opinião” (sic) de quem insiste em negar os fatos para proteger o “sonho” da quadrilha fascistóide a que se vincula.

Quem insiste em falar em estabelecer “negociações” ou “pontes” está, na melhor das hipóteses, vivendo no mundo mágico de Oz.  Na pior, não tem caráter. Ainda há quem afirme que a oposição venezuelana é que é extremista, golpista ou qualquer besteira do gênero – mas é o sangue dos que bradam contra a tirania governamental que está sendo vertido. São os parlamentares e partidos que se opõem ao governo que estão sendo cerceados. Não há conversa possível. Todos gostariam que fosse diferente, mas às vezes o mundinho cor de rosa de nossos intelectuais, jornalistas e formadores de opinião simplesmente não é viável.

Sendo assim, despindo-me do receio do ridículo e da zombaria, sabendo das graves implicações que isso tem e de que não é algo que se possa escrever todos os dias, sabendo que posso ser chamado de “imperialista” ou de “neoconservador”, faço o que mente e coração reclamam e digo: a ditadura venezuelana precisa ser retirada à força.

É preciso que, em primeiro lugar, a comunidade internacional, ao menos das chamadas democracias ocidentais, condene o regime com absoluta veemência. “Pedir, instar, suspender por tempo indeterminado” já não são expressões que possam constar no vocabulário. Maduro e o chavismo já se provaram insensíveis a isso. É preciso apoiar formalmente a oposição, inclusive com recursos e auxílio para o enfrentamento direto, se necessário; não se trata de abandonar a neutralidade em uma disputa política de outro país. É uma luta entre o povo e um ditador. Nada dando certo, mais do que isso, embora, friso, ninguém deseje esse caminho, sou favorável a que uma coalizão internacional – da qual, apesar das nossas fragilidades, o Brasil deveria participar, quiçá tomar a iniciativa – realize uma intervenção militar e deponha Maduro.

Acreditar na viabilidade disso tudo com as lideranças, não apenas do Brasil, mas do mundo contemporâneo, talvez, eu sei, também soe como crer em um conto de carochinha. Nada que nos impeça de desafiar o “coro dos contentes” e dizer algumas verdades, ou ao menos deixar algumas provocações. Façam (ou não façam) o que quiserem com elas. Apenas acredito que está na hora de articulistas e “formadores de opinião” serem mais corajosos e mostrar que nem todos têm “sangue de barata” e se acovardam quando é preciso mostrar o mundo como ele realmente é. Eis tudo.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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