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Crescimento econômico nas duas primeiras décadas do século XXI

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Quais os países que mais cresceram no século XXI? Quais os que menos cresceram? Neste artigo, uso dados do Banco Mundial no período de 2001 a 2019 para responder a essas perguntas. Como o objetivo é crescimento e não comparação entre renda, calculei a taxa de crescimento do PIB per capita em valores constantes da moeda de cada país. Dessa forma elimino problemas com câmbio e com medidas de paridade de poder de compra. Na média dos países em 2019, o PIB per capita era 65,5% maior do que em 2001, mas essa média esconde variações importantes entre os países. Na China, país com maior crescimento, o PIB per capita em 2019 foi 334% maior que o PIB per capita em 2001; no Zimbabwe, país com pior desempenho, o PIB per capita em 2019 era quase 20% menor do que em 2001. Milagres e desastres continuam existindo no século XXI.

Considerei apenas países com mais de cinco milhões de habitantes e com dados disponíveis para 2001 e 2019 – a amostra ficou com 101 países. Para facilitar a apresentação dos resultados, dividi os países em quatro grupos de acordo com o crescimento do período. O primeiro grupo reúne os 25 países com maior crescimento – na média, o crescimento do PIB per capita desses países entre 2001 e 2019 foi de 148, 8%. Nesse grupo estão um país avançado, cinco países da Comunidade de Países Independentes, dez países emergentes da Ásia, quatro países emergentes da Europa, dois países da América Latina e Caribe e três países da África subsaariana. A figura abaixo mostra esses países.

Como pode ser visto na figura, dos campeões de crescimento no século XXI, nada menos que 20 países apresentaram crescimento de mais de 100% do PIB per capita entre 2001 e 2019, ou seja, os habitantes desses países, em média, dobraram suas rendas no século XXI. Desses países, três cresceram mais de 200% e dois cresceram mais de 300%.

O grupo seguinte é formado por 25 países com crescimento entre 53% e 92% entre 2001 e 2019. Nesse grupo de países com crescimento médio-alto, a média de crescimento foi de 68,4%. O maior crescimento ocorreu na Sérvia, 91,5%, e o menor no Paraguai, 52,9%. Oito países desse grupo cresceram mais que 75% no período. No grupo estão três países avançados, dois da Comunidade de Países Independentes, quatro países emergentes da Ásia, dois países emergentes da Europa, quatro países da América Latina e Caribe, dois países do Oriente Médio e oito países da África subsaariana. A figura abaixo mostra esses países.

Na sequência aparece o grupo formado por 25 países onde o PIB per capita cresceu entre 26,3% e 50% no período 2001 a 2019   os países com crescimento médio-baixo. O país com melhor desempenho do grupo foi o Egito, crescimento de 49,5%, e o país com pior desempenho foi o Brasil, 26,3%. É isso, menos um pouquinho e estaríamos “comemorando” o melhor desempenho entre os países de pior desempenho em termos de crescimento. A média de crescimento do grupo foi de 35,3%. No grupo estão quatro países avançados, seis países da América Latina e Caribe, cinco do Oriente Médio e dez da África subsaariana. A figura abaixo mostra esses países.

O último grupo é o de países que cresceram menos de 26,3% entre 2001 e 2019 – o grupo dos países de crescimento baixo. O melhor desempenho do grupo foi um crescimento de 26,2% na República do Níger, o pior desempenho foi uma queda de 19,2% no Zimbabwe. O crescimento médio dos países desse grupo foi de 11,8%. O grupo é composto por quinze países avançados, três países da América Latina e Caribe, três países do Oriente Médio e cinco países da África subsaariana. A figura abaixo mostra esses países.

A concentração de países avançados no grupo de baixo crescimento não causa espanto, vários modelos de crescimento apontam a relação inversa entre PIB per capita e crescimento, ou seja, ao contrário da crença popular, países ricos crescem menos do que países pobres. A validação empírica dessa proposição está (muito) além do objetivo desse post, o tema é objeto de pesquisa, vários autores encontram que a relação inversa vale para grupos de países homogêneos. A figura abaixo apresenta a distribuição dos grupos de países de acordo com o FMI – esse que estamos usando no post, segundo o grupo de crescimento.

É fácil observar a concentração de países avançados no grupo de crescimento baixo; isso não chega a ser um problema, afinal esses países já são ricos. Mais preocupante é o baixo número de países da África subsaariana e da América Latina e Caribe no grupo de países de alto crescimento. Outro fato notável é a ausência de países emergentes da Ásia, da Europa e da Comunidade de Países Independentes no grupo de países com crescimento baixo e médio-baixo. Com todos os problemas na Europa Oriental, países como a Rússia, 75,3%, e a Ucrânia, 60,7%, cresceram mais do que a média dos países da América Latina e Caribe, 44,5%, e bem mais que os 26,3% do Brasil.

Dos países da América Latina e Caribe apenas o Peru, com crescimento de 101,3%, conseguiu dobrar o PIB per capita entre 2001 e 2019; a República Dominicana, com 95,7% de crescimento, completa a participação dos países de nuestra América no grupo de alto crescimento. Com crescimento médio-alto aparecem Bolívia, 61,5%, Colômbia, 61,1%, Chile, 56,8%, e Paraguai, 53%. A maior concentração de países da América Latina e Caribe ocorre no grupo de crescimento médio-baixo: Honduras, 39,4%, Equador, 36,2%, Nicarágua, 34,3%, El Salvador, 33,7%, Guatemala, 33,03%, e Brasil, 26,3%. No grupo de crescimento baixo estão Argentina, 25,1%, México, 13,1% e Haiti, -2,8%.

A figura abaixo mostra a relação entre crescimento e PIB per capita para todos os países da amostra; a classificação de cada país de acordo com o FMI está destacada pelas cores. Na figura estão destacados os cinco países de maior crescimento, os cinco com menor crescimento, os países da América Latina e Caribe com crescimento acima do esperado considerando apenas o PIB per capita (os países acima da linha), o Brasil, o México, os Estados Unidos e a Suíça. Reparem a forte presença de países avançados no canto inferior direito da figura – alta renda e baixo crescimento -, e de países emergentes da Ásia na parte de cima do gráfico. De fato, o único país deste grupo abaixo da linha é Papua-Nova Guiné.

A figura acima traz duas preocupações que merecem destaque. Uma é a dificuldade dos países da América Latina e Caribe de saírem da faixa de renda-média. Os países mais ricos da região, como o México e a Argentina (que está no “z” do Brazil), crescem muito pouco; mesmo o Chile, tradicional “campeão” da região, não consegue um desempenho nível Ásia. A outra dificuldade é a presença marcante dos países da África subsaariana na parte de baixo da linha. Se em termos locais o grande desafio do século XXI é tirar a América Latina e o Caribe da renda-média, em termos globais o grande desafio é tirar os países da África subsaariana da renda baixa.

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Roberto Ellery

Roberto Ellery

Roberto Ellery, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), participa de debate sobre as formas de alterar o atual quadro de baixa taxa de investimento agregado no país e os efeitos em longo prazo das políticas de investimento.

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