Compromissos concorrentes na política e na empresa
Fui executivo durante quase 30 anos. Hoje sou consultor empresarial. Nos negócios, como em todas as esferas da vida, é fundamental que as pessoas tenham a capacidade de entender a necessidade de mudanças e, de fato, mudarem.
Divirjo de algumas ideias de Simon Sinek, contudo, ele é cirúrgico quando afirma que, “se você não entende de pessoas, você não entende de negócios”. Em qualquer campo, interagimos e negociamos com seres humanos, de carne, de ossos e de sentimentos. Em diversas situações de consultoria, nada fica mais transparente do que a resistência que indivíduos apresentam em relação à mudança de comportamentos. Muitos têm em sua imanente natureza a imunidade à mudança. Natural.
Nos negócios, é trivial constatar que as necessidades e os desejos dos consumidores se transformaram, e que os recursos e as tecnologias presentes são diferentes. Dessa forma, as empresas necessitam se adaptar aos novos ambientes competitivos e às suas respectivas oportunidades e/ou ameaças.
De fato, os executivos percebem a imperiosidade da mudança, enxergando as oportunidades existentes, mas enxergar a mudança não significa que a pessoa dê um passo além, caminhando para uma transição, que representa que ela adotará a mudança necessária. Mudar é muito complexo, todos somos sabedores. Indivíduos possuem as suas “verdades absolutas” e, desse modo, sempre operam os vieses de confirmação a fim de ofuscar e sabotar a “verdade objetiva”.
Cada um de nós tem seus próprios compromissos concorrentes, muitas vezes não declarados, que atuam como um antídoto contra a real mudança. Lutamos de maneira hercúlea, inconscientemente, para manter a nossa agenda oposta. Existe uma miríade de fatores que faz com que os indivíduos verbalizem que estão comprometidos em mudar, mas que impedem que eles factualmente alterem seus comportamentos.
Um deles é o da aprovação social e do senso de pertencimento grupal ou tribal. Os compromissos concorrentes estão ligados aos vínculos umbilicais com pessoas e/ou grupos, e os indivíduos receiam que a mudança de comportamento os prejudique quanto à forma como serão considerados em seus respectivos grupos/tribos – e até por si mesmos. Temem perder uma conexão autêntica com aqueles a que sentem pertencer.
Portanto, retoricamente, concordam com a mudança, porém, auto protegem-se a fim de não serem discriminados.
Líderes nas organizações precisam deixar claro o por quê da mudança e a posição que se deseja e se necessita alcançar. Muitas vezes, é preciso atuar como um psicólogo, conversando individualmente e descobrindo os compromissos concorrentes presentes. Fundamental deixar transparente que tais compromissos não serão revelados e, assim, não prejudicarão as pessoas.
Todos nós, em alguma medida, temos compromissos concorrentes. Contudo, com diálogo franco, honesto e maduro, mostrando-se as eventuais contradições e os enganos que assumimos, e, principalmente, os benefícios organizacionais e individuais para as pessoas, tornam-se possíveis, enriquecedores e grandiosos o processo e a respectiva mudança de comportamento. Nas organizações, funciona.
Não creio que possa dizer o mesmo no campo político. Não há mais aqueles consensos mínimos quanto ao que é estratégico para o desenvolvimento econômico e social na terra do Pau Brasil. A classe política insiste em procrastinar naquilo que comprovadamente dá certo, ou seja, o alcance do equilíbrio fiscal, uma tributação “justa”, uma justiça “justa” e, fundamentalmente, a proteção das liberdades, individual e econômica.
O atual desgoverno se assemelha a um motorista alcoolizado de um trem descarrilhado, que está descendo ladeira abaixo em razão de políticas coletivistas e populistas, que são e já se mostraram ineficientes e contraproducentes. São os fatos inquestionáveis. E, desafortunadamente, assim será! Até quando? Sinceramente, não sei…
Descomplicado compreender. Embora os compromissos concorrentes possam ser negociados na seara empresarial, a doença do sectarismo ideológico coletivista cega o atual desgoverno quanto às obviedades da disciplina fiscal, da redução do tamanho do Estado, da eliminação da gastança do dinheiro público, da redução da tributação escorchante, entre outras receitas vencedoras. Irônico: venceu a “democracia”, quem perdeu rotundamente foram os nossos bolsos.
Os compromissos concorrentes dessa turma vermelha são religiosos e inegociáveis, custe o que custar. Aliás, esses são amplamente declarados! Apesar das narrativas “pró-povo” e dos falsos compromissos, em especial, com a precária situação fiscal, aquela que entorpece todos os brasileiros, a ideologia coletivista não é um singelo empecilho à incontestável necessidade de mudança. É o compromisso concorrente protagonista. Literalmente, é uma Grande Muralha da China!