Automação e produtividade: as máquinas causam desemprego?
Casselman não está só. A Folha de S. Paulo escreveu a seguinte manchete em 2019: “Robôs ameaçam 54% dos empregos formais no Brasil”. Merece destaque também o Jornal da USP: “A era dos robôs está chegando e vai eliminar milhões de empregos”. Para Alex W. Chernoff e Casey Warman, da National Bureau of Economic Research, se por um lado a automação irá aumentar alguns salários, por outro, ela irá causar desemprego, sendo as mulheres com baixo nível de escolaridade a parte da população mais afetada.
Mas, se por um lado a automação causa desemprego no curto prazo, no longo ela cria abundância. Em 1840, 70% dos trabalhadores americanos estavam no campo e hoje esse número é em torno de 2%. Em 1960, cada fazendeiro americano alimentava em média 26 pessoas, hoje são 155. Como todas as mudanças econômicas, a tecnologia que economiza mão-de-obra prejudicará algumas pessoas no curto prazo, mas geralmente ajudará pessoas de todas as classes a prosperar – como tem feito ao longo da história.
Progresso econômico é sinônimo de produtividade, e é justamente nisso que novas tecnologias nos auxiliam. Como disse Paul Krugman: “A produtividade não é tudo, mas, no longo prazo, é quase tudo. A capacidade de um país para melhorar o seu nível de vida ao longo do tempo depende quase inteiramente da sua capacidade de aumentar a sua produção por trabalhador”. O progresso tecnológico é um dos principais meios pelos quais a humanidade pode melhorar suas condições materiais ao mesmo tempo em que reduz o trabalho necessário. É muito melhor quando não precisamos de doze pessoas com pás para fazer a mesma coisa que uma escavadeira.
O perfil dos trabalhadores mais afetados merece destaque. Daron Acemoglu e Pascual Restrepo, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), acreditam que “uma parte significativa do aumento da desigualdade salarial nos Estados Unidos nas últimas quatro décadas foi impulsionada pela automação”. E por que isto ocorre? Trabalhadores que fazem serviços repetitivos tendem a ser substituídos mais facilmente por máquinas – e são justamente esses que têm um nível de escolaridade menor.
Acabamos de cair em um velho e conhecido problema do Brasil: a educação. Já escrevi por aqui várias vezes sobre como gastamos muito na área, mas temos pouco resultado (vide nossas notas no PISA). A educação brasileira deveria ter como prioridade número 1 fazer os nossos jovens mais produtivos, com capacidade de gerar valor à sociedade. Mas eu não enxergo isso acontecendo. Durante a crise da COVID-19, o Brasil foi o país que ficou mais tempo com escolas fechadas no mundo.
E por que vocês acham que isso aconteceu? Alguém realmente acha que foi porque o nosso país teve uma preocupação legítima para evitar o avanço da pandemia?
Fica a pergunta no ar.
*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.