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As influências históricas do liberalismo

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Reconhecer que o liberalismo é o resultado de um longo desenvolvimento do individualismo ocidental e que deita raízes no legado greco-romano e judaico-cristão não é a mesma coisa que dizer que os antigos eram exatamente liberais, ou, por outra, que não há diferença entre Antiguidade e Modernidade. Isso é anacronismo; concebemos os termos para servirem a um propósito explicativo, não para se estenderem a tudo e, com isso, não se referirem a nada.

O liberalismo é uma corrente sócio-política moderna, aliás definidora da modernidade por excelência, que se atrela à concepção moderna de ampla valorização do indivíduo e da esfera privada, com a corporificação institucional do Estado de Direito, do constitucionalismo, do sistema representativo, da divisão de poderes e da economia de mercado. É evidente que algo distinto aconteceu nos últimos séculos, refletindo-se, inclusive, em nosso padrão de vida.

Encontraremos nos antigos as raízes de nossas ideias; Locke e os pais fundadores dos EUA foram extremamente influenciados, por exemplo, por Cícero. Em Cícero e na República Romana, vislumbraremos as recuadas bases do império da lei, da oposição à tirania, do governo misto, dos pesos e contrapesos, do direito natural e muitas premissas que o liberalismo entre os séculos XVII e XIX viria resgatar e robustecer.

Ninguém, porém, deveria dar o passo de dizer que a República Romana era equivalente ao liberalismo. A República Romana exibia muito maiores limitações quanto à divisão de poderes (nem sempre esteve clara a cisão entre a autoridade executiva dos magistrados romanos e os poderes Legislativo e Judiciário), a separação entre os departamentos da vida, mesmo quanto à representação (que não era, então, apenas censitária, como nos primeiros tempos do liberalismo, mas por grupos e tribos escalonados em importância, sem o peso do voto individual), além de não ter configurado um movimento que estabelecesse seus ideais pelo mundo, colapsando na própria Roma em prol do Império; da mesma forma, não se pode equiparar a democracia ateniense à democracia liberal.

O liberalismo é um capítulo do desenvolvimento dessas ideias que se identifica com os últimos dois a três séculos.

Precisamos de marcos temporais para contar a História e convencionamos abordar a do liberalismo desse modo.

Poderia ser outra a convenção, mas, não sendo, é inútil querer brigar com ela. Como sintetizo em meu livro “O
Papel do Estado Segundo os Diversos Liberalismos”, segundo Hayek, “as liberdades alicerçadas no liberalismo do século XIX, que estavam sendo abandonadas pelos totalitários de todas as espécies, eram um desenvolvimento dos alicerces mais remotos de um individualismo essencial que marca a civilização do Ocidente, desenvolvida a partir dos fundamentos lançados pelo Cristianismo e pelos gregos e romanos. Essa civilização teria nesse individualismo, que começou a se delinear com mais perfeição a partir do Renascimento, sua herança mais importante, sendo a destruição dessa herança equivalente à destruição da própria civilização” (p. 286).

Isso tudo é verdade, mas, como se vê, em momento algum Havek diz que os pontos mais recuados dessa História são IGUAIS aos atuais e, quando se refere aos “liberais da velha escola” com que pretendia perfilar, ele se refere a liberais mesmo, figuras do Whiggismo e posteriores, não a personalidades de milênios antes de Cristo.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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