Algumas afirmações infelizes sobre o liberalismo
Algumas afirmações infelizes que li nos últimos dias:
“Liberalismo não é a filosofia da limitação do poder do Estado. É a filosofia da maximização da felicidade individual. Isso significa remover barreiras sociais para esse caminho (estatais ou não). Leia John Stuart Mill.”
Pois então leia John Locke, Tocqueville, Adam Smith, Hayek e tantos outros e procure onde a “maximização da felicidade” é o seu tema principal.
Quem disse que é Stuart Mill quem define o significado do liberalismo? Mesmo Mill, ao se manifestar, por exemplo, pela ampla liberdade de expressão, e outros liberais sociais, ao enfatizarem o Estado de Direito, estão defendendo a limitação do Estado à “autoridade das regras” e não à “regra das autoridades”.
É central ao liberalismo desde a sua origem a preocupação com a limitação do poder estatal. Nossos liberais não podem se tornar mestres de um revisionismo bocó.
“Qualquer tipo de liberalismo veio do liberalismo clássico, que tem três princípios básicos: economia laissez-faire, propriedade privada, rule of law.”
Aqui parece um problema menos grave, mas não deixa de ser uma maneira erroneamente simplificada de expor a questão. Cito Hayek: “Locke, Hume, Smith e Burke (…) nunca defenderam um laissez-faire total, que, como diz a própria expressão, também faz parte da tradição racionalista francesa e, no seu sentido literal, nunca foi defendido por nenhum dos economistas clássicos ingleses”.
A rigor, a expressão “laissez-faire” é originalmente dos economistas fisiocratas da França e não do liberalismo inglês. Alguns autores, ao contrário de Hayek, como Mises, Milton Friedman e Ayn Rand, apreciaram utilizá-la, mas é claro que tinham visões distintas sobre o sentido exato de sua aplicação, já que pensavam o tamanho e as atribuições do Estado de forma bem diferente; ademais, assim como Mill, eles não definem todo o liberalismo – e nada mais urgente que combater esse tipo de reducionismo em nosso campo.
O mais universalmente adequado seria dizer que a ideia de liberdade econômica ou livre iniciativa, ainda que em graus diferentes, sempre acompanhou o liberalismo.