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A lição de Maquiavel e o Lockdown

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Nicolau Maquiavel talvez seja o autor mais mal interpretado de todos os tempos. Por cinco séculos, acreditou-se que Maquiavel estava ensinando de sua própria noção os pragmatismos políticos que um príncipe deveria executar para se sustentar no poder a qualquer custo.

Recentemente foi possível entender que tudo narrado por Maquiavel não derivava de si ou de um inerente estímulo à sustentação do poder a todo custo e sim de pura observação da realidade ao seu redor como funcionário da república florentina.

De todas as valiosas lições, que por si sós renderiam uma grandiosa aula, decido hoje focar naquela que se convencionou chamar “Lição 6 de Maquiavel”, cujo pensamento pode ser exprimido na sentença: “Faça o mal todo de uma vez e o bem aos poucos”.

A lição que fica, baseada nos princípios de virtude e fortuna de Maquiavel a partir deste trecho, demonstra, talvez, uma das mais simples sentenças para soluções pragmáticas impopulares na gestão política. Uma vez que em política não exista estado que se sustente apenas de boas ações como o populismo adora vender…

Diante da situação atual, a frase deveria ter virado a lição número um em política no momento. Afinal, passamos por um momento delicado em que uma pandemia assola o mundo, consome nossas energias e leva nossos entes queridos antes do dito natural. Como uma situação excepcional que se apresenta, as soluções se demonstram ainda mais excepcionais.

O lockdown pode ser encarado como um mal. Um mal necessário, mas ainda assim um mal, pois não era uma situação desejada por ninguém, não se tratava de uma opção que alguém queria e muito menos a que esperávamos. O lockdown é como uma dipirona para a febre: não a queremos, mas se faz necessária até mesmo com seu gosto amargo. Como um mal, diria Nicolau Maquiavel, “faça-o todo de uma vez”.

O todo de uma vez seria aquela política inicial, em que veríamos o lockdown realmente ser aplicado no princípio, de maneira única e com objetivos claros de execução, tal qual podemos exemplificar com o Reino Unido de Boris Johnson. Esta nação acabou por aplicar o mal todo de uma única vez logo no início de sua necessidade; porém, uma vez passado o susto inicial, o Reino Unido executou o bem aos poucos, aquelas liberações graduais de liberdade recuperada, como alguém que, após tomar rapidamente a amarga dipirona, diluísse seu péssimo sabor em pequenos goles de água levando aquele amargo embora, com liberações de pubs e até mesmo para assistir eventos esportivos, mesmo que em número reduzido.

O Brasil, onde virtude e fortuna parecem ser conceitos alienígenas para nossos mandatários, ignorou solenemente qualquer lição política sobre. Nosso amargo remédio não foi tomado na dose suficiente na hora necessária; pelo contrário, foi dado em doses homeopáticas, onde fica apenas o amargo do sabor e nada do efeito prático. Lockdowns mal executados, feitos a cada três semanas sem padrão e sem rigor, ou às vezes com rigor incompatível, sendo estendidos por meses a fio, gerando a incerteza do amanhã, que ao final conduziram a levar quase 300 mil brasileiros à morte e mais tantos outros a entrarem em processo de falência. O lockdown, aquele remédio para ser tomado todo de uma vez pelo fato de ser um mal necessário, agora nos aparenta ser infinito enquanto tomamos doses homeopáticas dele, e aquele bem aos poucos, dos goles de água para levar o amargo embora, sequer aparece para nós, brasileiros, ficando apenas aquele amargor do lockdown na nossa língua.

Enquanto o remédio amargo foi aplicado uma vez para os ingleses, a busca por um remédio cujo sabor fosse mais doce nunca parou e uma luz no fim do túnel foi acesa ao surgir a vacina, que em breve deixará este mal necessário para trás. Já aqui, onde procuramos fingir que não precisávamos de nosso remédio amargo, agora a duras penas tomamos de maneira parcelada, enquanto existe alguém que apague a luz no fim do túnel nos oferecendo arsênico diluído e terapia de cristais como remédio para uma febre que poderia ter sido melhor administrada desde o começo.

* Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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