A liberdade de expressão irrestrita: uma visão aristotélica
Aristóteles, um dos pensadores eminentes da Grécia Antiga, sustentava uma visão que ecoa ainda nos corredores do discurso intelectual. Dentro de suas reflexões profundas, Aristóteles postulou a noção de que o universo da palavra não é sinônimo do universo da ação. Essa afirmação, enraizada em suas meditações filosóficas sobre ética, política e natureza humana, forma a base para uma defesa robusta da liberdade de expressão.
A perspectiva de Aristóteles emerge de sua exploração profunda do comportamento humano e da comunicação. Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles delineou a importância das ações como reflexões tangíveis da virtude e do caráter. Para ele, o universo da ação constitui o domínio em que os indivíduos manifestam suas inclinações éticas e estatura moral. A virtude, como Aristóteles postulou, não é apenas um conceito abstrato, mas é realizada por meio das escolhas e ações dos indivíduos. As ações que alguém empreende definem sua bússola moral, orientando em direção à “eudaimonia”, o estado máximo de florescimento humano e bem-estar. É nesse domínio que Aristóteles fundamentou firmemente o tecido ético de sua filosofia.
Por outro lado, Aristóteles reconheceu a potência do universo da palavra, que abrange o domínio da retórica e da comunicação. Em seu tratado Retórica, Aristóteles explicou a arte da persuasão e a eloquência da fala. Ele reconheceu a capacidade das palavras de influenciar, inspirar e orientar empreendimentos humanos. Dentro desse universo, os indivíduos utilizam o poder da linguagem para transmitir ideias, fomentar diálogo e articular suas convicções. O universo da palavra, segundo Aristóteles, apresenta um meio através do qual os indivíduos podem influenciar opiniões, gerar compreensão e moldar a trajetória da sociedade.
A distinção entre o universo da palavra e o universo da ação, para ele, carrega implicações profundas para a defesa liberal da liberdade de expressão. Ao abraçar uma perspectiva liberal, reconhece-se a sacralidade da autonomia individual e o valor inerente de pontos de vista diversos. Dentro dessa estrutura, a harmonização dos conceitos de Aristóteles se ajusta de maneira coesa. A liberdade de expressão – o direito de expressar opiniões – emerge do universo da palavra, uma materialização da autonomia ética. Os indivíduos, ao abraçarem seu direito de se manifestar, participam na busca pela virtude, engajando-se em deliberação, reflexão e comunicação. Tal como as ações virtuosas moldam o caráter, a expressão de pensamentos aprimora as capacidades intelectuais e redesenha o tecido da sociedade.
Uma sociedade liberal, fundamentada nos ensinamentos de Aristóteles, reconhece que os domínios da fala e da ação estão em universos separados. A liberdade irrestrita de expressão torna-se não apenas um preceito legal, mas um imperativo ético. Esse imperativo emana da própria natureza da existência humana, em que a convergência desses universos enriquece o crescimento individual. Ao preservar a sacralidade da expressão, um quadro liberal celebra a dignidade inerente dos indivíduos para articular seus pensamentos, fomentando uma cultura de diversidade, diálogo aberto e florescimento intelectual.
Dessa forma, a visão de Aristóteles sobre a distinção entre o universo da palavra e o universo da ação revela uma base sobre a qual uma defesa liberal da liberdade de expressão irrestrita pode ser construída. A síntese desses universos encapsula a essência da autonomia individual e do crescimento ético. Ao adotar a sabedoria de Aristóteles, a sociedade se torna capacitada a defender um contexto em que a troca irrestrita de ideias não só é permitida, mas também é celebrada como um veículo para o desenvolvimento humano.
*Leonard Batista – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.