A importância da união entre os liberais
“Menos Mises, mais Mill”. Certamente essa é uma frase com que você já se deparou enquanto circulava pelas redes sociais, sobre pessoas que querem que o liberalismo se desprenda da escola austríaca e siga os caminhos do liberalismo social. Apesar de eu valorizar muito a leitura do máximo de autores possível, acredito que a frase não poderia ser mais mesquinha e errônea.
Primeiro, ela é mesquinha de acreditar que somente o liberalismo social é a forma de liberalismo a ser defendida. O liberalismo é um amplo espectro de correntes e escolas dentro de sua própria concepção política, no qual o liberalismo social é uma das escolas e o liberalismo austríaco, do qual fazem parte Carl Menger, Hayek e Mises (mas não a linha defendida por Rothbard, que faz parte do movimento conhecido como anarcocapitalismo), é outra escola, que se tornou muito popular no Brasil na última década
Diferentemente do que algumas pessoas pensam, Mises não se tornou um nome popular no meio liberal por geração espontânea. Foi um trabalho de divulgação frenético, principalmente capitaneado pelo Instituto Mises Brasil, até ele atingir uma posição de senso comum entre pessoas que partilham de ideias liberais. Nós mesmos já salientamos em outras oportunidades a relevância de Mises como uma boa porta de entrada ao liberalismo tanto para nós quanto para muitos, tanto pela acessibilidade de seus textos quanto por sua didática.
Claro, Mises não é o único autor do liberalismo, e possivelmente você tenha em mente aquele autor que faz pensar: “Nossa, mais pessoas deveriam ler/conhecer esse sujeito”. Esta página mesmo tem como princípio auxiliar na divulgação de autores liberais brasileiros; tanto que, além de comentários sobre a sociedade atual, trazemos com frequência textos e ideias de liberais do passado e do presente, justamente com o intuito de divulgação. O próprio ícone do liberalismo social brasileiro, José Guilherme Merquior, não surgiu no meio liberal do nada. Houve uma ampla divulgação recente nos meios liberais, tal como houve também com a obra de Roberto Campos e mais recentemente o resgate da memória de Carlos Lacerda, de quem o autor do texto que vos fala é um imenso admirador.
A lição a ser extraída dessa concepção é a de que o liberalismo é amplo e pode servir para cada um de nós nos identificarmos mais com as ideias, mesmo que de diferentes escolas, e que, se você acredita que um autor mereça a sua devida atenção, o trabalho a ser feito não é com base em slogans que renegam o liberalismo entre si, mas sim com a árdua divulgação dos ideais e princípios defendidos por um ou outro autor.
Por que Mises ficou popular? Pois as pessoas passaram a se identificar com suas propostas de uma economia mais liberal em um país que, como diria Antônio Paim, outro autor que merece atenção, vive a querela do estatismo, além de ter escrito livros com uma simplicidade didática invejável. Por que Merquior ficou famoso? Pois dentro do liberalismo pessoas passaram a notar que o pseudo-estado social que vivemos era criticado por gente com tanto tato para as causas sociais quanto José Guilherme Merquior, o homem que pensou um liberalismo popular e voltado para o bem social. Carlos Lacerda hoje começa a acender atenções por sua luta incansável contra o eterno fantasma da corrupção e do patrimonialismo brasileiro, que até hoje nos assombra e recorre à luta contra a corrupção.
Meu objetivo com este texto é fazer um apelo: não reneguem o liberalismo, aceitem-no. Se você acha que um autor merece mais destaque, divulgue-o. Inclusive, sinta-se confortável em usar este local para divulgar o seu autor favorito e a sua causa.
O liberalismo precisa de união entre as suas diversas escolas contra o latente autoritarismo, paternalismo e estatismo que assola nosso país.
Como diria Ronald Reagan: “A pessoa que concorda 80% do tempo com você é um amigo e aliado, não 20% traidor”.
*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.