Homenagem a Luís Gama
Luiz Gama nasceu em 1831 e morreu em 1882. Viveu no império brasileiro a vida inteira, parte do tempo como um escravo ilegal vendido pelo próprio pai. Foi moldado, criado e formado para ser um abolicionista dos mais ferrenhos, o maior da história do continente americano.
Gama era um abolicionista radical, mas isso não quer dizer que ele saía por aí incendiando fazendas, abrindo portas de senzalas à força e provocando massivas fugas de escravos; pelo contrário, a historiografia mostra que tais atos só se acordaram após sua morte. Em vida, Gama se ateve a outro radicalismo, o jurídico.
Defendia que a abolição fosse imediata, contra o gradualismo defendido por outras correntes políticas da época, incluindo as do partido conservador, e principalmente que nenhum dono de escravo jamais recebesse um centavo por seus escravos. Suas ideias eram radicais, mas seu ativismo era totalmente legalista, movido exclusivamente a batalhas jurídicas – batalhas essas em que era imbatível, uma vez que era um autodidata ferrenho que conhecia de cabo a rabo todas as leis brasileiras e usava todas as brechas legais na corte para promover alforrias coletivas.
O problema é que certos tipos políticos cometem pecados persistentes e tentam enganar os desatentos. Primeiro tentam criar anacronismos do tipo “mas se Luiz Gama nascesse hoje…”, ignorando que sua motivação está relacionada com o tempo em que ele viveu. Hoje Gama seria vendido escravo por seu pai? Seria excluído de uma universidade por sua cor? Então, porque debater o Gama hoje e não o Gama no século XIX? Ele foi liberal e seu radicalismo era apenas uma ideia polêmica à época que hoje é um senso comum, graças a Deus.
Mas, aparentemente, ser liberal é visto como uma característica ofensiva para aqueles que acham que o esquerdismo é uma condição de caráter e não de opção.