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Contrapondo Celso Furtado

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Segundo o economista Celso Furtado, em seu livro Teoria do Subdesenvolvimento, a “crise de 1929” pôs em xeque o “modelo liberal” de economia. Celso Furtado, que retrata parte da história econômica brasileira nesse livro, ignora pontos históricos cruciais sobre o liberalismo e sobre o Brasil, mostrando-se assim, um teórico normativo ao invés de positivo, uma vez que sua definição para o assunto foi extremamente simplista e superficial.

Primeiramente, esta falácia deve ser rebatida olhando para a história, como já dizia o economista alemão Wilhelm Röpke. Outro economista, o francês, Michel Albert, vai mais além e diz que os números são importantes, mas sempre recorrem à experiência já vivida. Portanto, a “Crise de 1929” deve ser olhada pela experiência já vivida e pela história, não por utopias que nunca se concretizaram. Röpke também afirma em seu livro Crises e Ciclos, que as crises são provocadas pelo que é feito dentro de um ciclo econômico. O economista norte-americano Murray Rothbard publicou o livro A Grande Depressão contando os prelúdios da crise e como ela ocorreu. É necessário olharmos para o cenário interno e externo para essa análise.

Situação internacional

No cenário externo, existiam países que estavam saindo de uma primeira grande guerra, o que fez com que gastassem seus recursos de forma demasiada e depreciassem suas economias. Com uma Europa arrasada, a inflação tomou conta. Um exemplo disso foi a Alemanha, que teve inflação na casa de 21% ao dia. Os EUA eram os grandes ofertadores de produtos para os europeus e também para o seu mercado interno, o que fez com que a sua economia superaquecesse. Além disso, o secretário de comércio dos governos Harding e Collidge, Herbert Hoover, que depois se tornou presidente dos EUA, adotou uma política que aquecia ainda mais essa produção, com aumento dos subsídios e dos benefícios, fora uma expansão do crédito feita pelo setor privado, que via uma oportunidade com a proliferação dos negócios no país. Isso fez com que os produtores aumentassem sua produção muito além do que a sua demanda (tanto a interna, quanto a externa) poderia comprar, ainda mais a Europa, que estava com uma demanda inelástica devido à crise. Somado a isso, para conter a crise, os países europeus, de forma errônea, romperam com o padrão-ouro.

Um exemplo disso foi a Inglaterra, que o fez em 1925, tirando o lastro da moeda, desvalorizando-a e piorando o poder de compra da demanda. Todos esses estímulos fizeram com que a “grande crise” chegasse em 1929, com o “Crash” da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Ademais, a taxa de juros do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) estava baixa, resultando num aumento dos investimentos e a expansão do “boom” econômico. As ações das empresas, que foram superestimadas e superaquecidas durante todos os anos antecedentes à crise, fizeram com que os valores dessas ações se reduzissem a níveis extremamente baixos, resultando em desemprego e deflação, uma vez que, como dito anteriormente, houve uma super produção da oferta e a demanda não acompanhou essa produção.

Situação no Brasil

Mas e o Brasil? A situação do Brasil foi descrita anteriormente com o monopólio cafeeiro e o patrimonialismo governamental que mantinha o mesmo modelo terceiro-mundista, como já dizia José Osvaldo de Meira Penna, em vigor. Isso fazia com que o Brasil se tornasse refém de compras do exterior. Quando esse mercado consumidor entra em depressão, o Brasil também sofre e passa a entrar em regime de deflação, uma vez que houve uma super produção da oferta de café. A solução para o contingenciamento foi a queima de milhares de sacos de café, fazendo com que os agricultores e o governo brasileiro tivessem perdas econômico-comerciais muito grandes. Essa medida foi criticada pelo industrial brasileiro, Roberto Simonsen, que, em seu livro Crises no Brasil, mostra que a ineficiência governamental em não adotar uma política monetária expansionista puniu os produtores e o poder governamental. Para Roberto, os bancos federais e estaduais deveriam expandir a base monetária para aumentar o valor dos produtos, fazendo com que estes não se desvalorizassem com a deflação. Voltando novamente para Wilhelm Röpke, que diz em seu livro A Economia Humana que o segredo para sair de uma crise é justamente tentar equilibrar a oferta e a demanda, ou seja, num cenário deflacionário, o ideal seria a proposta de Roberto Simonsen.

Sobre o modelo liberal clássico de economia

Além disso, o “modelo liberal clássico de economia” foi saindo de cena durante a primeira grande crise do sistema capitalista de produção, a “Crise de 1873”. Países como EUA e Alemanha começaram a adotar regulamentações no mercado e tentativas de combater trustes e cartéis a fim de melhorarem a competitividade e, consequentemente, a sua produtividade. Isso é relatado pela professora de direito concorrencial, Renato Mota Maciel, que, além disso, mostra como essa política regulatória fez com que os países se recuperassem mais rápido da crise. Com a ascensão de Estados sociais e também dos Estados totalitários no pós-primeira guerra, o “modelo liberal clássico” acabou sendo deixado de lado, tendo menor relevância no cenário internacional. O liberalismo só foi retomado, de fato, no pós-segunda guerra mundial através do “modelo renano de economia de mercado” e também do “modelo anglo-americano de economia de mercado”, sendo estes denominados “modelos neoliberais”.

Conclusão

Portanto, Celso Furtado ignora a história, mostrando desconhecimento do cenário interno, externo e também de teorias econômicas. “A Crise de 1929” foi um erro, como dito no texto, provocado por falhas de políticas governamentais e também por erros privados, não tendo qualquer relação com o “modelo liberal de economia”.

*Kayque Lazzarini cursou Ciências Econômicas na FACESP/FECAP (Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo) e cursa Relações Internacionais na FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) Trabalhou como redator sênior no site Torcedores.com e também atuou de forma independente no blog ‘Orgulho de ser Lusa’ e ‘Rubro-Verde Mídia’. É Coordenador local do Students For Liberty Brasil (SFLB), foi diretor político da União Juventude e Liberdade de São Paulo (UJL-SP), coordenador político do núcleo do partido NOVO, na cidade de Guarulhos, e refundador do núcleo do Movimento Brasil Livre (MBL), na cidade de Guarulhos.

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Kayque Lazzarini

Kayque Lazzarini

Estudou ciências econômicas na FECAP e atualmente é estudante de relações internacionais na FECAP.

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