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Parasitas e Hospedeiros

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ANDRÉ LEITE*

“Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.”

Nelson Rodrigues

 

Não me recordo de ter vivido um tempo com tamanha convergência de opiniões sobre o mau caminho que o Brasil trilha. Cientistas, políticos, economistas, empresários, pensadores, enfim, todos aqueles que não estão na folha de pagamento do PT estão preocupados com o rumo catastrófico que o país toma. No entanto, quando olhamos as pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2014, o que vemos? Que o atual governo caminha para uma vitória tranquila. Talvez até no primeiro turno. Dona Dilma lixa as unhas enquanto comemora os 47% de intenções de voto.

Há um divórcio latente entre a base da população e sua elite. Aqui não me refiro à elite política e econômica (uma verdadeira simbiose, no capitalismo de estado promíscuo), mas à elite pensante (que hoje está mais fora da academia, muito aparelhada, do que dentro). É aos pequenos empresários, aos assalariados e aos profissionais liberais, gente que não tem os favores do BNDES, mas que paga impostos extorsivos, a quem me refiro. Gente que sai cedo de casa para trabalhar, perde horas no trânsito das metrópoles. Gente que não sabe se volta para casa no fim do dia, gente que não sabe se vai se deparar com um bandido nos semáforos que poderá lhe enfiar uma bala na cabeça…

É uma gente que pensa, que sente, que pressente o abismo. Mas é uma gente que só faz abaixar a cabeça e trabalhar. Em silêncio. São maioria em termos numéricos (os 53% que não votariam hoje na Dilma). Mas é uma maioria desunida, fragmentada entre outros candidatos, que muitas vezes nem vota, ou anula o seu voto. A democracia tem dessas coisas: é como se o intestino grosso, o anus e a vesícula descobrissem que tem três votos contra apenas um do cérebro, e resolvessem que eles iriam passar a tomar todas as decisões do seu corpo. Por isso a democracia madura desenvolve mecanismos de pesos e contra pesos para que líderes populistas e aduladores, do povo pouco instruído, não se eternizem no poder. Mas ainda não somos uma democracia madura, e por isso corremos riscos.

Os sinais negativos continuam a chegar. O mercado das artes foi pego de surpresa pela nova lei do Estatuto de Museus (lei 11.904), que, resumidamente, diz que uma obra particular pode ser declarada de interesse público, por essa razão não podendo ser mais vendida, restaurada ou movimentada sem a autorização dele, o grande big brother, o estado.

Quem se arvora no direito de expropriar uma obra de arte privada pode perfeitamente fazer o mesmo para imóveis, terras ou qualquer outro tipo de bem particular. Basta usar as expressões usuais, ‘interesse público’, ‘uso social’ ou qualquer outro eufemismo para justificar o roubo puro e simples.

Naturalmente, houve alguns sinais positivos de confiança no país nos leilões de concessões de aeroportos e da rodovia BR163 (a Transoja), isso nos deixa sempre como uma enorme dúvida do que será o Brasil no caso de mais quatro anos de petismo. Um enorme capitalismo de estado (uma China operada por Macunaíma), filho de uma relação adúltera entre Marx e o PMDB? Ou será que iremos na direção do socialismo do século XXI da Venezuela? Abro aqui uma pausa bem humorada. Esses venezuelanos reclamam demais. Não sei porque fazem tanta questão de papel higiênico se mal tem o que comer.

Há dois cenários prováveis com a vitória de Dilma: um é apenas ruim e o outro é trágico. Vamos exercitar o nosso otimismo e trabalhar apenas com o cenário ruim para 2014 (capitalismo de estado)? Já se avizinha um cenário de aumento de impostos. Como é sabido, a situação fiscal do Brasil vem se deteriorando (em dois anos ao superávit primário caiu pela metade) e já se fala até em rebaixamento do país pelas agências de risco. Como o governo resolve tal situação? Reduz despesas? Otimiza recursos? Nem em devaneios. Pra quem é martelo todo problema é prego. Já saiu do forno a MP 627, a medida provisória que pretende aumentar impostos sem mexer nas alíquotas. E já em 2015. São 100 artigos com muitas modificações no imposto de renda para as empresas e uma modificação importante para a pessoa física com investimentos no exterior, que antes somente pagava o imposto no momento de trazer o dinheiro de volta ao Brasil. Agora o recolhimento será periódico. Naturalmente a MP já recebeu mais de 500 emendas e terá 120 dias para ser aprovada no Congresso, isso tudo tendo como relator o temido (pelo Planalto) Eduardo Cunha, do PMDB-RJ. Não se sabe o que vai ser parido, mas o espírito da coisa é esse mesmo. Mais impostos para 2015.

Na economia, isso implica em menores margens para as empresas. Não é bom para as ações e nem para a emissão de dívida das empresas. A Vale, que aderiu ao Refis sobre um contencioso de R$ 22 bilhões com a receita, já avisou que irá reduzir os investimentos para 2014. A grana vai pro governo. A sensação é de que há mais parasitas e menos hospedeiros a cada dia na economia. A conta começa a não fechar.

Um dado que saiu em novembro foi o crescimento da população de parasitas brasileiros. Nada menos que 16 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos não trabalham, não estudam, não estão doentes e muito menos procuram empregos. Esse número só cresce. Creio que esse número está intrinsecamente relacionado com as 14 milhões de bolsas família que são distribuídas todos os meses. É uma gente de quem não é pedida nem a contrapartida de varrer as folhas secas de uma praça. Apenas recebem o ‘benefício’. E você paga.

O modelo econômico vigente aponta para baixo crescimento, inflação teimosamente alta, contas externas com rombos crescentes, real se desvalorizando e ambiente mais hostil para as empresas.

Na renda fixa não há motivos para posições pré-fixadas mais curtas, de baixo prêmio. Para as longas os prêmios são mais interessantes, porém a visibilidade é baixa justamente por conta do evento eleições no fim do ano que vem. Uma Selic de 10% com uma inflação rodando perto de 6% favorece aos papéis pós-fixados, em especial isentos de IR como LCA´s ou LCI´s. Ainda na renda fixa começamos a ver o lançamentos de CRI´s de bons nomes com taxas de juros reais (líquidas de IR) interessantes. Para quem ficou um tempo fora desse mercado é uma boa janela para ensaiar uma volta.

Na última carta mensal comentamos que o patamar de R$ 2,18 era atrativo para compras do dólar e realmente foi, a moeda americana fechou o mês em R$ 2,33. Um ganho de quase 7%. A visão de médio e de longo prazo continua favorável ao dólar. Trata-se de uma alocação bastante assimétrica. Se um candidato de políticas responsáveis ganhar em 2014, não cremos que o real possa se valorizar muito além de R$ 1,90/R$2,00. Porém, se os piores cenários se concretizarem pode-se dizer que o céu é o limite, basta ver o exemplo do Peso argentino e do Bolívar venezuelano. Temos mais para ganhar do que para perder.

Nas ações, é sabido que há algumas empresas realmente baratas em bolsa. Até quando? Às vezes o barato fica muito tempo barato e até mesmo fica mais barato ainda com o tempo. O Brasil vai se tornando um consenso, negativo, entre os investidores estrangeiros e não se vê fluxo para bolsa. Melhor ficar fora. Outra coisa que me chamou atenção foram duas figuras de relevo nas finanças internacionais (Nouriel Roubini, que previu a crise de 2008 e Robert Shiller, nobel de economia) falando que existe uma bolha no mercado imobiliário local. Será que esse ajuste, caso haja, será feito com o preço em reais ou com o preço em dólares (desvalorização forte do real)?

Fique ligado. O momento requer liquidez, conservadorismo e proteção patrimonial.

*PUBLICADO ORIGINALMENTE NA NEWSLETTER DA MP ADVISORS

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

Um comentário em “Parasitas e Hospedeiros

  • Avatar
    04/12/2013 em 10:26 pm
    Permalink

    Muito bom.

    O futuro do país é sombrio.

    Sorte que estamos abrindo os olhos, porém, falta organização e uma liderança.

Fechado para comentários.

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