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Ou se é varguista, ou se é democrata, os dois juntos não dá

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Ciro Gomes, presidenciável do PDT, fez mais uma de suas habituais reverências a Getúlio Vargas em suas redes sociais, por ocasião da data de nascimento do ditador. Ocorre que o habitual não pode ser entendido como normal. Não é normal que gente que se pretende democrática, e até mesmo se articule para ser uma alternativa “moderada” (não compro essa), flerte com ditadores, em especial quando pretendem ter propriedade para criticar outros que fazem o mesmo, porém com os “ditadores errados”.

Getúlio foi o artífice de uma centralização extremada, que até hoje nos aflige (chegou a banir e queimar as bandeiras estaduais), articulador autocrata, movendo as peças necessárias para prorrogar seu mando, a exemplo do golpe que frustrou a promessa de eleições e lhe deu mais oito anos de poder no chamado Estado Novo. Com o golpe, baixou uma constituição escrita, já há um ano, por Francisco Campos, que depois viria a ser autor do AI-1, aumentando ainda mais seus poderes. Manteve o Congresso fechado por oito anos (nove se considerarmos que só foi reaberto em 1946), perseguiu opositores, censurou, criou o DOPS, reaproveitado depois pela ditadura militar, implantou uma política de culto à sua personalidade, em linha com estados fascistas europeus, pelos quais, todos sabem, ele nutria simpatias. Alijado do poder, depois de 15 anos de governo, retornou pela via eleitoral, prosseguindo com uma política de dirigismo estatal, finalmente metendo uma bala no peito, não por ser uma vítima, como pretende ser em sua famigerada carta, encomendada e enfeitada (a original é bem menos dramática), mas por ter o seu nome envolto em uma tentativa de assassinato do principal opositor político, ataque comandado pelo chefe de sua guarda pessoal. Vargas não era puramente um fascista, mas o Estado Novo foi a experiência mais próxima do fascismo que tivemos, muito pior, vou repetir, MUITO PIOR, do que a ditadura militar. Apesar da maior longevidade, a ditadura militar não praticou personalismo e foi devidamente julgada pela história, ao passo que a ditadura Vargas é, muitas vezes, esquecida. Não há diferença entre Ciro Gomes prestando homenagens a um canalha como Vargas e Bolsonaro dedicando voto a Brilhante Ustra. A diferença existe só para quem tem ditador de estimação.

Não por acaso, os fãs de Vargas costumam estar entre aqueles que, a exemplo do Ciro, adoram chamar os outros de fascistas. Não é novidade, eu sei, mas é hipocrisia das brabas. Qual a lógica de assinar um documento em defesa da democracia, em data de aniversário do golpe de 1964, e celebrar a memória de quem fez ainda pior em termos de autoritarismo? A lógica é justamente não ter lógica, a lógica é incorporar a contradição, quando muito falar das “diferentes faces” de Vargas e tentar contemporizar sua ditadura com pontos supostamente positivos, como se uma coisa anulasse a outra. É possível, é claro, falar dos avanços econômicos do Chile sem que isso signifique um elogio a Pinochet, que é indefensável. Os varguistas contemporâneos, por sua vez, não escondem o fascínio e simpatia, não apesar, mas justamente pelo estatismo autocrata que Vargas incorporava. Tal estatismo não combina a democracia liberal. Os varguistas contemporâneos devem se decidir. Democrata de verdade não presta louvares a ditadores. Democrata de verdade tem repúdio por todo e qualquer tipo de autoritarismo.

Fontes: https://istoe.com.br/10990_A+VERDADEIRA+CARTA+TESTAMENTO+DE+GETULIO+VARGAS/

https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=261555

https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/04/01/ciro-leite-amoedo-doria-huck-e-mandetta-assinam-manifesto-em-favor-da-democracia.ghtml

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Gabriel Wilhelms

Gabriel Wilhelms

Graduado em Música e Economia, atua como articulista político nas horas vagas. Atuou como colunista do Jornal em Foco de 2017 a meados de 2019. Colunista do Instituto Liberal desde agosto de 2019.

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