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O reino do umbigo

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Não é novidade para ninguém que a qualidade das políticas públicas no país é de doer. Literalmente, as sentimos na pele e nos bolsos. Temos um cacoete especial de produzir tais políticas com base em meras crenças e em sentimentos, desprezando-se a genuína ciência e as comprovadas experiências positivas.

Neste sentido, somos uma nação atrasada e estagnada, que não consegue crescer e proporcionar um padrão de vida melhor para seus cidadãos. Seguramente, um dos principais motivos da nossa vanguarda no atraso é a condição de fechamento para o mundo que, como disse, baseia-se em opiniões, em falácias e em efetivos enganos.

Nosso mercado interno já se caracteriza como sendo um “reino do umbigo”, repleto de restrições absurdas e de burocracias que justificam um Estado gigantesco, com subsídios mil que não se apresentam de maneira transparente e distorcem os mercados, com uma legislação tributária labiríntica que torna o ambiente de negócios difícil e custoso, entre outras pérolas. Por aqui ainda não se compreendeu e/ou não se quer enxergar que o mundo, com a fragmentação do processo produtivo em nível global, está formatado em cadeias globais de valor.

Não, não se enganem, mesmo com o alardeado nacionalismo econômico, não haverá “desglobalização” nem retrocesso nas CGV. Nas CGV, empresas e ecossistemas se especializam em P&D, outras em manufatura, umas em montagem, outras em comercialização e em distribuição.

Desse modo, evidente que o Brasil se encontra alijado da realidade produtiva e de distribuição global. Claro que de alguma forma o disfuncional Mercosul representa uma camisa de força que nos impede de avançar na negociação de acordos comerciais com outros países e blocos comerciais, o que impõe às empresas brasileiras uma posição de baixa competitividade.

A atual narrativa é a de que o Brasil quer se abrir para o mundo; no entanto, o principal parceiro, a Argentina, é francamente protecionista. O país vizinho quer o fechamento, sem dúvida, mas tenho minhas dúvidas se as autoridades brasileiras desejam de fato a abertura comercial.

Sem os acordos comerciais, empresas internacionais não investem no país e o ciclo vicioso roda. Sem investimentos e volumes de exportações, não logramos economias de escala, o que torna nossos bens mais caros. Sem o ingresso de fluxos tecnológicos, nossos bens não conseguem agregar inovações, o que é vital para se competir eficientemente. Sem falar na crônica ineficiência da infraestrutura logística e de transporte, que por si só já se constitui em uma barreira ao crescimento interno e aos investimentos estrangeiros.

A justificativa maior para o protecionismo tupiniquim é sempre calçada na mesma falácia do prejuízo às empresas nacionais e a perda de empregos verde-amarelos. Os empresários do compadrio, os lobistas nos diversos segmentos pressionam e os próprios cidadãos caem nesta inequívoca cilada. O protecionismo faz com que empresas brasileiras não competitivas fiquem imunes à competição e se perpetuem artificialmente.

Mesmo aquelas que necessitam importar bens de capital, matérias primas, componentes e produtos acabados o fazem – ou não conseguem fazer – com custos muito mais altos, o que lhes rouba a competitividade e o poder de fogo nas exportações. E os consumidores brasileiros? Que se danem! Que comprem produtos de pior qualidade, à preços mais altos.

Não nos damos conta de que o preço adicional pago por bens domésticos drena o dinheiro dos indivíduos que poderia ser utilizado para a faculdade dos filhos, para uma moradia melhor, para a compra de um veículo, para uma viagem, enfim, o protecionismo corrói a qualidade de vida de uma nação. É lamentável que as pessoas em geral não percebam que o protecionismo acaba forçando os consumidores brasileiros a pagar salários para trabalhadores em indústrias e em empresas não competitivas para que estes permaneçam em seus empregos. Em uma situação de mercado aberto, evidente que esses trabalhadores iriam fluir para indústrias e empresas competitivas com maiores oportunidades e salários.

Verdadeiramente, o protecionismo acarreta uma perda de empregos nacionais. A ignorância econômica, infelizmente cega quanto ao mais básico conceito econômico: os recursos são escassos. Neste país, aparenta que a “ciência” sem ciência sempre triunfa!

No reino do umbigo e do compadrio, imperam há muito tempo equivocadas políticas de substituição de importações, estímulos nacional-desenvolvimentistas, subsídios e aversão ao estrangeiro. Ah, o petróleo, o plástico, o aço… o guaraná, tudo é nosso!

Alguns poderão alegar que é preciso lidar com as falhas de mercado no país. Sim, em casos específicos, o governo deve intervir. Porém, neste reino do umbigo, o que é para ser pontual e temporário, tal como um subsídio, torna-se imutável, beneficiando um grupo privilegiado de empresas, mas ceifando a saúde econômica e social dos consumidores brasileiros.

Bem, esta lógica protecionista tacanha pode ser alterada? Pode sim, mas calma, nós somos o “país do futuro”… que nunca chega.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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