O Movimento Gay não é tão gay assim

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“Se fundamentalista significa alguém que insiste nas coisas fundamentais, sou um fundamentalista,”. – Cardeal Raymond L. Burke
“Se fundamentalista significa alguém que insiste nas coisas fundamentais, sou um fundamentalista,”.
– Cardeal Raymond L. Burke

Qual é o fundamento do Movimento Gay? Seria o da liberdade Sexual, o fim das discriminações e o sanar dos preconceitos? Será? O que seria “liberdade”, dentro do Movimento Gay? A liberdade que já possuem em seus âmbitos particulares? O que o Movimento Gay quer é atingir o social em nome de um privado, contudo, a problemática não esta apenas na exteriorização forçada de características que deveriam ser, sumariamente, pessoais e íntimas, mas sim no uso do gosto sexual como política pública.

Uma característica social, algo público e notório, como o tipo de trabalho, as ideias políticas ou preferências de sistemas, se enquadram em algo que pode ser levado – isso se já não “nasceu” sendo – para a esfera política de uma nação; o tipo de trabalho de parcelas da população pode criar visões guinadas para questões existentes na área trabalhista; ideias políticas, embasadas em reflexões e análises, devem ser influentes na área política de um país; preferências de sistemas de governo precisam estar em pauta e estar presentes na política – mas por qual motivo?

A razão principal por que todas essas características sociais, intelectuais e sistemáticas são muito relevantes ao se tratar da política é o fato de todas possuírem fundamentos que, racionalmente, fazem sentido no meio político prático (e teórico). Mas e quando algo não pertencente ao foro público, ao político, toma partido? Quando um tipo de discurso se constrói e fortalece com amplo impacto em políticas, mas carecendo do lastro conceitual necessário para a coerência de se tornar um ato político? Se isso ocorre, o resultado não é nada menos que alarmante.

Ser gay, no que diz respeito ao relacionamento sexual, é algo estritamente íntimo, é algo que deve ficar literalmente em quatro paredes. Não se é gay, hétero ou bissexual na rua, no emprego, no cinema. Exteriorizar a sexualidade é colocar para fora algo relacionado ao ato sexual que se pratica intimamente com outra pessoa: é levar a cama para a praça, o que não faz o menor sentido. O que significaria, em suas consequências, exteriorizar o sexo além de denegrir totalmente a ordem do cotidiano? Tudo, naturalmente, tem seu lugar e hora para ocorrer, de modo que não faria sentido fazer sexo enquanto se faz compras, ou enquanto se trabalha, debate e reflete sobre algo.

Se a preferência sexual, de qualquer tipo, não pode e nem deve ser levada para fora de seu “formato” e lugar, então não faz sentido criar um movimento político pautado na sexualidade, até porque algo como a sexualidade não é, nem de longe, determinante para o pensamento político, ou econômico, humano – na realidade não o é em pensamento nenhum –; se expressividade sexual merece ser pauta política, ou um ato político, então não seria delirante propor protocolos sexuais para tratar de questões públicas e atividades no legislativo e executivo, uma vez que seriam tratadas como importantes o suficiente para consistirem em um movimento político, o que é inteiramente absurdo.

Sexo não é algo definitivo na definição de posições na vida das pessoas; tanto que a quantidade exorbitante de discordâncias entre pessoas que pertencem ao mesmo grupo onde se têm os mesmos padrões sexuais é oceânica. Se a vida dos homens em geral não é pautada pelo ato sexual que praticam e preferem, então um movimento que tenta construir suas bases no sexo terá problemas de consistência com aqueles de que ele próprio diz ser representante. E é exatamente isso que ocorre: o Movimento Gay, autoproclamado como o paladino da minoria sexual gay, não representa todos os gays.

Algo tão frágil e relativo, tão efêmero e sem relação com a mentalidade humana como a preferência atrativa e sexual não tem capacidade para atender uma séria e digna agenda política, caindo no paradoxo de não conseguir atender a quem se diz representante. A gravidade da falha do Movimento Gay com suas próprias propostas é tão grande que ou se cria uma minoria da minoria entre os gays – aqueles que não se identificam com o Movimento, e acabam sendo excluídos –, ferindo a própria questão da defesa de minorias, ou o Movimento se vê incapaz de representar a maioria homossexual do país, o que acarreta na total falta de sentido para a existência de um movimento que, em tese, deveria ser representante de todos os homossexuais.

O erro é tão gritante e crasso, com uma contradição tão profunda e problemática, que desfaz todo o propósito do movimento. Como pode ser representante e defensor de pessoas que o desprezam e atacam? De fato, não se pode, não há como. Existem gays que além de não concordarem com as pautas LGBT, encaram com asco as passeatas e discursos de líderes do Movimento Gay e desfazem a argumentação pró-gay.

Um grupo como esse só pode ter uma fraqueza tão grande assim por um fato já apresentado: não possuem fundamentos coerentes dentro de suas propostas, de forma que há espaço para uma hilária e intrigante realidade, a de que o Movimento Gay não é tão gay assim. Não há espaços para todos os imaginários e crenças políticas e culturais de todos os homossexuais lá, além de não existir uma possibilidade viável para tal. Faltam gays no Movimento gay, gays mais lúcidos, coerentes e sensatos, que sabem separar o íntimo do público, além de saberem propor soluções melhores para problemas como a discriminação sexual de forma melhor que colocar a sexualidade na política.

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Hiago Rebello

Hiago Rebello

Graduado e Mestrando em História pela Universidade Federal Fluminense.

4 comentários em “O Movimento Gay não é tão gay assim

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    05/11/2015 em 6:31 pm
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    Também não concordo com a maioria esmagadora das pautas do Movimento LGBT porém não consegui entender o significado de não externalizar a homosexualidade, que isso tem que ficar entre quatro paredes. Realmente não concordo. Como Liberal que sou acredito que o governo não tem que fazer nenhuma distinção entre pessoas , seja cota por ser negro , mulher ou homosexual, seja controlando o que as pessoas podem ou não tornar público. Se um casal hetero tem o direito de passear em praças públicas exercendo carinhos mútuos em expressão do seu amor um casal homo também o tem. desde que o casal seja ele qual for respeite os limites da decência(atentado ao pudor está aí para heteros e homos) Bem como em relação ao casamento. Estado não tem que meter o bedelho na escolha de cada pessoa. Tem que tem o mesmo direito aso casamento civil SIM, seja casando com pessoa do mesmo sexo ou o oposto. E governo nenhum tem nada a ver com isso!

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        11/11/2015 em 12:17 am
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        Eu já tinha lido o texto. precisei ler duas vezes para entender na verdade. Concordo quando diz que não se deve obrigar por meio de lei toda a sociedade a aceitar que X se torne Y.é como decretar que não chova as quartas feiras. Ao mesmo tempo uma sociedade justa não pode tratar diferente, um indivíduo apenas por que não concorda que ele pretenda ser Y quando deveria ser X.Nem em benefício nem em prejuízo. Meu ponto é que Um indivíduo X ou Y tem o mesmo valor, e portando devem ambos serem respeitados como indivíduos que são, apenas.

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    04/11/2015 em 12:41 pm
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    O artigo está muito bom.
    Na minha humilde visão, o título do artigo está até um pouco atenuado em relação aos verdadeiros propósitos do movimento gay. Esse movimento nada tem de gay. Ele usa os “gays inocentes úteis” como uma vertente para o divisionismo social perseguido pela esquerda. Nessa mesma linha seguem outros movimentos que não poderiam ser enquadrados como ações políticas, tais como o feminismo, o racismo, o abortismo, etc, mas que têm um cunho totalmente ideológico, sem que os indivíduos supostamente defendidos tenham ideia de que estão sendo usados. Os gays inteligentes, capazes de perceber o que subjaz ao movimento apresentado como altruísta, dele não tomam parte. Resumindo: os movimentos divisionistas são puramente ações de consolidação da ideologia de esquerda.

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