O mito da aposentadoria: o “fim” que deve ser um recomeço
DIEGO REIS*
Você está contando os anos para sua aposentaria? O que pretende fazer depois disso?
A maioria das pessoas no mundo valoriza o trabalho e encontra nele a possibilidade de ascensão social ou, pelo menos, de uma mudança nas condições de vida. No entanto, é significativo o número de indivíduos que afirma não se sentir plenamente realizado em suas atividades profissionais. Uma das questões que as mantém minimamente motivadas durante o trabalho é a idealização da aposentadoria e com ela a possibilidade de finalmente poder “descansar”.
Pois saiba que, quando se trata dos milionários, o pensamento costuma ser um pouco diferente e grande parte deles encontra nesta etapa da vida uma oportunidade de refletir e explorar novas possibilidades de trabalho. Pelo menos em se tratando dos milionários americanos entrevistados em uma pesquisa realizada pelo banco norte-americano de investimentos Merrill Lynch. O estudo foi desenvolvido em parceria a Age Wave, organização idealizada pelo geriatra Ken Dychtwald e especializada em pesquisas sobre envelhecimento.
Com o nome de “Work in Retirement: Myths and Motivations” (Trabalho na aposentadoria: Mitos e Motivações), o objetivo foi explorar os desafios e crenças comuns sobre o trabalho durante a aposentadoria, preocupações reais de um país cujo número de idosos irá superar o de jovens já nas próximas décadas.
A pesquisa revelou que três em cada quatro indivíduos em processo de aposentadoria e com idade superior a 50 anos pretende continuar trabalhando depois da aposentadoria. O estudo também mostrou que do número total de milionários pesquisados, um terço continua trabalhando mesmo com idade legal para a aposentadoria.
Os resultados podem ajudar a derrubar alguns mitos, como por exemplo, a noção de que a aposentadoria significa o fim do trabalho, que ela representa o início de um período de declínio na vida do aposentado ou que a principal razão para o trabalho é a necessidade de dinheiro.
A pesquisa foi realizada em março de 2014 e contou com a participação de mais de 7.000 entrevistados, sendo que 2.829 possuem mais de 50 anos e pelo menos US$ 250.000 em ativos de investimento (incluindo dinheiro líquido e investimentos, mas excluindo imobiliário).
No contexto brasileiro, um dos exemplos mais expressivos de que o processo de envelhecimento não precisa ser sinônimo de ociosidade é Abílio Diniz. Com 79 anos, o empresário possui uma fortuna estimada em R$ 13,8 bilhões, já fez parte do ranking da Forbes dos homens mais ricos do mundo, está entre os homens mais influentes do planeta e atualmente está envolvido na abertura de uma nova rede nacional de padarias.
Infelizmente, Abílio Diniz é uma das poucas exceções em um país onde a promessa da “estabilidade” oferecida pelos cargos públicos acaba muitas vezes ofuscando o brilho de um empreendedor em potencial. O pior é quando esse funcionário público desmotivado descobre que pode ser possível prosperar financeiramente se condescender com desvios de dinheiro e pagamentos de propina a partidos políticos corruptos. Se você está estudando para um concurso público unicamente pela promessa de “estabilidade” ou “aposentadoria segura” pergunte-se se vale a pena abrir mão do sonho de abrir seu próprio negócio para se tornar parte de uma engrenagem burocrática e ineficiente. Lembre-se que nunca é tarde para empreender, até mesmo depois da chamada aposentadoria.
* Diego Reis é empreendedor, antropólogo, designer gráfico e fundador da Croove, agência e revista eletrônica sobre design, empreendedorismo, branding e criatividade. Possui uma trajetória bastante variada e interdisciplinar: Pesquisou o consumo de produtos e serviços de luxo e as grandes marcas. Os resultados dessa pesquisa foram apresentados em sua dissertação de Mestrado em Antropologia do Consumo, pela PUCRS e motivou a criação de um site, o Luxo S/A. Atualmente seu principal objetivo tem sido compartilhar conhecimento e experiências através da docência e escrita.