O melhor e o pior do debate eleitoral
Em 16 de agosto, foi dada a largada oficial para as campanhas eleitorais no Brasil. Os candidatos já podem pedir votos e, desde o dia 26, veicular suas peças publicitárias em rádio e TV. E no último domingo, foi transmitido o primeiro debate eleitoral dos candidatos à Presidente da República. Apesar do formato engessado — por obrigações legais — , o debate ainda se apresenta, para alguns, como uma oportunidade para conhecermos um pouco mais dos aspirantes ao mais alto cargo da administração pública.
Porém, o debate eleitoral também é importante por outro motivo: ele expõe o que há de melhor e pior na democracia. Vamos a eles.
O melhor
Se tivéssemos que elencar apenas uma qualidade da democracia que a caracterize como o melhor sistema de governo dentre todos os outros já tentados, seria a possibilidade de trocar os governantes sem traumas ou derramamento de sangue.
A democracia, tal qual a conhecemos hoje, pressupõe que os governados possam escolher aqueles que representam melhor os seus interesses, sejam pessoais, de classe ou ideológicos. Essa escolha passa, necessariamente, por conhecer a “carta de intenções” dos candidatos aos cargos eletivos, por meio da exposição de suas ideias.
O debate de ideias, de alguma forma, substituiu os pleitos dinásticos ou a imposição da força física dos regimes antidemocráticos. A partir dessa premissa é que podemos concluir que o debate eleitoral é uma tentativa de ser a arena pública em que os cidadãos irão ouvir as propostas e poder escolher o candidato merecedor de seu voto.
O pior
Para quem já assistiu a algum debate eleitoral — inclusive o deste último domingo — e conhece as críticas de Hayek à democracia, já deve saber qual o pior defeito da democracia: a sua tendência de levar os piores ao poder.
Na obra O Caminho da Servidão, são-nos apresentadas as três razões para isso:
- Para angariar o maior número de eleitores, o candidato deve encontrar o “denominador comum” moral que une o maior número de pessoas. Se nas camadas mais instruídas há uma maior diversidade de valores e ideias, é nas camadas inferiores — nas quais se encontra a massa de eleitores — que se encontram os instintos mais “comuns” e valores mais semelhantes. É para esse público que o candidato deve falar.
- Grande parte da população não possui fortes convicções políticas próprias; ao contrário, está pronta a aceitar ideias e valores previamente elaborados e que lhe sejam martelados insistentemente. Daí o motivo pelo qual os políticos vivem de oferecer soluções fáceis e que falem aos “corações” dos eleitores.
- Como uma lei da natureza, é mais fácil aos indivíduos “concordarem sobre um programa negativo — o ódio a um inimigo ou a inveja aos que estão em melhor situação — do que sobre qualquer plano negativo. A antítese “nós” e “eles” parece um ingrediente essencial a qualquer ideologia capaz de unir solidamente um grupo visando à ação comum”.
Conclusão
Em tempos de redes sociais, onde as informações trafegam de forma muito mais descentralizada — em que cada indivíduo pode ser fonte de informação —, o debate eleitoral parece ser menos uma etapa do processo democrático do que um programa de entretenimento.
Se a nossa cartela de opções para o cargo de Chefe de Estado não parece ser a melhor, isso não é uma característica do Brasil apenas. A democracia é um sistema de incentivos perverso, no qual os postulantes a cargos políticos precisam de votos, não importando o quão bem fundamentada foi a escolha do eleitor.
Não fiquemos tristes; ao menos, na “grande festa da democracia” em outubro, não precisaremos empunhar armas para destituir — ou garantir — o atual ocupante dos Palácios de Brasília.