“O lado certo da História” – como a razão e o propósito moral tornaram o Ocidente grande

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Ben Shapiro — e eu — acreditamos que não vivemos em um mundo perfeito, mas vivemos, com toda certeza, no melhor que já existiu! Partindo dessa premissa, o autor best-seller, editor-chefe do Daily Wire e apresentador de um dos programas de rádio em maior ascensão nos EUA, resolveu solucionar dois grandes mistérios que nos assombram como sociedade atualmente: como chegamos até aqui? E o mais importante: Por que estamos jogando tudo isso fora?

Manifestadamente judeu, Shapiro afirma: “Acreditamos que a liberdade é construída sobre as noções complementares de que Deus criou todos os seres humanos à Sua imagem, e que somos capazes de desvendar e desbravar o mundo de Deus.” Jerusalém e Atenas, respectivamente, deram origem a essas ideias, as quais moldaram o Ocidente por 3 mil anos. Seria nossa geração a responsável por jogá-las fora?

Por meio de uma leitura cativante, Shapiro nos apresenta a história concisa da construção das ideias que moldaram a nossa civilização  desde os gregos até os defensores da Escola de Frankfurt. A seguir, tentarei reconstruir a linha de raciocínio do autor, cujos ensinamentos não têm um objetivo último senão salvar o Ocidente. Não para nós, mas para quem realmente importa: nossos filhos. Boa leitura!

A procura da felicidade

“A rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós.” -Viktor Frankl

A felicidade — mais precisamente a busca pela felicidade — volta a aparecer neste blog. Novamente, um autor afirma que para ser feliz deve-se buscar ser virtuoso e ter um propósito moral. A diferença aqui é que Ben Shapiro afirma serem necessários quatro elementos para criar esse propósito moral:

Propósito moral individual. Sem esse propósito decorrente da relação com o Criador, procuramos o sentido no mundo exterior ou nos destruímos nos baixios da libertinagem. Até Voltaire, um ateu, declarou: “Quero que meu advogado, meu alfaiate, meus criados e até minha esposa acreditem em Deus, porque isso significa que serei enganado, roubado e traído com menos frequência […] Se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo.”

Predisposição individual. Virtude e propósito não bastam. Para sermos felizes, precisamos acreditar que é possível encontrar a felicidade e que somos capazes de sermos melhores.

Propósito moral coletivo. As melhores sociedades são aquelas cujos cidadãos são virtuosos a ponto de se sacrificarem pelo bem comum, mas não admitem serem forçados ao sacrifício.

A necessidade da predisposição coletiva. A fé no poder central é o caminho para tiranias, mas a boa predisposição coletiva concebe um governo capaz de impedir ameaças externas sem, com isso, castrar os indivíduos.
A felicidade para Shapiro é a fusão desses elementos. O Ocidente foi erguido sobre eles quando a razão de Atenas e a divindade de Jerusalém se fundiram. Porém, estamos nos esquecendo desses valores, ridicularizando-os e levando nossa civilização à ruína. Os mesmos líderes ocidentais que avocam para si os “valores ocidentais” são contumazes em atacar as raízes desses valores — não raro, tratam religiosos como ignorantes intolerantes.

Jerusalém e Atenas

A Razão pode nos ensinar a não sermos ruins. Contudo, é a Revelação que nos ensina a sermos bons. Ela nos ensina quais valores devemos ter, quais virtudes devemos cultivar, o que Deus espera de nós. A Revelação é necessária para que transcendamos o reino dos medíocres.

Mas isso não basta! A tradição bíblica não enfatiza a capacidade das pessoas de raciocinar, a priori, pois a revelação está acima da razão. Porém, ela não é suficiente, uma vez que a alma busca o divino por meio da razão. Eis a importância de Atenas.

A primeira contribuição dos gregos antigos foi a filosofia da lei natural, a qual afirmava que a natureza — ou o Deus por trás dela — tinha um propósito, um télos. O valor de um objeto está na capacidade de atingir esse télos. Logo, o que torna um homem virtuoso é sua capacidade de se dedicar à atividade que faz dele um homem: raciocinar.

O nascimento do cristianismo representou a primeira tentativa real de fundir o pensamento judaico com o grego. Enquanto o cristianismo se parece com o judaísmo em sua visão de Deus, ele é muito mais grego quanto à sua universalidade. Enquanto os mandamentos do judaísmo são complexos, na cristandade basta crer. Deus, assim, se tornou acessível a todos.

Deus está morto

A partir daí, Shapiro discorre sobre a história do cristianismo, apresentando como ele se disseminou e saiu vitorioso no debate de ideias — filosóficas e científicas. Aliás, ao contrário da propaganda de um movimento ateísta pós-moderno, quase todos os grandes cientistas até a era do adventismo eram religiosos. A era do progresso científico
não começou no Iluminismo, mas nos mosteiros medievais.

Essa jornada culminou no primeiro país a ser erguido com base na filosofia: os EUA. A filosofia dos Pais Fundadores, afirma Shapiro, é a maior bênção para a humanidade em toda a história; mas estamos decadentes, e os alicerces da felicidade humana estão sendo erodidos.

A explicação dada pelo autor para essa mudança foi o afastamento de Deus das balizas morais. Maquiavel foi o primeiro a romper com essa moralidade. Sua virtù não é a virtude aristotélica. Depois dele, vieram Hobbes, Spinoza, Voltaire, Kant, Bentham. Todos assumindo que a razão poderia construir a moralidade a partir do zero. Já o darwinismo — e a biologia evolucionária — permitiu o surgimento de uma teoria unificadora sobre a vida: acidente.

Não demorou para que a humanidade fosse equiparada aos animais e finalmente pudesse se libertar das amarras do divino.

O mundo hoje

“A febre da autoestima mudou a forma como inúmeras organizações são geridas, como toda uma geração — os millenials — foi educada, e como essa geração passou a se perceber (bem mimada).” – Jesse Singal

A substituição de Deus simplesmente daria azo ao surgimento de verdadeiras utopias: a do nacionalismo, a da igualdade, a da burocracia. Enquanto os iluministas franceses afastavam Deus e suprimiam o indivíduo, acreditavam demais nos coletivos e no Estado formado por eles.

Na Segunda Guerra Mundial, as grandes visões coletivistas do mundo entraram em conflito direto e mataram entre 50 e 80 milhões de pessoas. Aquela esperança do Iluminismo sem Deus e sem télos era uma farsa. Alguns ainda mantiveram a esperança no experimento soviético, mas, com as revelações dos crimes de Stalin, ela também desapareceu. De súbito, o Ocidente estava em crise.

O que a substituiria agora? Sem Deus e sem o coletivo, só restavam os indivíduos. Sozinhos! Assim, veio à tona a filosofia do existencialismo. Kierkegaard e Sartre postularam que a verdade é subjetiva: não há o bem ou o mal. Sigmund Freud acreditava que não somos verdadeiramente livres. Os cientistas começaram a argumentar que a capacidade de livre escolha era falsa. Somos criaturas de prazer e de dor, animais enraizados na biologia, respondendo a estímulos.

Do outro lado do Atlântico, surgia uma esquerda que não aceitava que os EUA capitalistas fossem capazes de formar uma sociedade mais culta e tolerante. Para os membros da Escola de Frankfurt, a classe média seria composta por hipócritas, pois, se o marxismo não triunfou em uma sociedade, só poderia significar que ela é composta por fascistas ou consumidores medíocres.

Para Marcuse, a solução estava na completa rebelião — no sexo, na arte, no trabalho. São as raízes da libertação sexual, do vitimismo e do politicamente correto. Os efeitos reais dessa cultura não são gerações de pessoas plenas, mas obcecadas por si mesmas.

Conclusão

“A liberdade nunca está a mais do que uma geração do precipício. Não a passamos para nossos filhos na corrente sanguínea. Deve-se lutar por ela, resguardar e a entregar a eles para que façam o mesmo, ou passaremos a velhice dizendo aos nossos filhos, e aos filhos deles, como os EUA eram quando os homens eram livres.” – Ronald Reagan

Shapiro afirma que, se desejamos que nossa civilização sobreviva, devemos estar dispostos a ensinar nossos filhos. A única maneira de protegê-los é torná-los guerreiros, mensageiros das verdades relevantes. Isso é arriscado, mas um risco que devemos estar dispostos a correr.

Ensinamentos de Shapiro a seus filhos:

Sua vida tem um propósito. Você foi feito para usar a razão para descobrir um objetivo por meio da investigação da natureza. Isso inclui defender os direitos individuais e tornar-se virtuoso.

Você é capaz. Você não é vítima. Olhe para o próprio umbigo antes de culpar a sociedade. E, se a sociedade violar os direitos individuais, é seu trabalho reformá-la.

Sua civilização é única. O que você recebeu é único na história da humanidade. Maravilhas conquistadas com suor e sangue. Seja grato por elas — e as defenda.

Somos todos irmãos. Nossa causa comum é uma civilização repleta de propósitos — coletivos e individuais —, e que celebra as predisposições — individual e coletiva. Portanto, devemos compartilhar as mesmas definições de liberdade e de virtude.

Nosso trabalho é continuar a tradição, levar a tarefa adiante. Se o fizermos, seremos merecedores das bênçãos de Deus e aptos a proclamar a liberdade por toda a Terra a todos os seus habitantes. Nós escolheremos a vida, para que nós e nossos filhos possamos viver.

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Tiago Pedreiro de Lima

Tiago Pedreiro de Lima

Formado na AMAN em 2005, Mestrado Profissional pela EsAO em 2015 e Curso de Altos Estudos Militares em 2021. Especializado em Logística e defensor das ideias da liberdade. As opiniões aqui emitidas são estritamente pessoais e não refletem a posição do Exército.

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