O governo Bolsonaro deve ser defendido
A melhor maneira de defendê-lo é criticá-lo. Ninguém melhora sem a crítica constante, racional, embasada e sincera.
No governo Bolsonaro há todo tipo de gente, desde reacionários empedernidos até idealistas libertários. Certamente há coletivistas estatistas em todos os escalões do governo, são esses que Bolsonaro precisa neutralizar.
Não é hora de abandonar o governo, mesmo que ele incorra em erros e frustre as expectativas de quem acha que seria fácil diminuir o Estado paquidérmico para transformá-lo em uma jaguatirica ágil e dócil.
A coisa é demorada. Eu mesmo estou angustiado. Mas o governo é um transatlântico e não um jetski. As manobras são lentas e leva tempo para dar a volta de 180 graus que esperamos.
Não é hora de deixar o governo na mão, mas de apoiá-lo e criticá-lo esperando que a crítica sirva de contribuição para que o rumo tomado se mantenha em direção do que achamos certo.
Não é hora de isentões, esses que aplaudem incondicionalmente sem mostrar ao governo quais os erros que ele vem cometendo. Nem é hora de chutar o balde infantilmente como quem só brinca se puder ditar todo o contexto.
Existem forças ocultas e forças explícitas lutando pelo controle e hegemonia dentro do governo; restará aquele que está de olho no longo prazo, coisa a que liberais estão acostumados, pois esperaram décadas para verem suas ideias serem finalmente consideradas.
É possível até que, ao final, pouco ou nada seja obtido em termos práticos, mas ter as ideais liberais no cardápio é algo que até pouco tempo atrás era impensável.
Liberais não são isentões. Nós liberais defendemos o indefensável há gerações.
Quando somos ouvidos, a sociedade prospera. Quando somos desdenhados, a sociedade empobrece. A história prova que eu estou certo.
Liberais não são revolucionários que querem mudar o mundo por decreto. Nossa revolução é capitalista, logo ela é pacífica. Queremos que o governo se retire gradualmente para que a sociedade se organize espontaneamente.
Cabe ao governo apenas manter a lei e a ordem. Não leis subjetivas ou positivistas. Tampouco a ordem de cima para baixo. Cabe ao governo apenas proteger os indivíduos para que eles interajam num ambiente de livre mercado, ou seja, o mercado livre da violência.
A Inglaterra levou séculos entre a Carta Magna e a Revolução Industrial. Foi necessário criar uma cultura individualista para a qual contribuíram pensadores como John Locke, entre inúmeros outros.
Os Estados Unidos levaram séculos entre a formação das 13 colônias e a Declaração de Independência. Lá, foi decisiva a participação de gente como Thomas Jefferson, John Adams e James Madison. Pensadores que, mesmo divergindo em muita coisa, defendiam acima de tudo a liberdade individual e a propriedade privada. Divergiam, mas tinha um ponto em comum, a construção de uma sociedade de indivíduos livres e independentes.
Os avanços no Brasil só serão possíveis quando o espírito coletivista estatófilo for mitigado e os indivíduos tiverem reconhecidos seus direitos inalienáveis.
Não existe o que se conservar atualmente no Brasil. É preciso antes, mudar o ambiente hostil às ideias liberais.
Quando as pessoas se conscientizarem que quem move o mundo é o empreendedor criativo e inovador e que o governo nada cria, sendo seu papel o de proteger da violência quem empreende e quem cria, então podemos bater nas costas dos conservadores para dizer-lhes, tomem a frente, agora há o que ser conservado.
Para finalizar, não confundam as ideias liberais que forjaram o desenvolvimento anglo-americano com as que vingaram na França a partir do pensamento rousseauniano e racionalista enciclopédico.
A diferença entre essas duas escolas é abissal. Quem quiser transitar de uma para a outra, como se não houvesse diferença entre elas, cairá no abismo que as separa.
O Brasil sempre foi influenciado pelo pensamento continental europeu. Aqui, os intelectuais e filósofos sempre tiveram Paris como Meca. Péssima escolha.
Precisamos nos familiarizar com as escolas filosóficas que deram certo.
Esse deve ser o grande objetivo dos liberais no governo, arejar as mentes e transformar o ambiente no Brasil para que possamos concretizar nosso desejo de viver em uma sociedade civilizada e próspera de fato.