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O crescimento chinês e a importância do soft power

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Assim como eu, você já deve ter ouvido frases como estas: “em breve a China irá passar os EUA”; “estude mandarim, vai precisar dele quando a China for a maior potência”; “em breve a China dominará o mundo”. Claro que é plenamente compreensível acreditar nisso. A China tinha taxas de crescimento muito estonteantes, no começo da década passada chegou a ultrapassar o Japão em PIB e militarmente é possível afirmar que a China é o país com mais soldados disponíveis no mundo. Porém, dominar o mundo não se resume somente a poderio militar e uma economia em alto crescimento.

Grande parte do sucesso de grandes potências mundiais vem de um fator amplamente ignorado em várias linhas, o poderio cultural, também usado no termo em inglês “soft power”. O soft power pode ser entendido como a capacidade de um país produzir elementos em sua cultura que sejam capazes de influenciar pessoas, sociedades, países vizinhos ou distantes. Sem ele, nenhuma das grandes potências da história humana se estabeleceu como uma potência capaz de perdurar na história da humanidade. Quem joga o clássico de estratégia Civilization sabe da importância do soft power no jogo: se você tiver um fluxo cultural imenso, pode conquistar cidades de impérios vizinhos sem mover uma única tropa, pois a cidade se revoltará e entrará para o seu império por livre e espontânea vontade. Claro que no mundo real isto não ocorre de forma tão simplificada, porém quando uma determinada sociedade se afeiçoa à cultura de um outro país, as chances de queda desta potência caem exponencialmente.

Muitos historiadores apontam que a redução do soft power do Império Romano pela constante descaracterização de suas instituições foi um player muito relevante para a queda do Império, visto que a poderosa cultura greco-romana se tornava cada vez mais celta e consequentemente similar aos povos invasores do Império ao final do Século V.

E, quando se trata de soft power, a China não é uma referência na área. Nesse campo, a China atua com uma baixíssima influência, não conseguindo nem mesmo realizar um trabalho de expansão da cultura dentro de sua nação. Os exemplos aparecem em seus inúmeros territórios em constante rebelião com o governo central de Pequim. Taiwan nunca foi influenciada pela China Continental, desenvolvendo a si mesma como uma alternativa cultural chinesa na ilha; Hong Kong segue influenciada pela cultura britânica, uma das maiores, senão a maior, dos soft power da história humana; até mesmo Macau, região que pouco aparece nos noticiários, tem mais relações com Portugal que com Pequim; sem falar no Tibete, região em constante disputa cultural com a China (que chegou ao ponto de o governo central proibir a reencarnação do Dalai Lama em território chinês) e o recente genocídio uigur, na tentativa de suprimir a ascensão do nacionalismo da etnia no país.

Exemplos de péssimos administradores do soft power existem aos montes na história humana, sendo talvez o mais notório o caso da Alemanha Nazista, que, desfrutando das mesmas disposições que hoje a China tem, nem sequer conseguiu administrar suas influências fora das regiões germânicas e ainda perdeu regiões históricas do país para países vizinhos que superaram rapidamente a cultura alemã pela sua própria, como no caso de Kaliningrado, antigamente Koningsberg, cidade onde nasceu o filósofo alemão Immanuel Kant, hoje uma cidade que não relembra em nada o passado prussiano.

Na região da Ásia, a China atua com força ainda menor que internamente. O Vietnã, país nascido de clara inspiração na política maoísta, hoje é um dos países menos amistosos à China, entrando até mesmo em litígio territorial com os chineses. Já nações de alto poderio econômico como Coreia do Sul e Japão dão um banho de administração do uso do soft power. A recente ascensão do k-pop na cultura ocidental não é usada como propaganda e produto de exportação da Coreia do Sul à toa, e a recente premiação do Oscar para o filme “Parasita”, o primeiro filme estrangeiro a ganhar como melhor filme na história da premiação, mostra ser mais fácil você começar a falar coreano do que o mandarim num futuro próximo.

No caso do Japão, desde os anos 80, com a invasão dos eletrônicos, jogos, animes, músicas e até mesmo a culinária, o país demonstra sua força e soft power, e mesmo assim alguém raramente ouviu falar sobre “aprender japonês, pois no futuro será fundamental”.

Apesar de a China ser uma potência militar e econômica, acredito que ela não irá exercer a dominância que estão esperando sobre o mundo pela sua dificuldade em exercer influência no campo cultural. Enquanto a doutrina maoísta negligenciar o papel da cultura, o mundo não será “dominado” pela China.

*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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